Publicado 08/02/2023 13:22
Rio - A família da menina de 2 anos que morreu soterrada no Morro da Chácara do Céu, no Alto da Boa Vista, Zona Norte do Rio, durante o temporal desta terça-feira (7), havia se mudado para o local do desabamento há menos de uma semana. A vítima vivia com o pai e a mãe em outro ponto da comunidade, mas passou a morar na residência onde a tragédia aconteceu no último sábado (4). Apesar dos esforços dos moradores e do Corpo de Bombeiros no resgate, Aylla Sophia foi encontrada sem vida.
Nascido e criado no Morro da Chácara do Céu, Bruno Ferreira Lopes, 38, contou que ouviu um estrondo no momento em que a casa onde menina estava desabou. Vizinhos alertaram que uma criança estava soterrada e começaram a retirar os escombros, mas não conseguiram salvar a menina. O Corpo de Bombeiros foi acionado para o local às 19h58, entretanto, quando encontraram a vítima, ela já estava morta. Segundo o homem, os moradores não esperavam a força da chuva.
"Houve essa chuva forte e veio essa fatalidade. Ninguém da comunidade estava esperando, então, a comunidade toda se mobilizou para poder ajudar no resgate, fizemos o que pudemos fazer e não conseguimos, mas Deus sabe de todas as coisas. A gente está muito abalado com tudo isso, uma criancinha. Ela morava em outro ponto da comunidade, se mudou no sábado, ela (a mãe), o esposo e a filha", lamentou Bruno.
De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio, ontem foram acionadas 113 sirenes em 69 comunidades, incluindo a da Chácara do Céu, às 19h50. Em entrevista ao 'BDRJ' da TV Globo, o prefeito do Rio destacou a importância dos moradores ficarem atentos às sirenes. Eduardo Paes explicou que, toda vez que ocorre acionamento, é porque há riscos calculados, mesmo que baixos, e por isso a população deve se proteger.
"A gente quer reiterar que, quando as pessoas ouvirem as sirenes nessas comunidades que nós temos sirenes, quando ela toca, ela não toca por uma vontade, a gente olha para o céu e vê que está chovendo muito, a gente toca combinando dados, você tem lá o pluviômetro, perspectiva de chuva, radar e, a partir daí, a gente alerta as pessoas. A maior parte das vezes que a sirene tocar, nada vai acontecer, mas, às vezes acontece", ressaltou Paes.
As favelas de Manguinhos e Jacarezinho, na Zona Norte, foram as mais afetadas pelo temporal. "Quem estiver em área de risco, a coisa da sirene ajuda muito. Repito, na maior parte das vezes, a sirene vai tocar e nada vai acontecer, isso acaba tirando um pouco da credibilidade da sirene. Mas, você está em risco na hora que a sirene estiver tocando, por menor que o risco seja, ele existe e ele vai contra a vida das pessoas", continuou o prefeito.
Morador do Morro do Cruz, próximo de onde a tragédia aconteceu, Vagner de Oliveira, de 38 anos, contou que um projeto social atende crianças de 6 a 17 anos e idosos em um local onde há uma pedra que ameaça cair. Ele teme que ela se solte no momento em que as atividades estejam acontecendo, podendo provocar novas mortes na região.
"Isso aqui está uma verdadeira calamidade. Nós já pedimos ajuda ao poder público, à Defesa Civil, à Geo-Rio para que eles viessem aqui. Eles estiveram aqui, sendo que, infelizmente, as coisas não dão tempo. Então, eu faço um apelo ao poder público, que venham olhar aqui a nossa comunidade, que venham fazer as reformas necessárias para que fatalidades não venham a acontecer e não venham ser feitas novas vítimas. Imagina se essa pedra rola em meio ao projeto acontecendo? Nós não temos estruturas para suportar uma pedra dessa. Isso poderia ser evitado. Infelizmente, o poder público só acorda quando a fatalidade acontece", lamentou.
Ainda de acordo com ele, os vizinhos também têm medo de que novos deslizamentos aconteçam na comunidade, porque outras pedras estão escoradas apenas em árvores e podem se desprender a qualquer momento e atingir casas. "Nós temos algumas casas ao redor e as pedras em cima, escoradas por árvores. Nós sabemos que mais cedo ou mais tarde, isso vai vir abaixo. Vamos lá, poder público. Vão esperar outras vítimas, mães, pais, famílias se desfazerem assim de uma forma trágica, como a família que se desfez ontem, com uma criança vitimada? Tem que tomar ciência, para que piores coisas não venham a acontecer", desabafou Vagner.
Ainda segundo o prefeito, a Defesa Civil municipal atendeu 79 ocorrência relacionadas as chuvas. "A quantidade de soluções que a cidade demanda, a gente não vai conseguir fazer tudo. É obrigação do poder público fazer, mas tem muita intervenção na Zona Oeste, na Zona Norte, acontecendo, para fluir melhor, ajeitando rios, desocupando áreas de rios. A gente espera que com a volta do programa Minha Casa Minha Vida, a gente volte a ter alternativa de habitação para a população que acaba tendo que ir para essas áreas de risco".
Ainda não há informações sobre o sepultamento de Aylla. "Era muito extroverdida a menina e hoje a gente está com essa estrelinha no céu. É muito difícil estar falando, porque ali na hora do resgate, a gente estava torcendo. (...) Hoje é um sentimento de muita dor, não só para mãe e para o pai, mas para a gente da comunidade também. É uma criança, fica nossa dor", disse Bruno.
Cariocas que precisarem sair de casa hoje devem ficar atentos, porque àreas de instabilidade em altos e médios níveis da atmosfera vão continuar influenciando o tempo. Há previsão de pancadas de chuva moderada a forte para o período da tarde. Com céu variando entre nublado e parcialmente nublado e ventos fracos a moderados, as temperaturas estão em declínio, com mínima de 19°C e máxima de 29°C.
"É importante que as pessoas fiquem atentas, evitem deslocamento na hora da chuva forte. Não adianta insistir, não adianta tentar ficar furando bolsão d’água, melhor ficar onde está, vai para um local seguro, evitar deslocamento nessas horas. Infelizmente, a chuva acaba acontecendo sempre no horário da saído do trabalho, é uma característica do verão, desse período do ano. É importante estar atento a isso", completou o prefeito do Rio.
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