Rio - O homem suspeito de matar a marteladas e queimar os corpos da filha Luiza Fernanda da Silva Miranda, de 5 anos, e da prima dela, Ana Beatriz da Silva Albuquerque, de 4, era possessivo, mantinha a ex-mulher em cárcere privado, e ameaçava matá-la ou alguém da família caso revelasse as agressões. As denúncias são dos familiares das vítimas que estiveram no Instituto Médico Legal (IML) na manhã deste sábado (23). O enterro das meninas está previsto para ocorrer neste domingo (24) no Cemitério de Campo Grande, às 15h30.
Davi Souza Miranda, que está preso, também torturou e queimou a cunhada, Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque, que está internada em estado grave no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo.
Segundo os familiares, o casal tinha um relacionamento de nove anos e terminou há cerca de um mês após uma briga. De acordo com o tio de Natasha, Anderson Silva, Davi demonstrava ser uma pessoa calma e tranquila e ninguém fazia ideia do cárcere privado.
Ainda no IML, a tia avó das crianças, Ana Paula da Silva, explicou que eles só foram saber das ameaças sofridas pela mãe de Luiza após a separação.
"A gente da família nunca imaginou que ela estava em cárcere privado, sofrendo estupro tanto por ele quanto pelo filho dele de 18 anos, porque ele nunca deixou esse fato vir à tona. A gente tinha a impressão que eles tinham um relacionamento muito saudável, ela nunca deixou transparecer até porque ele a oprimia, então ela tinha medo dele. Até que um dia ela apareceu na casa da minha mãe por volta da meia-noite de um sábado porque tinha fugido de casa", disse.
Ana Paula explicou ainda que no dia seguinte, Davi invadiu a casa da sua mãe jogando pedras e chamando pela mulher, que não teve o nome divulgado.
"Ele invadiu a casa da minha mãe com pedradas, quase machucou minha mãe que é uma idosa de 72 anos, chutando o portão de madrugada, sendo super agressivo, a gente viu uma versão dele que não conhecemos, ficamos surpresos porque não tínhamos visto esse lado agressivo dele, ai ficamos muito chateados porque minha mãe podia ter sofrido um infarto, meu pai também tem 80 anos, aí fomos ver o outro lado dele nesse momento", disse.
Medida Protetiva
Após esse episódio, a mulher foi à delegacia e entrou com um pedido de medida protetiva contra Davi, que foi aceito. Ainda segundo a tia, ela chegou a pedir para a filha também, mas foi negado, que precisava ter convívio com o pai ao menos uma vez na semana.
"Quando aconteceu dela fugir, ela foi na Delegacia da Mulher, fez exame de corpo e delito, conseguiu a medida, pediu a medida pra filha, mas não deram, falaram que ele tinha direito de ver uma vez na semana, só que aí a irmã se prontificou de fazer essa ponte, a primeira vez ele levou ela pra uma praça e foi tudo bem e a segunda aconteceu isso, nós ficamos sabendo por uma vizinha, que contou que a casa dele estava pegando fogo, mas não tínhamos ideia da gravidade", lamentou Ana Paula.
Vítima não podia lavar nem o próprio cabelo
Segundo Ana Paula, a mulher que não teve o nome divulgado, vivia uma série de privações e passou anos em cárcere privado sem revelar à família.
"Só depois da briga que ela contou o que vinha passando na vida a dois com ele, cárcere privado, privações de levar a filha na escola, de ter um celular com um chip pra ligar pra própria família, comia só o que ele queria, até o próprio cabelo dela ele que lavava, ele era um doente, um homem possessivo, ele inventava doenças que a criança não tinha pra usar como desculpa pra ela não sair", disse.
No dia que fugiu, a vítima aproveitou o momento em que Davi foi tomar banho. "Ela conseguiu escapar e uma vizinha deixou o portão encostado, porque essa vizinha já tinha presenciado agressões, foi quando ela pegou um mototáxi com a filha e chegou debaixo de chuva num sábado de madrugada na casa da minha mãe", disse.
O crime
Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque, tia de Luiza e mãe de Ana Beatriz, levou a sobrinha para ver o pai, acompanhada na filha, nesta sexta (22).
Quando chegaram na casa, as vítimas foram abordadas por Davi. Natasha foi amarrada e torturada. Depois, ele deu marteladas nas duas meninas. Por fim, ele ateou fogo na casa e fugiu em um carro.
Natasha conseguiu se soltar e levou os corpos das crianças até o portão, quando foi socorrida por vizinhos, que acionaram a Polícia Militar.
Luiza e Natasha foram socorridas para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. A menina morreu ao dar entrada na unidade. Já Natasha, segundo a direção do hospital, tem estado de saúde grave, com diversas queimaduras. Ana Beatriz foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas chegou sem vida.
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