Tiroteio atrapalhou os preparativos do desfile da Série PrataReprodução
Publicado 03/03/2023 11:02 | Atualizado 03/03/2023 13:29
Rio - O mês de fevereiro registrou menos tiroteios do que no mesmo período de 2022. Foram 243 tiroteios na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo relatório do Instituto Fogo Cruzado. O número indica uma queda de 14% nos registros em comparação com o mesmo período do ano passado, que acumulou 282 tiroteios.
Apesar da redução, no mês do Carnaval a violência armada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro afetou de maneira intensa a vida de milhares de moradoreso. Os conflitos entre facções do tráfico e milícias foram um dos motivos dos tiros ao longo do mês: onze tiroteios por conta dessas disputas. O bairro do Campinho, onde aconteceram os desfiles das divisões de acesso do Carnaval carioca, está há mais de seis meses em disputa entre traficantes e milicianos, especialmente no Morro do Fubá. Das 11 disputas mapeadas, quatro ocorreram no bairro.
Pouco antes dos desfiles de Carnaval das escolas do grupo de acesso na avenida Ernani Cardoso, uma juíza da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, em Madureira, proibiu que crianças e adolescentes desfilassem nas agremiações devido ao risco de balas perdidas. A justificativa se deve às constantes disputas entre traficantes do Morro do Fubá, no Campinho, na Zona Norte, e milicianos. No dia 24, um tiroteio no Morro do Fubá assustou o público que esperava os desfiles das escolas de samba da Série Prata. Dois dias depois, duas agremiações, a União de Vaz Lobo e a Urubu Samba, desistiram de desfilar por causa de tiroteios nos arredores da Nova Intendente, no Campinho.
O Carnaval também foi marcado por outro caso grave de violência armada em Magé, na Baixada Fluminense. No dia 19, domingo de Carnaval, uma briga entre um miliciano e um policial civil terminou em tiroteio. Duas pessoas foram mortas e 19 ficaram feridas. Entre os mortos está uma criança identificada como Maria Eduarda Carvalho Martins, de 9 anos. Entre os feridos, uma gestante, duas crianças e um adolescente.
Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, afirma que a decisão da juíza Mônica Labuto protegeu as crianças, mas não resolve o problema da violência. "É tristemente simbólico que escolas de samba tenham deixado de desfilar por conta de tiros. Mostra como a violência armada afeta todos os aspectos da vida de quem mora nessas áreas. Durante a semana, em dia de tiroteio, muitos não conseguem sair de casa para trabalhar. O transporte público é interrompido. Escolas e clínicas fecham. No Carnaval, não é possível desfilar por conta dos tiroteios. Isso mostra como a violência armada aumenta a desigualdade de uma cidade: parte da população têm mais direitos garantidos do que aqueles que vivem nas áreas mais afetadas", afirma o coordenador regional do instituto.
Fevereiro em dados
Entre os 243 tiroteios mapeados, 96 deles (39,5%) se deram durante ações ou operações policiais. Em fevereiro de 2022, dos 282 tiroteios, 89 deles (31,5%) foram em ações ou operações policiais.
Ao todo, 209 pessoas foram baleadas no Grande Rio: 90 morreram e 119 ficaram feridas. Houve uma queda de 6% no número de mortos, mas aumento de 78% na quantidade de feridos em comparação com fevereiro de 2022, que concentrou 163 baleados, sendo 96 mortos e 67 feridos.
Entre os 209 baleados, 127 deles (61%) foram atingidos durante ações ou operações policiais: 43 deles morreram e 84 ficaram feridos. Em fevereiro de 2022, dos 163 baleados, 96 deles (59%) foram atingidos durante ações ou operações policiais: 48 mortos e 48 feridos.
Em comparação com janeiro, que acumulou 296 tiroteios, 81 mortos e 84 feridos, fevereiro teve queda de 18% dos tiroteios, mas aumento de 11% nos mortos e de 42% nos feridos.
Entre as datas mais impactadas pela violência armada em fevereiro, o dia 15 concentrou o maior número de tiroteios, com 15 registros. O dia 9, com nove vítimas, concentrou o maior número de mortos. E o dia 19, com 19 vítimas, concentrou o maior número de feridos.
O mapa da violência armada
Entre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro mais afetados pela violência armada em fevereiro, estão:
Rio de Janeiro: 159 tiroteios, 54 mortos e 53 feridos
São Gonçalo: 14 tiroteios, 7 mortos e 9 feridos
Duque de Caxias: 13 tiroteios, 3 mortos e 10 feridos
São João de Meriti: 11 tiroteios, 5 mortos e 2 feridos
Nova Iguaçu: 11 tiroteios, 3 mortos e 7 feridos
Entre os bairros do Grande Rio, os mais impactados foram:
Praça Seca (Rio de Janeiro): 16 tiroteios, 2 mortos e 2 feridos
Guadalupe (Rio de Janeiro): 8 tiroteios, 2 mortos e 3 feridos
Vila Kennedy (Rio de Janeiro): 8 tiroteios, 5 mortos e 2 feridos
Campinho: 7 tiroteios, 3 mortos e 1 ferido
Cidade de Deus (Rio de Janeiro): 6 tiroteios e 1 ferido
A distribuição da violência armada entre as seis regiões que compõem o Grande Rio ficou da seguinte forma:
Zona Norte (Capital): 79 tiroteios, 15 mortos e 31 feridos
Zona Oeste (Capital): 72 tiroteios,34 mortos e 21 feridos
Baixada Fluminense: 53 tiroteios, 19 mortos e 49 feridos
Leste Metropolitano: 31 tiroteios, 17 mortos e 17 feridos
Centro (Capital): 7 tiroteios, 4 mortos e 1 ferido
Zona Sul: 1 tiroteio e 1 morto
O perfil da violência armada
Em fevereiro, vinte pessoas foram baleadas em casos de roubos ou tentativas de roubo que terminaram em tiros no Grande Rio: destas, quatro morreram e 16 ficaram feridas. Em fevereiro de 2022, houve 13 baleados no total: quatro mortos e nove feridos.
Dez agentes de segurança foram baleados em fevereiro na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: sete morreram (dois fora de serviço, dois eram aposentados/exonerados e três não tiveram o status identificado) e três ficaram feridos (um em serviço e dois fora de serviço). Em fevereiro de 2022, nove agentes de segurança foram baleados: cinco morreram (dois fora de serviço e três eram aposentados/exonerados) e quatro ficaram feridos (três em serviço e um fora de serviço).
Ao todo, 14 pessoas foram vítimas de balas perdidas em fevereiro no Grande Rio: três morreram e 11 ficaram feridas. Entre as 14 vítimas, nove foram atingidas durante ações ou operações policiais (duas mortas e sete feridas). Em fevereiro de 2022, sete pessoas foram vítimas de balas perdidas (uma morreu e seis ficaram feridas). Entre as sete vítimas, duas ficaram feridas durante ações ou operações policiais.
Houve sete chacinas na Região Metropolitana do Rio em fevereiro que deixaram 24 mortos no total. Quatro destas chacinas se deram durante ações ou operações policiais. Em fevereiro de 2022, houve cinco chacinas, com 31 mortos no total. Quatro delas se deram durante ações ou operações policiais.
Cinco crianças foram baleadas no Grande Rio em fevereiro: uma morreu e quatro ficaram feridas. Em fevereiro de 2022 não houve crianças baleadas.
Dez adolescentes foram baleados no Grande Rio: três morreram e sete ficaram feridos. Em fevereiro de 2022, três adolescentes foram baleados: um morreu e dois ficaram feridos.
Dois idosos foram baleados na Região Metropolitana do Rio: um morreu e um ficou ferido. Em fevereiro de 2022, houve dois idosos mortos a tiros.
Publicidade
Leia mais