Muro pintado em homenagem a Candeia, em Oswaldo Cruz, zona norte do Rio de Janeiro, nesta Quinta-feira (17).Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Publicado 17/08/2023 13:15
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Rio - Em homenagem aos 88 anos de nascimento do sambista Candeia, filhos e amigos, juntamente com integrantes do projeto Negro Muro, inauguram nesta quinta-feira (17) um mural na casa onde viveu, casou e formou família, no bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio.

Além de Candeia, que faria aniversário neste 17 de agosto, mestre Monarco, que faria 90 anos no mesmo dia, também é homenageado. O painel foi idealizado pelo projeto Negro Muro, conhecido por eternizar a memória de grandes personalidades negras - este é o 51º trabalho feito em muros espalhados pela cidade.
Por volta das 19h, amigos, familiares e componentes da escola de samba Rosa de Ouro visitaram o muro e falaram sobre a importância dos dois sambista para o bairro e para a música. O apresentador Milton Cunha e a presidente da agremiação, Nilce Fran, discursaram durante a homenagem.
Em seguida, o grupo caminhou em direção à quadra da escola, onde aconteceu uma roda de samba comandada pelo projeto Fruta no Pé. Com muita música durante o trajeto, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Willian Miranda e Aline Lima se apresentou pelas ruas de Oswaldo Cruz. 
O mural, feito no muro da casa do sambista, é motivo de orgulho para a família. Selma Candeia, uma de suas filhas, falou com felicidade sobre poder homenagear seu pai e perceber o quanto sua figura é importante para o samba até os dias atuais.

"O meu sentimento é de orgulho de saber que meu pai, além de ter deixado esse legado, ele conseguiu conquistar e sensibilizar o mundo do samba, a todos os sambistas com suas composições, suas canções e com as suas ideias. É um sentimento de gratidão e felicidade por estar podendo partilhar isso e ter tanta gente que gostam de Candeia, que gostam de Monarco, que se sentem bem ao ouvir os sambas que eles fizeram. É sentimento de alegria mesmo, da mais profunda", exaltou.

De acordo com ela, o convite para a homenagem veio de amigos do Negro Muro. "A motivação para a escolha do lugar se deu pela importância que o bairro tem. E nossos queridos amigos Pedro Rajão e o Cazé, que formam o projeto Negro Muro, eles são muito engajados com a cultura. Esse projeto já estava acontecendo há bastante tempo, o Pedro havia me perguntado se eu aceitaria que ele se fizesse essa homenagem para o meu pai e que eu escolhesse um local, e eu preferi escolher Oswaldo Cruz, que foi exatamente o lugar onde ele nasceu, se casou e nós nascemos", explicou.

Como a casa não pertence mais à família, os idealizadores do projeto, ao lado de Selma, pediram ao atual dono da propriedade que cedesse seu muro para que o mural fosse pintado.

"Onde ele morava tinha esse muro, então pedimos ao morador atual, perguntamos se ele não se importaria que fosse feito esse trabalho. Ele se sentiu orgulhoso e permitiu que nós fizéssemos esse mural no muro", contou.
Segundo Selma, a roda de samba não tem hora para acabar. Para ela, o mural não celebra só seu pai e Monarco, mas também o celeiro de bambas que é o bairro Oswaldo Cruz, que merece ser sempre lembrado.

"Além de celebrar a data de nascimento do meu pai e seu parceiro, é também revitalizar e propagar esse legado, tanto do Candeia, meu pai, como do Mestre Monarco. Também lembrar da história do bairro, desses personagens do bairro onde meu pai, junto com outros tinham, formavam a turma do muro de Oswaldo Cruz, em que a maioria eram compositores ou de outros segmentos da Portela e se encontravam no muro para realizar samba, escrever músicas. Eu acho que é importante que as pessoas saibam que Oswaldo Cruz sempre foi um celeiro de bambas, celeiro de heróis", disse.
No dia 17 de agosto de 1935, nascia Antônio Candeia Filho, conhecido como Candeia. Nascido e criado no bairro Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, ele cresceu e se tornou compositor, cantor e instrumentista. Seu pai, integrante da Portela, o apresentou ao mundo do samba. Ainda garoto, aprendeu a tocar violão e cavaquinho. Aos 12, passou a desfilar na Azul e Branca de Madureira. Um pouco mais tarde, nas rodas de samba, conheceu seus companheiros Zé com Fome, Luperce Miranda e Claudionor Cruz.

Na escola de samba, compôs diversos sambas vencedores como 'Seis Datas Magnas' (1953), Festas Juninas em Fevereiro (1955), Riquezas do Brasil (1956), Legados de D. João VI (com Picolino da Portela, 1957). Fez parte da Ala dos Impossíveis, que inovou os desfiles ao incluir passos marcados no enredo.

Ele também é compositor de sambas como 'Sou mais o samba', 'Expressão do teu olhar', 'Vem, menina moça', 'Vivo isolado do mundo' e 'Olha o samba, sinhá'.
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