Familiares do Paraquedista morto por um PM estiveram no IML para reconhecimento do corpo. Na foto: André Luiz (pai do paraquedista ) Foto: Marcos Porto/Agência O DiaMarcos Porto/Agencia O Dia
Publicado 31/01/2023 10:40
Rio - "Meu filho não sacou, não mostrou e não apontou arma para ele", desabafou André Luiz, pai do soldado paraquedista Alesson Guilherme Gomes de Santana, de 25 anos, morto na manhã da última segunda-feira (30), após ser baleado nas costas por um policial militar, durante uma discussão, na saída de uma boate, em Bangu, Zona Norte do Rio. Familiares da vítima estiveram no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, nesta terça-feira (31) para realizar os trâmites legais e liberar o corpo do jovem.

O pai questionou a ação do policial que efetuou os disparos alegando legítima defesa. Para André, o filho não apresentava perigo ao agente e, como não apontou nenhuma arma na direção do PM, deveria ter sido preso ao invés de baleado.

"No meio da discussão, meu filho foi até um amigo e pegou uma réplica que tinha. Ele lá, à distância, viu meu filho colocando a arma na cintura e deu a sequência de tiros. Meu filho não sacou, não mostrou e não apontou arma para ele. Ele poderia ter feito a abordagem, desde o momento que meu filho botou a arma na cintura, ele poderia ter abordado meu filho e dado voz de prisão", desabafou.


A opinião do pai é de que faltou preparo ao policial, que não poderia ter atirado sem antes averiguar a situação e abordar o paraquedista.

"Ele poderia fazer qualquer coisa, menos ter atirado, mas não, ele deu dois tiros na direção do meu filho e dos amigos. Meu filho se esquivou, virou de lado e ele deu o terceiro, o quarto e o quinto tiros, até que, um deles, acertou meu filho no tórax, pelas costas. Isso para mim é um despreparo porque ele é um policial", apontou.

Muito comovido, Luiz falou que o filho tinha planos para continuar a carreira militar, acatando ao pedido do pai, e estava se preparando para o concurso do Corpo de Bombeiros

"Meu filho ia fazer 26 anos. Duas semanas antes, ele, que é surfista e amava surfar, socorreu duas vítimas que estavam se afogando, no Recreio. Então eu pedi a ele que desse continuidade na vida militar e, como o tempo dele como paraquedista estava acabando, pedi que fizesse o concurso dos bombeiros. Ele já tinha feito a inscrição e já estava começando a estudar e se preparar", relatou.

O pai da vítima terminou seu desabafo destacando o quanto Guilherme era um rapaz trabalhador, que se esforçava em mais de uma profissão para ganhar na vida.

"O meu filho era trabalhador, começou a trabalhar com 11 anos, matando galinha em um aviário. Eu não tenho palavras para descreve-lo, ele era tudo para mim. Ele sempre ajudava a todos, não sabia dizer não. Era um rapaz que nunca dizia não. Ele aprendeu a fazer refrigeração com meu irmão, saía do quartel e ia trabalhar com meu irmão. Ele sempre foi trabalhador", finalizou.

O corpo do rapaz será enterrado às 9h de quarta-feira (1°) no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio.

De acordo com informações iniciais, a confusão começou depois que o paraquedista urinou no carro do policial militar Vinicius de Carvalho Serrão, que estava de folga.

O dono de veículo flagou a atitude do rapaz e os dois discutiram. Segundo o autor dos disparos, ele foi ameaçado por Guilherme com um simulacro de pistola.

Em depoimento, o PM disse que reagiu à ameaça por achar que a arma era de verdade. Após ferir o soldado, Vinícius acionou o Corpo de Bombeiros, que socorreu a vítima ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste, onde veio a óbito.

Policiais do 14º BPM (Bangu) também foram acionados para verificar a entrada do militar na unidade de saúde e constataram o fato. Na ação, eles apreenderam o simulacro de pistola.

A 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) acompanha a ocorrência. O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que realiza diligências e analisa imagens de câmeras para descobrir as circunstâncias do caso.

O autor dos disparos foi encaminhado por policiais militares à delegacia, onde foi preso por homicídio.
Procurado, o Comando Militar do Leste (CML), autoridade superior do exército no Rio, divulgou um comunicado se solidarizando com a família da vítima e informando que está auxiliando os parentes. 
"A Seção de Comunicação Social do Comando Militar de Leste informa que na madrugada do dia 30 de janeiro de 2023, o Soldado ALESSON GUILHERME GOMES DE SANTANA, incorporado em 1 Mar 2016, veio a óbito após ter sido baleado na saída de uma boate em Bangú-RJ.

Cabe ressaltar que a responsabilidade pela apuração do fato é de competência dos Órgãos de Segurança Pública.

O Comando Militar do Leste apresenta as condolências à família enlutada e informa que esta prestando todo apoio necessário", disse em nota.
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