Policial foi flagrado apontando uma arma para profissionais da rede de educação durante ato no Centro do RioReprodução
Publicado 14/06/2023 17:36
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Rio - Um policial militar foi flagrado apontando uma arma para profissionais da rede estadual de educação na tarde desta quarta-feira (14), durante um protesto na frente de um prédio da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), no Centro do Rio. A classe está em greve desde o dia 17 de maio e segue exigindo melhorias salariais ao governo.
Ao DIA, o professor de Sociologia Pedro Mara, responsável pela gravação, disse que os agentes que estavam no local imprensaram os professores contra uma grade. Em determinado momento, um PM sacou a arma e apontou em direção a ele e a outros profissionais da rede. De acordo com Pedro, que dá aulas em um colégio no Complexo do Alemão, a ida até a Seeduc aconteceu após a não realização de uma reunião com representantes da secretaria na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
"Hoje (quarta-feira) nós tínhamos uma negociação com o governo que seria na Alerj. Contudo, não houve mais negociação e o ato se dirigiu até a Secretaria de Educação, que é perto. Quando a gente chegou aqui, os PMs nos imprensaram contra a grade e, logo em seguida, um PM sacou a arma, uma pistola, apontou e por muito pouco ele não fez um disparo. Depois, ele justificou que a arma estava frouxa na calça e quase caindo, então ele puxou. Isso ele disse informalmente", disse Mara.
O professor ainda destacou que pretende entrar com uma representação na Corregedoria da Polícia Militar contra o agente. Para isso, ele irá pedir ajuda ao jurídico do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Sepe). 
"Estou indo daqui a pouco no jurídico do sindicato e vamos entrar com uma representação na Corregedoria da PM. É impossível. É um absurdo que educadores que estão vindo atrás de um diálogo com o governo sejam recebidos pela Polícia Militar e ainda tenha uma arma que é sacada contra a gente. Você tem noção que podíamos estar discutindo uma tragédia aqui? Que a gente está no meio de uma greve, onde um PM saca uma arma em nossa direção e por muito pouco ele não atira? Eu acho um absurdo essa forma como o governo nos trata. Temos todo um caos onde eu não acho que a Polícia Militar seja parte da solução e sim do problema", completou.
Procurado, o Sepe afirmou que repudia a postura da PM na sede da Seeduc, que intimidou os profissionais de educação, com um policial chegando a sacar sua arma e ameaçar as pessoas. "Denunciamos essa violência contra educadores que estão pura e simplesmente se mobilizando pelos seus direitos", informou o sindicato em nota.
Questionada, a Polícia Militar informou que agentes do 5ºBPM (Praça da Harmonia) e do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) atuaram na área central do Rio, onde ocorreu um ato público. Segundo os policiais 5ºBPM que estavam no local, durante o acompanhamento do evento, houve a tentativa de forçar a entrada no prédio da Seeduc, tendo as equipes agido para intervir e impedir a ação dos participantes do ato público, que inclusive avançaram contra a barreira policial a fim de ultrapassá-la.
A corporação não respondeu sobre a atitude do agente flagrado apontando uma arma contra professores.
Vigília e representação na Alerj
Os profissionais da rede estadual fizeram uma uma vigília na porta da Alerj e da Seeduc nesta quarta-feira (14). Os manifestantes levaram cartazes e folhetos pedindo melhorias salariais. Durante o ato, a direção do Sepe se reuniu com deputados estaduais na Casa Legislativa e apresentou um documento com as reivindicações centrais do sindicato em busca de agilizar uma negociação com o governo. Entre os pedidos estão:
1- Revogação pelo governo do decreto nº 48.521/2023. No ofício, o Sepe afirma que o decreto do governo, publicado dia 29 de maio, descumpre o Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações (PCCR) da educação (Lei 1.614/1990), atinge apenas uma minoria dos professores e exclui os funcionários administrativos.
2- Aplicação do piso nacional do magistério, a partir do nível 1 do PCCR da educação, como determina a referida lei 1.614/1990.
3- Aposentados e funcionários administrativos têm que estar contemplados Salário Mínimo Nacional.
4- Nenhuma disciplina deve ter menos de 2 tempos no ensino médio.
5- Sem desconto dos dias de greve.
6- Abono das faltas por greve desde 2016, para fins administrativos (aplicação do código 61 na frequência).
As demais solicitações já apresentadas ao governo foram mantidas. A reunião desta quarta contou com a presença do chefe de Gabinete da Presidência, Rafael Thompson, do presidente da Comissão de Educação, deputado Alan Lopes (PL), e da presidente da Comissão dos Servidores, deputada Marta Rocha (PDT).
O Sepe ainda pediu que a Alerj interceda para que ocorra uma reunião com o governo nesta quinta-feira (15) com as presenças do governador Cláudio Castro (PL), do deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), presidente da Alerj, da Secretaria de Estado de Fazenda e da Comissão de Educação da Alerj.
O encontro deve acontecer antes de uma nova assembleia para decidir sobre a continuidade da greve marcada para às 14h desta quinta-feira (15) na quadra da São Clemente, na Cidade Nova, região central do Rio.
O que diz a Seeduc
A Seeduc disse que a secretária de Educação, Roberta Barreto, recebeu novamente, nesta quarta-feira (14), uma comissão formada por representantes do Sepe para tratar sobre as reivindicações. O órgão também lamentou a permanência dos professores fora da sala de aula, que estariam comprometendo o aprendizado dos estudantes já afetados pela pandemia.
Segundo a secretaria, desde agosto de 2021, o Governo do Rio já investiu quase R$ 1 bilhão em benefícios para os profissionais do magistério, além de 20% de recomposição para todos os servidores. A Seeduc ainda destacou que tomou as medidas necessárias para que nenhum professor da ativa, pensionista ou aposentado receba menos do que o valor do piso nacional do magistério, a contar do mês de maio, beneficiando aproximadamente, 36 mil servidores.
"Porém, diante das limitações orçamentárias, e considerando a situação de Regime de Recuperação Fiscal que se encontra o Estado do Rio de Janeiro, não é possível, neste momento, a aplicação do valor do piso com incidência no Plano de Cargos e Salários, tendo em vista o impacto financeiro de R$ 6,3 bilhões anuais na folha. Importante ressaltar que o Governo não tem medido esforços para atender as reivindicações dos professores, sempre comprometido com o diálogo e a paz, mantendo o respeito a todos os servidores, funcionários, estudantes e suas famílias que têm na educação pública o único caminho para se alcançar um futuro melhor", disse o órgão.
De acordo com a Seeduc, 77% dos educadores permanecem nas salas de aulas preparando os jovens para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
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