Hospital NotreDame Intermédica Jacarepaguá, na Zona Oeste do RioReprodução/Google Maps

Rio - Outras duas mulheres denunciam o Hospital NotreDame Intermédica Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, por negligência no atendimento da maternidade da unidade, resultando na morte de dois bebês recém-nascidos. Essa mesma unidade está sendo denunciada pela jovem Gleice Kelly, de 24 anos, que teve a mão e o punho esquerdos amputados após dar à luz, no dia 9 de outubro do ano passado. 
Ana Beatriz Rangel, de 22 anos, deu à luz ao seu primeiro filho no dia 23 de setembro de 2020. O pequeno Enzo nasceu saudável, mas poucas horas depois começou a apresentar sinais roxos pelo corpo. "Ele nasceu bem, chorando, mexendo, tudo normal. No dia seguinte ao parto meu filho ficou com o pé roxo e não respondeu mais. Chamamos os médicos às 8h para avisar, e nos pediram para cobrir ele pois era frio. Cobri com três mantas e ele foi ficando cada vez mais roxo", conta.
Somente às 16h a médica retornou ao quarto e, ao ver que a piora no quadro de saúde da criança, o levaram para a UTI neonatal. 
"Lá ele fez todos os exames possíveis e, segundo eles, nenhum deu alteração grave. Mas meu filho ficou oito dias internado e não fizeram nada pela melhora dele. Com sete dias de internado falaram que o respirador que estava nele estava fraco e que não poderia aumentar. Só que um dia depois aumentaram, levando ele à morte", conta Ana. Enzo faleceu após duas hemorragias pulmonares e quatro paradas cardíacas, no dia 1º de outubro de 2020. Ainda de acordo com a mãe da criança, o prontuário foi rasurado, informando que uma ultra de pulmão feita no recém-nascido não havia dado alteração. 
Dois anos depois do ocorrido, ela tomou conhecimento de um outro caso de possível negligência do mesmo hospital e resolveu denunciar. "Eu fiquei tão desnorteada na época que eu não levei para frente. Eu só quis sumir daquela maternidade, mas também achei que só tivesse acontecido comigo. Eu não quis mexer na situação porque me machucava, mas hoje em dia estou mais tranquila para buscar justiça", diz.
Grávida do segundo filho, Ana Beatriz afirma que terá o parto na Maternidade Municipal Leila Diniz. 
Mais uma mãe denuncia negligência do hospital
O caso da Gabriela Marques Araújo, de 27 anos, é semelhante ao da Ana Beatriz. A mulher havia planejado nos mínimos detalhes a chegada do pequeno Gustavo na maternidade do Hospital NotreDame Intermédica Jacarepaguá, mas o sonho terminou em pesadelo. O caso aconteceu em janeiro de 2022.
"Meu filho nasceu bem, saudável. Logo depois do parto eu fui levada para o quarto e depois de algumas horas, ainda grogue da anestesia, vi que meu filho estava desconfortável. Meu marido chamou logo a enfermeira, mas demorou muito tempo para que alguém aparecesse. Quando um profissional do hospital chegou meu filho já estava todo roxo e precisava ser encaminhado à UTI neonatal do hospital", lembra Gabriela.
No entanto, a mãe de primeira viagem foi informada que a unidade estava sem ambulância e que a UTI ficava em um prédio ao lado do que ela estava. O pequeno Gustavo, com horas de vida, teve que ser levado nos braços do pai, a pé, até a UTI. "O desconforto respiratório evoluiu para hipertensão pulmonar, essa espera dentro do quarto foi muito ruim, lembro que chamei diversas vezes a enfermeira, mas não apareciam, até passavam perto do quarto, mas não davam atenção. Toda a conduta foi muito complicada. Para verificar a pressão, por exemplo, eles faziam com aqueles aparelhos que a gente compra pra usar em casa, de punho. Não era profissional. Esqueceram até de me dar remédio", denuncia Gabriela. 
Gustavo nasceu no dia 4 de janeiro de 2022 e faleceu dois dias depois. Ambos os casos foram registrados na 41ª DP (Tanque) e são investigados como homicídio culposo. O caso mais recente, da jovem Gleice Kelly, também está sendo investigado pela mesma distrital, mas está sendo tratado como lesão corporal culposa.
Ana Beatriz e Gabriela se uniram no ano passado para denunciar o hospital e, agora com a denúncia de Gleice Kelly, elas afirmam que estão dispostas a testemunhar a favor da jovem. As mulheres procuraram a advogada Monalisa Gagno, que defende a jovem de 24 anos, e suspeitam que outras mães também foram vítimas da negligência do hospital.
Mulher que teve mão amputada retorna à hospital
Nesta quarta-feira (18), Gleice Kelly retornou ao Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá para se encontrar com uma representante da unidade. No entanto, de acordo com a advogada que cuida do caso, o encontro foi apenas para que a representante pudesse coletar informações sobre o ocorrido. O caso segue em investigação.
O que diz o hospital
Procurado, o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá informou que está preparando uma nota para estes dois casos citados na reportagem.
Anteriormente, em nota enviada ao Dia, o hospital se pronunciou sobre a denúncia de Gleice Kelly. A unidade disse que "está totalmente solidário com a vítima, e lamenta profundamente o ocorrido. Reitera o empenho em apurar com toda seriedade, transparência e atenção os procedimentos médicos e hospitalares adotados durante seu atendimento. Para tanto, solicitou ao Comitê de Ética Médico a coordenação desses trabalhos. Independente de tal apuração, o hospital vem mantendo contato com a paciente e seus representantes para prestar todo acolhimento possível e atender suas necessidades, assim como se mantém à disposição para que todos os esclarecimentos necessários sejam realizados."