Publicado 07/06/2023 18:11 | Atualizado 08/06/2023 08:21
Rio - A cena do veículo blindado da Polícia Militar sendo incendiado por criminosos na Praça Seca impressionou os cariocas. Para os especialistas em segurança pública, não é para menos. O caveirão, que se tornou símbolo das operações policiais no Rio, demonstrou fragilidade e levantou dúvidas quanto aos equipamentos e estratégias utilizados pela corporação.
"O que aconteceu ontem foi um ataque ao símbolo de poder da segurança pública do Rio de Janeiro. O caveirão é considerado, até então, um símbolo de poder e de superioridade, está a frente de todas as operações de incursão em comunidades. Ao destruir um caveirão da PM, os criminosos mandam um recado para a segurança pública do Rio: 'Nós não temos medo e temos condições de enfrentá-los nos nossos territórios'. Ontem, aconteceu uma ação de guerrilha. Os criminosos desenvolveram técnicas para encurralar e bombardear o caveirão. Então, é um divisor de águas", disse o perito e psicanalista forense José Ricardo Bandeira, especialista em segurança pública.
Já o professor de sociologia Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), entende que a cena apresenta um cenário de guerra inaceitável para padrões de civilização.
"Isso mostra que a escalada da militarização dos conflitos vai, cada vez mais, ganhando conflitos dramáticos, seja do ponto de vista do enfrentamento que esses grupos armados realizam com policiais, como também da resposta oficial. Há um tipo de confronto de enfrentamento que é feito cada vez mais conflagrada, inaceitável para padrões civilizados de violência urbana", ressaltou Daniel.
Na noite de terça-feira, criminosos incendiaram um caveirão o 18º BPM (Jacarepaguá) com granadas e coquetéis molotov na comunidade Bateau Mouche. De acordo com a PM, o ataque aconteceu em represália à morte do traficante DVD do Batô, apontado como o chefe do crime organizado na região. Dois agentes foram atendidos e liberados pelo Corpo de Bombeiros.
Nas redes sociais, o governador Cláudio Castro classificou o ataque como "inadmissível" e afirmou que ordenou a permanência da Polícia Militar na região para localizar os responsáveis pelo crime.
"Nossa luta contra o crime é diária. Não vamos permitir que a bandidagem se crie aqui. Nada vai impedir o trabalho das polícias. Esse ataque de hoje a um blindado que estava numa base do Batalhão de Jacarepaguá é inadmissível. É um ataque não só contra a polícia, mas contra toda a sociedade", publicou Castro.
O especialista José Ricardo Bandeira também acredita que a cena pode servir como um indicativo a outras organizações criminosas de que as ações policiais estão fragilizadas.
"Ao fazer isso, eles também mandam um recado a outras facções criminosas de que é possível enfrentar a polícia em algumas situações. Os batalhões e delegacias não se sentirão seguros para realizar operações e ações apenas com um caveirão não terão o efeito desejado. A polícia utilizou, durante os últimos anos, o caveirão como ferramenta principal das operações. Agora, essa ferramenta se tornou obsoleta e o Estado vai precisar pensar em outras soluções", opinou o perito.
* Reportagem do estagiário Fred Vidal sob supervisão de Thiago Antunes
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