Plataforma do Fogo Cruzado concluiu que câmeras em uniformes de PMs não reduziram tiroteios Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 23/06/2023 19:20 | Atualizado 23/06/2023 19:28
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Rio - O número de tiroteios em ações ou operações policiais aumentou de 676 para 805 após a instalação de câmeras nos uniformes dos policiais militares do estado do Rio de Janeiro. De acordo com o levantamento realizado pela plataforma Fogo Cruzado, 17 batalhões, entre eles corporações das zonas Norte, Sul e Central, Baixada Fluminense e Região Metropolitana, contribuíram para o aumento de 19% no índice.
9.500 câmeras portáteis corporais já estão em operação em todos os batalhões de área do estado do Rio de Janeiro - Divulgação/PMERJ
9.500 câmeras portáteis corporais já estão em operação em todos os batalhões de área do estado do Rio de JaneiroDivulgação/PMERJ
Como o período de instalação das câmeras foi diferente em cada batalhão, para fazer o levantamento a plataforma considerou períodos diferentes em cada uma das áreas. Para cada área de atuação dos comandos, foi calculado o número de meses desde a finalização da implementação das câmeras e comparado com os mesmos meses dos anos anteriores.
Confira abaixo a lista dos 17 batalhões que registraram aumento no número de tiroteios em ações policiais após implementação das câmeras:
- 2º BPM - Botafogo (de 1 para 11)
- 3º BPM - Méier (de 32 para 75)
- 4º BPM - São Cristóvão (de 11 para 23)
- 5º BPM - Saúde (de 14 para 15)
- 9º BPM - Rocha Miranda (de 25 para 49)
- 12º BPM - Niterói (de 76 para 83)
- 14º BPM - Bangu (de 38 para 63)
- 16º BPM - Olaria (de 55 para 66)
- 17º BPM - Ilha do Governador (de 6 para 10)
- 18º BPM - Jacarepaguá (de 11 para 67)
- 21º BPM - São João de Meriti (de 9 para 12)
- 22º BPM - Bonsucesso (de 35 para 43)
- 23º BPM - Leblon (de 6 para 10)
- 24º BPM - Queimados (de 21 para 31)
- 27º BPM - Santa Cruz (de 2 para 3)
- 40º BPM - Campo Grande (de 2 para 4)
- 41º BPM - Irajá (de 36 para 62)
Chama a atenção o aumento expressivo principalmente no número de tiroteios nas áreas comandadas pelo 18º BPM (Jacarepaguá), de 11 para 67. Há cerca de seis meses, comunidades da Praça Seca, entre elas Bateau Mouche e Morro da Chacrinha, vivem um constante clima de guerra devido à invasão de traficantes do Comando Vermelho (CV) em áreas antes dominadas pela milícia. A briga entre milicianos e traficantes na região ainda perdura. Devido a luta por territórios, tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil têm intensificado suas atuações na região.
No início de junho, um veículo blindado da Polícia Militar foi incendiado por criminosos na comunidade do Bateau Mouche. Na ocasião, os bandidos atiraram contra equipes do 18º BPM (Jacarepaguá) e utilizaram coquetéis molotov para dar início às chamas, que se espalharam pelo caveirão rapidamente. De acordo com a corporação, o ataque aconteceu em represália à morte do chefe do tráfico de drogas da região dois dias antes.
Mais recentemente, no Morro da Chacrinha, uma viatura da Polícia Militar ficou completamente perfurada com tiros durante um ataque de traficantes. Policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) ficaram encurralados e precisaram de reforço para sair da comunidade. O veículo foi retirado do local com o apoio de um blindado da corporação.
Número de mortes causadas pela PM não reduziu
Comparando com o período igualmente anterior à instalação das câmeras nos uniformes dos agentes, o levantamento concluiu que houve aumento do número de mortes pela polícia em todo o estado do Rio de Janeiro. Ao todo, foram 648 mortos pela polícia em todas as áreas antes da instalação das câmeras, e 720 mortos pela polícia depois da instalação. Foram 72 mortes a mais, o que representa um aumento de 11%.
Foram mais mortos do que no ano inteiro de 2011 ou 2012 ou 2013 ou 2014 ou 2015, observou a plataforma.
Número de policiais mortos e feridos se manteve estável
O número de policiais militares mortos em serviço no estado do Rio de Janeiro se manteve estável no período observado. Foram oito policiais mortos em cada período, antes e após a instalação das câmeras. O número de policiais feridos, no entanto, aumentou 47% (de 19 para 28).
O que diz a PM
Sobre o aumento do número de tiroteios no período citado acima, a Polícia Militar ressaltou que as ações da corporação acontecem após informações do setor de inteligência e com planejamento prévio.
Até o momento, segundo o Governo do Rio de Janeiro, 9,5 mil câmeras portáteis corporais estão em operação em todos os batalhões de área e em parte das unidades de policiamento especializado da Corporação. Até o final deste ano, 13 mil câmeras deverão estar em operação em todas as unidades, inclusive nas subordinadas ao Comando de Operações Especiais.
"Trata-se de um processo de implantação lento e cuidadoso, pois exige a superação de inúmeros obstáculos técnicos, tanto no âmbito da SEPM como no âmbito da empresa vencedora da licitação”, disse a PM por meio de nota.
De acordo com a corporação, por estar em operação relativamente há pouco tempo, ainda não é correto avaliar o impacto do novo equipamento nos indicadores criminais,
Leia a nota na íntegra da PM:
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que as ações da Corporação são pautadas por informações do setor de inteligência e planejamento prévio, tendo como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento irrestrito da legislação em vigor.
De acordo com dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP), o índice de mortes por intervenção de agentes do Estado sofreu uma redução de quase 5% no Rio de Janeiro de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. Oscilações pontuais desse e de outros indicadores estratégicos são permanentemente verificadas para ajustes.
Como parte do programa de transparência na área de segurança pública do Governo do estado, 9.500 câmeras portáteis corporais já estão em operação em todos os batalhões de área e em parte das unidades de policiamento especializado da Corporação. Até o final deste ano, 13 mil câmeras deverão estar em operação em todas as unidades, inclusive nas subordinadas ao Comando de Operações Especiais. Trata-se de um processo de implantação lento e cuidadoso, pois exige a superação de inúmeros obstáculos técnicos, tanto no âmbito da SEPM como no âmbito da empresa vencedora da licitação.
Por estar em operação relativamente há pouco tempo, não é correto avaliar o impacto do novo equipamento nos indicadores criminais. Mas é possível constatar que, além do aspecto da transparência para a sociedade, as câmeras são ferramentas importantes para garantir segurança jurídica às ações policiais, otimizar o planejamento operacional e ampliar o controle interno da Corporação, inclusive na área correcional.
Em relação à comparação de números com São Paulo e Santa Catarina, é oportuno pontuar que em nenhum outro estado da federação há disputa territorial sistemática e violenta envolvendo facções criminosas rivais como no Rio de Janeiro.
O saldo operacional, registrado entre janeiro e meados de junho deste ano, revela o grau de complexidade enfrentado pela Corporação. Somente os policiais militares do Rio de Janeiro efetuaram mais de 16 mil prisões de criminosos, apreenderam 2 mil adolescentes envolvidos com atividades ilícitas e retiraram de circulação quase 3.300 armas de fogo, entre as quais 280 fuzis. Vale acrescentar que a opção pelo confronto é sempre dos criminosos."
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