Corpos de Amanda Rocha, de 17 anos, e do bebê que ela gerava de oito meses são sepultados no Cemitério Parque da Paz, em São GonçaloCleber Mendes/ Agência O Dia
Publicado 31/07/2023 17:39
Publicidade
Rio - Revoltados e em busca de justiça, familiares e amigos de Amanda Rocha da Silva, de 17 anos, se despediram da jovem e do bebê que ela esperava, de uma gestação de oito meses, na tarde desta segunda-feira (31), no Cemitério Parque da Paz, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Mãe e filha morreram na maternidade do Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, na madrugada de domingo (30). A família da jovem afirma que houve negligência médica na unidade.
No velório, a família de Amanda voltou a apontar que houve erros dos médicos no atendimento à jovem durante a tentativa dos médicos de retardar o nascimento do bebê. O hospital confirmou que "devido à prematuridade, a equipe médica adotou o protocolo para tentar manter o bebê na barriga e, assim, estimular a maturidade do feto".
Vaneide Santana Rocha, mãe de Amanda, acompanhou a filha em todos os momentos da internação e viu de perto a grávida perder o oxigênio até morrer. "Minha filha estava internada desde quarta-feira (26) e chegou em trabalho de parto. Começaram a dar injeção e foi ficando cada vez pior, passando muito mal. Na sexta-feira (28) aplicaram mais uma injeção e foi aí que ela disse que estava sufocando: 'mãe, minha garganta está fechando. Eu estou morrendo'", lembra Vaneide. A mãe diz que no sábado a situação da grávida piorou ainda mais e que a paciente não estava recebendo apoio da equipe médica. "A médica e a supervisora do plantão sequer olharam para a cara da minha filha", completou.
Ainda de acordo com a família, a unidade não tinha respirador e, por isso, os médicos teriam improvisado o equipamento. O namorado da vítima, e pai da criança, Gabriel Ribeiro Gonçalves da Silva, de 18 anos, descreveu o método usado pela equipe médica para ajudar Amanda a respirar. "Usaram uma luva de látex e uma mangueira para fazer um balão de ar. Eles não tinham nem máscara e nem bomba de oxigênio", denunciou.
"Não fizeram nada pela minha filha, só davam remédio. Trouxeram uma máscara maior do que a boca, o ar saia e não chegava nela. Além disso, fui no hospital hoje e vi no prontuário que o medicamento que deram para ela acelerou o batimento cardíaco da minha filha e agora eles estão alegando que já estava acelerado", disse Vaneide.
"Foi negligência e, para mim, foi assassinato também. A médica fugiu da unidade", disse o avô de Amanda, Altair da Silva durante o velório da neta. O primo da vítima disse que a família está em choque com o que aconteceu. "A gente espera que isso nunca vai acontecer em um hospital. O sentimento agora é de muita dor e tristeza", desabafou. 
Em junho, a Secretaria de Saúde do estado do Rio (SES) informou que a maternidade do Hospital Azevedo Lima recebeu novas alas de emergência obstétrica (clínica e ortopédica), consultório de acolhimento da gestante, salas de exames para cardiotocografia (método de avaliação de bem-estar fetal) e ultrassonografia, além da renovação dos leitos para internações, oferecendo mais qualidade de atendimento.
"Eu não quero dinheiro, eu só quero justiça para que essa equipe médica não faça a mesma coisa com outras mulheres. Perdi duas vidas, minha filha e minha neta. Me arrancaram um pedaço de mim", finalizou a mãe de Amanda. 
A família da jovem disse ao DIA que registrou o caso na 78ª DP (Fonseca), no entanto, o registro ainda não foi localizado pela Polícia Civil.
Fundação Saúde abriu sindicância para apurar o ocorrido
À reportagem, a Fundação Saúde, que administra o Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, disse que abriu sindicância para apurar as circunstâncias da morte da paciente Amanda Rocha da Silva e seu bebê.
Confira a nota do órgão de Saúde na íntegra:
"A Fundação Saúde esclarece que a jovem, de 17 anos, deu entrada no hospital no dia 26/07 com 33 semanas de gestação e três centímetros de dilatação, tendo sido imediatamente internada.
Devido à prematuridade, a equipe médica adotou protocolo universal para tentar manter o bebê na barriga e, assim, estimular a maturidade do feto.
Desde então, Amanda vinha sendo monitorada pela equipe médica e a família informada sobre todos os procedimentos adotados. Na madrugada de domingo (30/07), a paciente começou a apresentar taquicardia. Foram feitas manobras para reanimação cardiopulmonar, mas ela sofreu uma parada cardiorrespiratória.
A sindicância da Fundação Saúde irá apurar os procedimentos realizados desde a internação da paciente e as medidas adotadas para tentar salvar a vida da jovem e seu bebê."
*Colaboração de Cleber Mendes.
Publicidade
Leia mais