Publicado 16/05/2023 08:47 | Atualizado 16/05/2023 10:52
Rio - A mulher envolvida no envenenamento os enteados com chumbinho será submetida ao Tribunal do Júri. Cintia Mariano Dias Cabral é acusada pela morte de Fernanda, que não resistiu, e de tentativa de homicídio contra Bruno Cabral, ambos os casos em 2022. A juíza Tula Corrêa de Mello, titular da 3ª Vara Criminal da Capital, pronunciou a decisão na segunda-feira (15), após a fase de audiência de instrução e julgamento. Cíntia optou por se manter em silêncio durante a sessão. Os advogados de Cíntia se manifestaram, informando que vão recorrer da decisão.
Durante a audiência desta segunda-feira, um médico perito foi ouvido, além do Ministério Público do Rio e a defesa da acusada. A enteada Fernanda, então com 22 anos, morreu no dia 28 de março do ano passado. Já Bruno, 16, sobreviveu à tentativa de homicídio ocorrida há um ano, no dia 15 de maio fotogaleria
Ao fim da audiência, a juíza responsável pela sessão, Tula Corrêa de Melo, também manteve a prisão preventiva de Cíntia. A defesa da acusada recorreu da decisão. Agora, a Justiça aguarda a análise do recurso da defesa para seguir com o andamento do processo. A estimativa é que o julgamento da ex-madrasta de Fernanda e Bruno aconteça entre fevereiro e março de 2024.
"Mantenho sua prisão preventiva por entender que remanesce contra ela todos os pressupostos sobre os quais veio a ser decretada, sobretudo para resguardo da ordem pública, haja vista o modus operandi adotado na prática dos delitos, envenenamento dos enteados por motivo fútil, razão pela qual mantenho a prisão da ora pronunciada", pronunciou a juíza.
A única testemunha a ser interrogada no último dia de audiência foi o médico neurologista e perito médico legista da Polícia Civil, Gustavo Figueira Rodrigues. Segundo ele, o resultado do laudo pericial no paciente Bruno estava claro para toda a equipe médica do plantão: "A primeira análise que foi feita foi no laboratório da Polícia Civil, apesar de não se evidenciar, está claro o caso de intoxicação". Um segundo exame também foi realizado no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Após o depoimento do médico, Cíntia optou por permanecer em silêncio, sob orientação da sua defesa.
Os advogados da acusada também se pronunciaram com pedido de anulação das provas produzidas pela exumação do corpo da Fernanda Cabral. Segundo a defesa, o processo formal necessário para requisição do exame não foi seguido. O exame deveria ter tido uma autorização na Justiça. Também foi solicitado a retirada do agravante de motivo fútil no processo.
A juíza informou que a Justiça já havia entendido que não necessitava de autorização judicial para a realização do exame de exumação do corpo da Fernanda.
A última fase da audiência foi encerrada com pouco menos de 20 minutos. Ao fim da sessão, a mãe de Fernanda, Jane Carvalho chorou muito ao falar do crime. "Desde o início, quando tudo aconteceu com o Bruno, eu tinha certeza de que era ela. Tinha certeza de que ela pagaria da mesma proporção. Nós já sabíamos que a defesa viria para recorrer e adiar a decisão, não é nenhuma novidade. Independente disso, seguimos com fé de que ela receberá a maior sentença já vista em todo país, porque é o que ela merece. Não tenho dúvida dessa justiça", disse.
Relembre o caso
A morte de Fernanda Carvalho completou um ano no último dia 27 de março. Na época do crime, ela morreu após ficar 12 dias internada no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio. A jovem deu entrada na unidade no dia 15 do mesmo mês depois de passar mal na casa do pai, onde a madrasta também morava. Na ocasião, ela comeu um sanduíche, se sentiu mal e caiu no chão do banheiro. Fernanda apresentou dificuldades para respirar, além disso, estava com a língua enrolada e a boca coberta por espuma. Já na unidade hospitalar, ela não teve um diagnóstico definido e, por conta disso, não respondeu ao tratamento e acabou não resistindo.
Dois meses depois, o irmão de Fernanda, Bruno Carvalho, com 16 anos à época, também sofreu com os mesmos sintomas de envenenamento após comer um feijão na casa do pai e da madrasta. Ele chegou a ser internado, mas conseguiu sobreviver. Com a similaridade dos casos, a Polícia Civil instaurou um inquérito que terminou no indiciamento de Cintia Mariano pelo homicídio de Fernanda e pela tentativa de homicídio de Bruno. Segundo a 33ª DP (Realengo), ela teria colocado chumbinho na comida dos irmãos no dia 15 de março e 15 de maio, respectivamente.
As investigações tiveram acesso ao celular de Cíntia e uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE-RJ) apontou que não foi encontrado conteúdo diretamente ligado ao crime, mas diversas mensagens foram apagadas, o que justifica as últimas pesquisas de Cíntia na internet, que digitou "como apagar mensagens de Whatsapp" nas buscas. Em conversas com os filhos, foi possível perceber a preocupação deles com o comportamento da mãe.
Em um diálogo no WhatsApp no dia 16 de maio, às 12h03, Cíntia fala com seu irmão Wesley sobre o envenenamento de Bruno: "Bruno almoçou aqui e foi envenenado. Uma desgraça tá acontecendo aqui". Wesley responde: "Mas como assim? Se ele comeu aí, onde ele está?".
Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, perguntou se a mãe lembrava de tudo que elas passaram com a separação: "Meu Deus, mãe. Você lembra de tudo que passamos? Na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?". Na conversa, é possível ver várias mensagens que foram enviadas por Carla apagadas.
O laudo complementar de necropsia realizado no cadáver exumado de Fernanda atestou que a causa de sua morte foi intoxicação exógena, provocada por envenenamento. Mesmo que o exame toxicológico não tenha sido capaz de identificar as substâncias, o documento do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP) comprova que a eliminação do organismo de chumbinho é rápida.
No laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências de compostos carbofuran e terbufós no material gástrico de Bruno. Esse documento comprovou que o pesticida, chumbinho, estava presente no organismo do estudante.
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