Publicado 05/09/2023 09:03
Rio - A Prefeitura do Rio deu início às obras do Parque Piedade, nesta terça-feira (5), com a demolição de mais um prédio e limpeza do terreno da antiga Universidade Gama Filho. No espaço onde funcionava a instituição de ensino, de aproximadamente 18 mil metros quadrados e que está abandonado desde 2014, será construída uma área pública nos moldes do Parque Madureira. De acordo com o prefeito Eduardo Paes, a previsão é de que o local seja entregue à população até outubro do próximo ano.
O Parque Piedade vai contar com áreas de lazer e um centro cultural, esportivo e educacional, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio (Fecomércio), além de horta urbana, espaço para feiras e eventos, parcão, academia, pista de skate, campo de futebol, parque infantil, entre outros atrativos para os frequentadores. Segundo o prefeito do Rio, a expectativa é revitalizar a região, que vem sofrendo com o abandono de comerciantes e moradores, após o fechamento da universidade.
"Primeiro, você tem todo o lado sentimental aqui da Gama Filho, o que ela representou para gerações de cariocas que se formaram aqui. Infelizmente, a universidade deixou de existir e isso aqui virou um ponto de degradação, sacrificando a população da Piedade e dessa região da cidade. Então, nós optamos por um parque, algo que a população possa frequentar, que vai ser um parque de muita qualidade. Foram dois anos de muito trabalho para conseguir desapropriar tudo isso, não foi simples, foram quase R$ 80 milhões em desapropriações, é uma obra de quase R$ 50 milhões, mas a gente vai devolver essa dignidade ao povo da Piedade e da Zona Norte", afirmou Paes.
O processo de desapropriação do terreno teve início em 2021 e a Prefeitura do Rio só teve posse total do complexo em abril deste ano. Entretanto, a demolição dos prédios teve início em outubro de 2022, começando pelo da antiga faculdade de medicina, que estava totalmente depredado, com mato, cacos de vidro e pedaços de madeira espalhados, sem janelas e portas, que foram furtados por criminosos e usuários de drogas, além de pixações e entulho. De acordo com Paes, a região pode se tornar exemplo em lazer e revitalização, bem como o Parque Madureira.
"O importante é que a população entenda que esse espaço é dela e traga para si a responsabilidade de cuidar. Eu acho que a gente tem um belo exemplo na cidade, que é o Parque Madureira, que as pessoas incorporaram como um ativo, como um patrimônio seu, e mudou a realidade daquela região da cidade. Então, a gente espera que aconteça aqui a mesma coisa. A gente espera estar entregando a primeira parte do parque em meados do ano que vem e até setembro, outubro do ano que vem, estar com o parque todo entregue", continuou o prefeito.
A construção do parque também prevê a revitalização de toda a região, com melhorias de pavimentação, sinalização, iluminação, paisagismo, rampa de acessibilidade na estação de trem da Piedade, pela Rua Goiás, e ciclovia na Rua Manoel Vitorino. A Rua da Capela, onde fica a Capela Nossa Senhora da Piedade, tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), em 1996, devido a sua importância arquitetônica, histórica e cultural, também será contemplada.
"A gente quer resgatar não só a área da Piedade, mas nosso orgulho de ser suburbano. As pessoas fugiam da Rua Manoel Vitorino, que é a principal aqui da antiga Gama Filho, e o trânsito aqui era muito movimentado, e as pessoas fogem daqui hoje, por estar abandonado. Mas, não vão mais fugir, vão passar por aqui, vai ser um caminho principal. Quando a gente constrói esse parque, a gente faz com que todo o entorno do bairro da Piedade volte a viver. Então, é esse resgate que a gente vai fazer, a gente vê isso aqui tudo abandonado, parecendo uma cidade fantasma, e podem ter certeza que, a partir do início do parque, no ano que vem, isso aqui vai ficar outro lugar, renovado", disse o subprefeito da Zona Norte, Diego Vaz.
"A revitalização dessa área é muito importante, porque vai resgatar a região, vai fazer com que novas residências, novos moradores venham, e que empreendedores invistam novamente aqui, porque além do parque, vai ter uma série de atividades importantes educionais, culturais, esportivas, de saúde, que vão fazer com que a região, novamente, se reaqueça e possa ser uma das mais importantes da cidade. A gente tem a expectativa de que vai se tornar algo bom para a cidade novamente", completou o vereador Rafael Aloisio Freitas (Cidadania).
Na manhã de hoje, moradores da região acompanharam o início das obras e falaram da expectativa de que o bairro, que sofre com constantes assaltos, fique mais movimentado e seguro. "Nosso condomínio foi entregue há um ano e a gente já sabia que não tinha nada por aqui, mas a gente estava na expectativa de que pudesse ter algo para valorizar e para que não fique tão deserto. A gente espera que o parque fique pronto o mais rápido possível, para que tenha movimento, e que o bairro e a Gama Filho não fiquem esquecidos", declarou a professora Maria Fernanda Scalercio, de 23 anos.
Segundo o professor João Victor Oliveira, 26, a construção do Parque é uma forma de honrar o legado da universidade. "A expectativa que a gente tem do novo Parque Piedade é que traga, realmente, segurança para o nosso bairro, e entretenimento para a gente, porque aqui no entorno não tem parque, não tem praça e são muitos moradores, muitas crianças. Com essa estrutura da Fecomércio, também, a gente acredita que vai dar vida ao bairro, à essa rua, que é tão abandonada. A gente ouviu falar tão bem da Gama Filho e acredito, como morador, que está tomando um destino melhor, honrando o legado, trazendo entretenimento e lazer para as pessoas".
"Agora com esse Parque Piedade saindo, vai valorizar o nosso bairro. Estou muito feliz, espero que a gente venha curtir bastante e possa aproveitar a região sem medo e sem perigo. Espero que traga mais ônibus do Centro do Rio para cá, para a gente poder transitar com mais facilidade. Acredito que só vai trazer melhorias", afirmou a vendedora Elisabete Nascimento, de 51 anos, que mora na Piedade há um ano.
Universidade Gama Filho
A universidade foi fundada em 1951 pelo ministro Luiz Gama Filho e, ao longo das décadas seguintes, se tornou uma das mais renomadas instituições de ensino superior privadas, chegando a ter a maior faculdade de medicina do país e sendo reconhecida pela atuação poliesportiva. A instituição permaneceu sendo administrada pela família Gama Filho com o passar do tempo.
Entretanto, a universidade começou a enfrentar problemas financeiros, com divídas de mais de R$ 200 milhões com fornecedores, funcionários e o governo. Dessa forma, o então presidente da instituição, Paulo César Prado Ferreira da Gama, decidiu, em 2010, passar o controle para seu advogado Márcio André Mendes Costa, que criou o Galileo Educacional para reestruturar a Gama Filho.
Na administração do grupo, a universidade recebeu investimentos milionários dos fundos de pensão da Postalis, dos Correios, e da Petros, da Petrobras, além de empréstimos bancários. O Galileo ainda incorporou à sua administração a UniverCidade que também enfrentava problemas financeiros. Nesta gestão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) chegaram a ser contratados para aulas do curso de Direito, ao passo que outros professores e funcionários eram demitidos.
Em 2012, a instituição também encerrou o contrato com o hospital onde alunos de medicina faziam aulas práticas. Com problemas na estrutura, o Ministério da Educação diminuiu o número de vagas por vestibular e, em 2013, instaurou um processo administrativo contra a Gama Filho, impedindo que novos estudantes se matriculassem. No ano seguinte, a universidade fechou as portas, ao ser descredenciada pela baixa qualidade acadêmica, comprometimento da situação econômico-financeira e falta de um plano de resolução.
Dois anos depois, em 2016, a Justiça do Rio decretou a falência do Galileo, após negar o pedido de recuperação judicial feito pelo grupo, que não recorreu. Desde então, a massa falida ficou sob a responsabilidade de administradores judiciais, até que, em abril de 2022, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, publicou no Diário Oficial um decreto que declarava a utilidade pública, para fins de desapropriação, de 35 endereços ligados à Gama Filho. À época, a massa falida descreveu a medida como benéfica para a comunidade e para os credores prejudicados.
Ainda em 2016, a Polícia Federal prendeu nove pessoas envolvidas em desvios de recursos do Postalis e Petros, que participaram da estruturação da operação fraudulenta do Galileo Educacional. As investigações apontaram que o esquema montado pelo grupo arrecadou cerca de R$ 100 milhões por meio da compra de títulos mobiliários, para recuperar a universidade. Entretanto, quando a empresa quebrou, aproximadamente R$ 90 milhões foram desviados.
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