Chrystian Winter Lima, de 23 anos, disse que sofria agressões e maus-tratos no Centro de Tratamento Ribeiro, em Nova IguaçuMarcos Porto / Agência O Dia
Publicado 10/07/2023 19:22 | Atualizado 11/07/2023 07:04
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Rio - Chrystian Winter Lima, de 23 anos, um dos pacientes do Centro de Tratamento Ribeiro, clínica de idosos e de reabilitação interditada nesta segunda-feira (10) em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, falou sobre os maus-tratos sofridos e cárcere no local. Segundo o interno, ele e outros pacientes eram agredidos, mantidos em condições insalubres e impedidos de contatar parentes na unidade, localizada na Avenida Grão Pará, no bairro Jardim Paraíso.
O dependente químico é um dos sete internos que prestaram depoimento na 52ª DP (Nova Iguaçu), no fim da tarde, e também realizaram exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML ) de Nova Iguaçu.
"Me encontraram em cárcere privado. Eu apanhava, sofria maus-tratos, agressão verbal e física. Eram diversas coisas. Uma situação precária para a gente que estava vivendo lá. Nossos familiares pagando R$ 1500 para a gente estar apanhando. Desumano o que estava acontecendo lá dentro. Graças a Deus o Ministério Público chegou com um pessoal lá e tirou a gente do local. Eles viram que era uma situação precária com esgoto passando por dentro do banheiro", disse Chrystian.
De acordo com o interno, a clínica tinha 150 pacientes incluindo idosos, deficientes físicos e dependentes químicos. Todos viviam misturados e sem divisão, segundo o homem.
"Tratamento dos caras era na base da po***. Era um quarto para 30/40 cabeças. Gente dormindo na mesma cama e no chão. Alimentação totalmente precária. Eu estava lá há quase 50 dias sem contato com minha família. Não tínhamos telefone. Ficávamos de cárcere privado. Minha família sempre pagou direitinho para eu poder sofrer esses maus-tratos todo", completou.
Ao todo, 96 internados/acolhidos foram removidos local. A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que, através das secretarias municipais de assistência social e de saúde, está prestando apoio aos pacientes. Os idosos, pessoas com dependência química e com deficiência foram levados, provisoriamente, para um equipamento do município, onde receberam alimentação. Está sendo feito levantamento do perfil de cada desses pacientes para direcioná-los para locais que atendam necessidades específicas.
Dono diz que não possui conhecimento sobre agressões
Edmilson Messias Ribeiro Júnior, proprietário e administrador do Centro de Tratamento Ribeiro, foi preso nesta segunda-feira (10) durante a interdição do espaço realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Ele pode responder pelos crimes de maus-tratos e cárcere privado.
Em depoimento ao qual o DIA teve acesso, o empresário disse aos policiais que não tem conhecimento de que os internos sofriam agressões em sua clínica. De acordo com Edmilson, os internos recebem cuidados semanais através de um rodízio do corpo terapêutico com a ida de psicólogos duas vezes na semana, uma médica a 15 dias e um pedagogo de duas a três vezes na semana.
Sobre as constatações do MPRJ que encontrou o ambiente sujo, Edmilson alegou que a promotora chegou no local no momento da troca de turno e que a faxineira já estava se preparando para limpar o espaço. Em relação a fezes e urina espalhadas, o proprietário destacou que alguns pacientes fazem necessidades em suas roupas, mas uma cuidadora já estava no local para realizar a higiene dos internados.
O empresário ainda assumiu que a clínica não possuía alvará de funcionamento da Prefeitura de Nova Iguaçu, Vigilância Sanitária e do Corpo de Bombeiros, mas ressaltou que a empresa está em processo de regularização.
Mudança de nome e endereço após incêndio
Antes de ser dono do Centro de Tratamento Ribeiro, Edmilson Júnior foi proprietário da Clínica de Reabilitação Caetana Greco, espaço que era localizado na Rua Boa Esperança, também no bairro Jardim Paraíso, em Nova Iguaçu. O local foi interditado pela Vigilância Sanitária do município em 17 de maio de 2022 depois que duas pessoas morreram e outras oito ficaram feridas em um incêndio considerado criminoso.
Questionado pelos policiais, o empresário afirmou que não houve mudança da razão social e sim a fundação de uma nova instituição pois a última propriedade foi fechada por decisão judicial.
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