Representantes da PF e do MPRJ falam da operação ÉlpisBrenda São Paio/ Agência O DIA
Publicado 24/07/2023 12:25 | Atualizado 24/07/2023 14:58
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Rio - Ronnie Lessa fez buscas em um site de crédito para obter dados do CPF de Marielle Franco e da filha da parlamentar e utilizou um buscador privado para conseguir o endereço da vítima, segundo agentes do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Federal durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (24) na Superintendência da PF, na Praça Mauá.

O endereço pesquisado, no entanto, não era mais residido por Marielle. A PF avançou nas investigações e descobriu a forma de pagamento feita por Ronnie para realizar as pesquisas, feitas dois dias antes do crime. Élcio foi acionado somente para o serviço, substituindo a função de Maxwell Corrêa, o "Suel", que era o motorista. O ex-bombeiro foi preso nesta manhã em sua casa.
Na manhã desta segunda, a PF e o MPRJ deflagraram a Operação Élpis, primeira fase da investigação que apura os homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves.

Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva contra Maxwell e seis mandados de busca e apreensão, na cidade do Rio de Janeiro e em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na casa do ex-bombeiro foram apreendidas armas de fogo. Junto com Ronnie Lessa, Suel mantinha a família de Élcio e ajudava a pagar a defesa no processo. O dinheiro, segundo os investigadores, vinha de atividades ilícitas da milícia.

Das seis pessoas intimadas, somente Denis Lessa, irmão de Ronnie, e Edilson Barbosa, conhecido como 'Orelha', foram ouvidos pela manhã. Denis foi indiciado por favorecimento pessoal. Edilson Barbosa foi indiciado pelo desmanche em do carro utilizado no crime.

Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho; e Jomar Duarte Bittencourt Junior, o Jomarzinho, são apontados como responsáveis pelo vazamento da operação Lume, da Polícia Civil, em 2019.

João Paulo Vianna dos Santos Soares e Alessandra da Silva Farizote, de acordo com as investigações, receberam a arma do crime no dia 16 de março.

Na operação foram apreendidos aparelhos celulares, armas supostamente legalizadas, veículo e outros bens.

Suel participou de planejamento do assassinato

Ainda de acordo com as investigações, Suel participou de vigílias contra Marielle antes do assassinato e foi o responsável por levar o carro utilizado no crime, um Cobalt, para o desmanche.

Suel também sabia da logística do assassinato e há indícios de sua participação no planejamento do crime desde agosto de 2017. O ex-bombeiro ainda teria auxiliado na troca de placas dos veículos antes do crime.

Além disso, ele também era o dono do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa e teria ajudado a jogar o armamento no mar.

Delação premiada

Após a PF assumir as investigações, Élcio fez uma delação premiada e detalhou todo o planejamento do crime. Porém, afirmou ter sido convocado somente no dia do assassinato.

De acordo com ele, Suel quem participaria da emboscada, porém, por conta de um problema anterior no veículo utilizado no crime, Lessa preferiu chamar Élcio, que dirigiu o carro.
"Ronnie teria chamando ele para a execução, dando detalhes por volta de meio-dia do dia 14 de março. Eles trocaram mensagens por meio de um aplicativo de mensagens as quais deletam em seguida", afirmou o delegado da Polícia Federal Guilhermo Catramby.

Na ocasião, Lessa teria ido no banco da fente mas, no local da vigilância, passou para o banco de trás, onde se equipou e passou a vigiar as vítimas.

Após o crime, os dois foram até o Méier, na casa de Denis Lessa, irmão de Ronnie, onde entregaram bolsas e chamaram um táxi até a Barra da Tijuca. Com a investigação, a PF conseguiu com a cooperativa de táxi a trajetória do veículo, confirmando a versão dada por Élcio.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (24) que Operação Élpis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pelo MPRJ se desdobrou de uma colaboração premiada realizada entre 15 e 20 dias atrás por Élcio de Queiroz, preso por ter conduzido o carro durante a execução da vereadora. Dino afirmou que a delação foi homologada pela justiça.
"Nós tivemos uma colaboração premiada do senhor Élcio Queiroz. A delação resultou na operação de hoje no Rio de Janeiro. E revelou a participação de um terceiro indivíduo, o sr. Maxwell. Também confirmou a participação dele próprio [Élcio] e do Ronnie Lessa. Foi a conclusão de uma fase da investigação com a conclusão de tudo que aconteceu na execução do crime", afirmou Dino.
O ministro ressaltou que a narrativa de Élcio convergiu com aspectos colhidos pela PF e apontou outras pessoas como copartícipes. "Há um avanço, uma espécie de mudança de patamar. Há elementos para um novo patamar, qual seja a identificação dos mandantes do crime. Há aspectos em segredo de Justiça. Nas próximas semanas haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhido no dia de hoje.
No dia 10 de junho de 2020, Maxwell Simões Correa foi preso e acusado de obstruir as investigações sobre a execução de Marielle e de Anderson. A prisão foi na Operação Submersus 2, deflagrada naquele dia pelo MPRJ, Corregedoria do Corpo de Bombeiros e Delegacia de Homicídios da Capital (DH).

Na época, também a promotora do MPRJ, Simone Sibilio, que respondia pela investigação do caso no órgão, afirmou, em entrevista na porta da DH, na Barra da Tijuca, que Correa foi proprietário do carro utilizado para ocultar um arsenal de armas de Ronnie Lessa, acusado de ser o executor da vereadora.

A ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle Franco, Anielle Franco, afirmou nesta segunda-feira (24) que confia na PF e voltou a indagar sobre o mandante das mortes: "Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há 5 anos: quem mandou matar Marielle e por quê?"
No instagram, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, também falou sobre a primeira fase da investigação da PF e parabenizou os agentes pela prisão. "Esse é mais um passo importante para descobrir quem mandou matar Marielle Franco. Eu e Marielle começamos a trabalhar juntos todos em 2006, quando me candidatei a deputado estadual pela primeira vez. E sempre enfrentamos juntos a máfia que comanda o RJ."

Os assassinatos de Marielle e Anderson completaram cinco anos em 2023 sem respostas sobre o mandante do crime. Os dois foram mortos no dia 14 de março de 2018. Em fevereiro desse ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a PF abrisse um inquérito paralelo para auxiliar as autoridades fluminenses.

Nas investigações da Polícia Civil, o avanço mais consistente no caso aconteceu em março de 2019, quando Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos no Rio de Janeiro. O primeiro é acusado de ter atirado em Marielle e Anderson, o segundo, de dirigir o carro usado no assassinato. Quatro anos depois, eles continuam presos, mas não foram julgados. Os dois estão em penitenciárias federais de segurança máxima.

Ronnie foi condenado a 13 anos, 6 meses e 22 dias pela posse de 117 fuzis e farta munição, que foram encontrados na casa do seu amigo Alexandre Motta de Souza na semana de sua prisão. A apreensão é a maior já realizada no estado do Rio de Janeiro. Os fuzis, sem os canos, estavam desmontados dentro de caixas.
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