Publicado 17/02/2023 11:39
Rio - Personalidades do Carnaval lamentaram, nesta sexta-feira (17), a decisão da Justiça de proibir a presença de crianças e adolescentes nos desfiles das escolas de samba das divisões do acesso devido ao risco de tiroteio na Avenida Ernani Cardoso, próximo ao Morro do Fubá, entre Campinho e Cascadura, na Zona Norte. Para o comentarista e carnavalesco Milton Cunha, as crianças estão pagando por um problema do Estado.
"A bala perdida e o tiroteio são um problema da cidade e não das crianças. É claro que temos que protegê-las, mas os adultos também, né? Nesse caso, teria que acabar logo com o desfile nesse lugar, porque em nome do problema da cidade que é a violência não se proíbe só as crianças, estão todos expostos. E assim as crianças acabam pagando por um problema do estado que não consegue equacionar o tiroteio", lamentou.
O comentarista explicou ainda que os desfiles são um aspecto cultural e as escolas de samba são transmissão de saberes e afetos.
"Você tem ali famílias com seus filhos e netos nas quadras, nos desfiles, e aí você vai educando e transmitindo valores e senso de pertencimento e sociabilidade. Além disso, essas crianças tem que ter a presença do responsável, elas desfilam com aquele crachá, e é tanta coisa circundando a segurança, que a única coisa que eu vejo que não tem como contra argumentar é o horário, que são as escolas que desfilam muito tarde e as crianças tem que está lá no horário, mas as escolas obrigam que elas estejam no colégio, que tenham boas notas, então tem todo um cerco sobre isso, não é uma coisa que só pega uma criança, joga ali, dar fantasia e desfila, aquilo dá um trabalho enorme de muito cuidado. Então é seguro, é controladíssimo, e quando você ver a ala das crianças você tem a noção do tempo, porque vem a velha guarda, as baianas, a bateria, e depois as crianças, e é essa linha do tempo da vida é muito importante no desfile. Então concordando que algumas são muito tarde, é uma perda cultural enorme, porque elas são muito bem cuidadas", disse.
"A bala perdida e o tiroteio são um problema da cidade e não das crianças. É claro que temos que protegê-las, mas os adultos também, né? Nesse caso, teria que acabar logo com o desfile nesse lugar, porque em nome do problema da cidade que é a violência não se proíbe só as crianças, estão todos expostos. E assim as crianças acabam pagando por um problema do estado que não consegue equacionar o tiroteio", lamentou.
O comentarista explicou ainda que os desfiles são um aspecto cultural e as escolas de samba são transmissão de saberes e afetos.
"Você tem ali famílias com seus filhos e netos nas quadras, nos desfiles, e aí você vai educando e transmitindo valores e senso de pertencimento e sociabilidade. Além disso, essas crianças tem que ter a presença do responsável, elas desfilam com aquele crachá, e é tanta coisa circundando a segurança, que a única coisa que eu vejo que não tem como contra argumentar é o horário, que são as escolas que desfilam muito tarde e as crianças tem que está lá no horário, mas as escolas obrigam que elas estejam no colégio, que tenham boas notas, então tem todo um cerco sobre isso, não é uma coisa que só pega uma criança, joga ali, dar fantasia e desfila, aquilo dá um trabalho enorme de muito cuidado. Então é seguro, é controladíssimo, e quando você ver a ala das crianças você tem a noção do tempo, porque vem a velha guarda, as baianas, a bateria, e depois as crianças, e é essa linha do tempo da vida é muito importante no desfile. Então concordando que algumas são muito tarde, é uma perda cultural enorme, porque elas são muito bem cuidadas", disse.
A Superliga Carnavalesca informou que recorreu a decisão da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital, mas segundo a organização, ainda não tiveram nenhuma resposta sobre o recurso. O Tribunal de Justiça do Rio, alegou, no entanto, que até a manhã desta sexta (17), não há registro de recurso impetrado no Plantão Judiciário do TJRJ.
A presidente da Rosa de Ouro, escola da série Prata, e coordenadora da ala de passistas da Portela, Nilce Fran, também lamentou o caso e comentou sobre todo trabalho que tem sido feito com os menores ao longo do ano.
"Eu tenho trabalho intenso com as crianças, adolescentes e pais, é um trabalho social, familiar, onde temos um convívio diário, 365 dias do ano, de cuidado com eles, preocupação com a escola e que elas tenham um convívio digno. Nós passamos o ano ensaiando, fazendo palestras, conversando, ajudando no dia a dia, não é só samba, não é só Carnaval, não é só batucada, é sociocultural, nós estamos juntos no dia a dia da escola, na primeira comunhão, na beira do leito quando elas estão mal da saúde, ensaiamos o ano inteiro para que elas tenham um preparo físico, que saibam o tempo de respiração, que se alimentem", afirmou.
Nilce comentou que entende a preocupação com as crianças, mas reforçou que adultos e idosos também estão expostos a violência, e que por isso não faz sentido a proibição.
"Eu sinceramente não acredito que os órgãos responsáveis não estejam se preparando para levar toda uma população para Ernani Cardoso, que não recebe só crianças e adolescentes, têm pais, idosos, adultos que também merecem preocupação, porque uma bala perdida não escolhe quem atingir. E outra coisa, as crianças não podem desfilar e as que vão a passeio, também vão proibir? Como vai ser isso?", questionou.
A presidente da Rosa de Ouro ainda fez uma apelo para a juíza e reforçou que as crianças não podem ser penalizadas dessa forma.
“Estamos suplicando a juíza que ela reveja com carinho, eu estou desde o dia que se soube dessa decisão sem dormir, meu telefone não para, as crianças estão tristes, sofrendo, porque perigo elas correm desde momento que pisam no portão e às vezes até dentro de casa. Com todo respeito e carinho eu só penso que a juiz reveja, porque a escola de samba é muito mais sério do que todo mundo acredita, é aqui na Rosa de Ouro, mas falo de Portela que é minha casa, as crianças têm reforço escolar, dentista, psicólogo, toda uma ajuda de convivência diária, somos uma família, eu me preocupo com cada criança minha, como me preocupo com meus netos, essas crianças estão acompanhada dos pais, documentadas, tem declaração da escola porque elas precisam estar matriculadas no ano letivo, elas estudam porque sabem que precisam ter notas boas, trabalhamos com a consciência, do estudo, que é o mais importante pro crescimento delas para que tenham um futuro promissor”, finalizou.
A mãe de uma das passistas que atuam com Nilce Fran também questionou o estado sobre a segurança. Margarida Silva, 51 anos, é mãe de Mariana, de 11 anos, que estava super empolgada com o desfile.
“É de competência do estado manter a segurança da população, o que já não acontece há anos. Não se pode penalizar as crianças e adolescentes pois esta guerra não é deles. Eles treinam intensamente durante o ano, realizam o sonho de estarem participando do Projeto Samba pra Sempre com a Nilce Fran, lá eles trabalham a autoestima, o condicionamento físico, o emocional, as mães doam seus tempos a fim de realizar os sonhos e a felicidade das crianças. É isso mesmo? Quem pensou nas crianças?”, indagou.
Margarida reforçou ainda que o poder público deveria ter criado medidas de segurança para evitar esse tipo de decisão. “Viemos da pandemia em que todos nós ficamos abalados emocionalmente e fisicamente, porque negar o direito das crianças de participar desse desfile? Se o problema é o local, por que não realizar o desfile na Rua Domingues Lopes conforme ano passado? Os órgãos públicos tiveram tempo suficiente a fim de elaborar estratégias, por que não fizeram? Todos estarão correndo risco da famosa bala perdida na Ernani Cardoso: o público que irá prestigiar o evento, os componentes das agremiações e jurados. A segurança não deve ser apenas para as crianças, mas de todos que estiverem lá”, comentou.
A filha de Margarida, de apenas 11 anos, já desfila há 5 anos, e relatou como foi receber a notícia sobre não poder mais entrar na avenida neste ano.
“Eu recebi a notícia como uma ducha de água fria, eu e meus colegas treinamos muito para essa data. O risco que nós vamos correr, todos que estarão lá também vão correr”, disse.
A presidente da Rosa de Ouro, escola da série Prata, e coordenadora da ala de passistas da Portela, Nilce Fran, também lamentou o caso e comentou sobre todo trabalho que tem sido feito com os menores ao longo do ano.
"Eu tenho trabalho intenso com as crianças, adolescentes e pais, é um trabalho social, familiar, onde temos um convívio diário, 365 dias do ano, de cuidado com eles, preocupação com a escola e que elas tenham um convívio digno. Nós passamos o ano ensaiando, fazendo palestras, conversando, ajudando no dia a dia, não é só samba, não é só Carnaval, não é só batucada, é sociocultural, nós estamos juntos no dia a dia da escola, na primeira comunhão, na beira do leito quando elas estão mal da saúde, ensaiamos o ano inteiro para que elas tenham um preparo físico, que saibam o tempo de respiração, que se alimentem", afirmou.
Nilce comentou que entende a preocupação com as crianças, mas reforçou que adultos e idosos também estão expostos a violência, e que por isso não faz sentido a proibição.
"Eu sinceramente não acredito que os órgãos responsáveis não estejam se preparando para levar toda uma população para Ernani Cardoso, que não recebe só crianças e adolescentes, têm pais, idosos, adultos que também merecem preocupação, porque uma bala perdida não escolhe quem atingir. E outra coisa, as crianças não podem desfilar e as que vão a passeio, também vão proibir? Como vai ser isso?", questionou.
A presidente da Rosa de Ouro ainda fez uma apelo para a juíza e reforçou que as crianças não podem ser penalizadas dessa forma.
“Estamos suplicando a juíza que ela reveja com carinho, eu estou desde o dia que se soube dessa decisão sem dormir, meu telefone não para, as crianças estão tristes, sofrendo, porque perigo elas correm desde momento que pisam no portão e às vezes até dentro de casa. Com todo respeito e carinho eu só penso que a juiz reveja, porque a escola de samba é muito mais sério do que todo mundo acredita, é aqui na Rosa de Ouro, mas falo de Portela que é minha casa, as crianças têm reforço escolar, dentista, psicólogo, toda uma ajuda de convivência diária, somos uma família, eu me preocupo com cada criança minha, como me preocupo com meus netos, essas crianças estão acompanhada dos pais, documentadas, tem declaração da escola porque elas precisam estar matriculadas no ano letivo, elas estudam porque sabem que precisam ter notas boas, trabalhamos com a consciência, do estudo, que é o mais importante pro crescimento delas para que tenham um futuro promissor”, finalizou.
A mãe de uma das passistas que atuam com Nilce Fran também questionou o estado sobre a segurança. Margarida Silva, 51 anos, é mãe de Mariana, de 11 anos, que estava super empolgada com o desfile.
“É de competência do estado manter a segurança da população, o que já não acontece há anos. Não se pode penalizar as crianças e adolescentes pois esta guerra não é deles. Eles treinam intensamente durante o ano, realizam o sonho de estarem participando do Projeto Samba pra Sempre com a Nilce Fran, lá eles trabalham a autoestima, o condicionamento físico, o emocional, as mães doam seus tempos a fim de realizar os sonhos e a felicidade das crianças. É isso mesmo? Quem pensou nas crianças?”, indagou.
Margarida reforçou ainda que o poder público deveria ter criado medidas de segurança para evitar esse tipo de decisão. “Viemos da pandemia em que todos nós ficamos abalados emocionalmente e fisicamente, porque negar o direito das crianças de participar desse desfile? Se o problema é o local, por que não realizar o desfile na Rua Domingues Lopes conforme ano passado? Os órgãos públicos tiveram tempo suficiente a fim de elaborar estratégias, por que não fizeram? Todos estarão correndo risco da famosa bala perdida na Ernani Cardoso: o público que irá prestigiar o evento, os componentes das agremiações e jurados. A segurança não deve ser apenas para as crianças, mas de todos que estiverem lá”, comentou.
A filha de Margarida, de apenas 11 anos, já desfila há 5 anos, e relatou como foi receber a notícia sobre não poder mais entrar na avenida neste ano.
“Eu recebi a notícia como uma ducha de água fria, eu e meus colegas treinamos muito para essa data. O risco que nós vamos correr, todos que estarão lá também vão correr”, disse.
Diretora da ala de passistas mirins da escola de Oswaldo Cruz, a adolescente Ana Carolina Antunes, 15 anos, que já é desfilante há 10 anos também falou sobre a decepção com a decisão da Justiça. "Nós crianças e adolescentes desfilantes estamos muito decepcionados com a decisão da 3ª Vara da Infância e da Juventude, que nos priva dos nossos sonhos e direitos. Direitos estes que constam no ECA como direito a cultura, liberdade e convivência comunitária. Estamos ainda nos curando do cárcere privado que foi essa pandemia, onde estávamos em casa", comentou.
Segundo ela, não é justo que as crianças e adolescentes, além dos demais membros das agremiações mirins paguem por uma falha na segurança.
"Agora somos obrigados a deixar para trás um trabalho de um ano. Um ano de ensaios, preparo de figurino, escolha de samba e organização de documentos. É um trabalho que precisa de muita dedicação e não é justo que por falta de planejamento do governo em relação à nossa segurança, nós tenhamos que pagar por isso", disse.
A porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija Flor de Nilópolis, também defendeu a permanência dos menores nos desfiles.
“As escolas de samba são muito responsáveis, geralmente as escolas que desfilam fazem parte dos projetos sociais da escola, estão inseridas em um contexto cultural o ano inteiro, junto com suas famílias, então eu acho que com toda documentação legal e a criança numa idade de compreensão no que tá acontecendo ali não deve proibir, mas é óbvio que com toda documentação legal e toda segurança para criança. Então dessa forma eu sou muito a favor que permaneçam as crianças nos desfiles das escolas de samba. Inclusive eu sou moradora do bairro seguinte, e vendo a logística, está sendo preparado no entorno muita segurança, espero que tudo dê certo, as escolas assim como a lei entendem o que é melhor para as crianças”, disse.
Os desfiles eram realizados na Estrada Intendente Magalhães, mas agora serão na Avenida Ernani Cardoso, próximo ao Morro do Fubá, entre Campinho e Cascadura, na Zona Norte, onde vem acontecendo uma guerra entre traficantes e milicianos.
Decisão
A decisão foi baseada em pareceres desfavoráveis do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado da Defesa Civil (Diretoria Geral de Diversões Públicas), devido ao fato de haver poucas ruas transversais no trecho de 400 metros do desfile da Avenida Ernani Cardoso, o que dificulta a saída das pessoas em caso de tiroteios.
A expectativa de público para o "Novo Carnaval da Intendente Magalhães", como passou a ser chamado pela Superliga, é de pouco mais de 4 mil pessoas por dia. Além disso, a Polícia Militar também deu um parecer desfavorável, que apontou o risco alto de balas perdidas durante possíveis confrontos entre a facção e a milícia pela disputa de territórios.
Na decisão, a juíza ainda considera que em razão da proximidade da data do evento, não há prazo para que sejam feitas as adequações apontadas pelos órgãos competentes. A magistrada ressaltou, ainda, que as escolas de samba estão sujeitas à autuação por infração administrativa caso os menores participem dos desfiles.
Esquema de segurança
Segundo ela, não é justo que as crianças e adolescentes, além dos demais membros das agremiações mirins paguem por uma falha na segurança.
"Agora somos obrigados a deixar para trás um trabalho de um ano. Um ano de ensaios, preparo de figurino, escolha de samba e organização de documentos. É um trabalho que precisa de muita dedicação e não é justo que por falta de planejamento do governo em relação à nossa segurança, nós tenhamos que pagar por isso", disse.
A porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija Flor de Nilópolis, também defendeu a permanência dos menores nos desfiles.
“As escolas de samba são muito responsáveis, geralmente as escolas que desfilam fazem parte dos projetos sociais da escola, estão inseridas em um contexto cultural o ano inteiro, junto com suas famílias, então eu acho que com toda documentação legal e a criança numa idade de compreensão no que tá acontecendo ali não deve proibir, mas é óbvio que com toda documentação legal e toda segurança para criança. Então dessa forma eu sou muito a favor que permaneçam as crianças nos desfiles das escolas de samba. Inclusive eu sou moradora do bairro seguinte, e vendo a logística, está sendo preparado no entorno muita segurança, espero que tudo dê certo, as escolas assim como a lei entendem o que é melhor para as crianças”, disse.
Os desfiles eram realizados na Estrada Intendente Magalhães, mas agora serão na Avenida Ernani Cardoso, próximo ao Morro do Fubá, entre Campinho e Cascadura, na Zona Norte, onde vem acontecendo uma guerra entre traficantes e milicianos.
Decisão
A decisão foi baseada em pareceres desfavoráveis do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado da Defesa Civil (Diretoria Geral de Diversões Públicas), devido ao fato de haver poucas ruas transversais no trecho de 400 metros do desfile da Avenida Ernani Cardoso, o que dificulta a saída das pessoas em caso de tiroteios.
A expectativa de público para o "Novo Carnaval da Intendente Magalhães", como passou a ser chamado pela Superliga, é de pouco mais de 4 mil pessoas por dia. Além disso, a Polícia Militar também deu um parecer desfavorável, que apontou o risco alto de balas perdidas durante possíveis confrontos entre a facção e a milícia pela disputa de territórios.
Na decisão, a juíza ainda considera que em razão da proximidade da data do evento, não há prazo para que sejam feitas as adequações apontadas pelos órgãos competentes. A magistrada ressaltou, ainda, que as escolas de samba estão sujeitas à autuação por infração administrativa caso os menores participem dos desfiles.
Esquema de segurança
Procurada, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que elaborou um planejamento especial de segurança pública para atuar em todo o território estadual durante o Carnaval de 2023, que deve reunir o maior público dos últimos anos. Foram mobilizados extraordinariamente cerca 11.500 policiais militares, efetivo 15% superior ao empregado no ano anterior. Esse reforço proporcionará um contingente de 14 mil policiais por dia.
Da tarde desta sexta-feira (17) até domingo outra semana (26), o policiamento estará mobilizado para atuar junto aos blocos e nas áreas restritas aos desfiles de escolas de samba, sem perder o foco no patrulhamento de rotina nas áreas de lazer e nas rodovias, tanto na região metropolitana como no interior.
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