Coletiva com o governador Cláudio Castro e Ricardo Cappelli, secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança PúblicaCleber Mendes
Publicado 06/10/2023 14:30 | Atualizado 06/10/2023 19:31
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Rio - O governador do Rio, Cláudio Castro, afirmou, no início da tarde desta sexta-feira (6), que está "totalmente descartada" qualquer tipo de motivação política para a execução que matou três médicos na Barra da Tijuca, na madrugada de quinta-feira (5). Em coletiva de imprensa no Palácio Guanabara, na Zona Sul do Rio, Castro afirmou que as investigações continuam contra o crime organizado, que chamou de máfia. O governador do Rio defendeu a união de forças estaduais e federais para combater a criminalidade. 

"O problema não é do estado do Rio, é do Brasil. Nós só conseguiremos ter sucesso se for um combate de todos. Nós não estamos mais falando de uma briga de milicianos, traficante. Estamos falando de uma verdadeira máfia, que verdadeiramente tem entrada nas instituições, nos poderes, no comércio, nos serviços e inclusive no sistema financeiro nacional, que cada dia mais possuem suas próprias estruturas, inclusive, seus próprios tribunais", disse o governador.
Cláudio Castro afirmou que a máfia se expande por todo o território nacional e que no Rio de Janeiro foram apreendidas neste ano mais de 4 mil armas, sendo 472 fuzis. O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, acrescentou que foram apreendidos sete mil celulares em presídios do Rio neste ano.
"Eu não apoiei o presidente Lula, o presidente Lula não me apoiou. Mas essa não é uma situação nem política, nem partidária. É uma questão de Segurança Pública e que temos que dar as mãos, deixando ideologia de lado. O que vale é garantir a vida de cada cidadão desse estado e desse país. Por isso estamos irmanados, forças estaduais e federais", reforçou Castro.  
Castro agradeceu o governo de São Paulo e ao ministério da Justiça pela colaboração do caso, mas afirmou que a polícia paulista não colaborará mais na investigação. "Em menos de 12 horas a Polícia Civil já sabia a principal linha de investigação, as motivações do crime, a facção e o roteiro do veículo", parabenizou. "A motivação política está completamente descartada. O apoio da Polícia de São Paulo não há mais necessidade, uma vez que nós já sabemos a motivação do crime. Mais uma vez agradeço ao governador Tarcísio (São Paulo)", afirmou.

O governador do Rio ressaltou o fato de os criminosos terem cometido o crime em um local com câmeras. "Não se trata de 'gente boazinha' da comunidade. São criminosos sanguinários, que têm que ser combatidos com a mão forte do estado. As investigações continuam e serão ampliadas. Iremos até o fim para combater essa máfia que atua no Rio e no Brasil inteiro e tem causado medo à população", acrescentou.
O secretário da Polícia Civil, José Renato Torres, afirmou que dos quatro corpos encontrados na noite de quinta-feira, três já foram identificados no IML. "Um deles, identificado, era objeto da investigação", informou Torres. Após o governador afirmar que a motivação política estava descartada, o secretário da Polícia Civil ressaltou que o inquérito está em aberto e que não pode ser concluído em tão pouco tempo. "O inquérito está aberto. Todas as provas que estão sendo juntadas levam para a primeira linha de investigação, mas não descartamos qualquer outra. O inquérito tem só 48 horas. Um crime grave não vai ser solucionado nesse espaço de tempo curtinho", pontuou o secretário da Polícia Civil. 

Torres disse que vai investigar e punir os criminosos que assassinaram os executores. "Nós vamos tratar com o mesmo rigor que tratamos o crime do quiosque, quem mandou matar esses indivíduos que eram objeto de investigação da Polícia Civil. Porque quem tem a legítima força é o estado, através de suas forças policiais. Nós vamos submetê-los ao rigor da lei. Se houve esse pseudotribunal. De que maneira foi feita essa reunião, para mim, pouco importa. A minha orientação para a Delegacia de Homicídios é que identifiquem cada um dos participantes e que sejam submetidos ao rigor da lei", completou o secretário de Polícia Civil do Rio.
Cláudio Castro, por sua vez, afirmou que os suspeitos do caso seriam presos se não tivessem sido mortos e que o estado vai apurar se havia mais criminosos envolvidos no caso. "Até eles se indignaram com a ação dos seus próprios e fizeram essa punição interna. Isso não altera absolutamente nada. O ímpeto que estávamos, vamos continuar as investigações. Até porque agora temos que achar quem fez esse segundo assassinato. Tem mais elementos de investigação. A Polícia Federal vai nos ajudar nesse processo", afirmou o governador.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, também participou da coletiva de imprensa e afirmou que a pasta vai ampliar o apoio de inteligência ao governo do Rio. "O ministro Dino determinou e faremos ampliar o apoio ao governo do Rio. Vamos ampliar a ação de inteligência, reeditando o que foi a Missão Suporte que identificou e prendeu dezenas de líderes de organizações criminosas", declarou.

O número 2 do Ministério da Justiça afirmou que nada muda em relação ao apoio oferecido no enfrentamento ao tráfico na comunidade da Maré. "Não muda absolutamente nada. Queremos fazer um trabalho com transparência. Ninguém está em busca de pirotecnia. Nós estamos atrás da efetividade e harmonia dos poderes porque o adversário está do outro lado", afirmou Cappelli.
Na sexta-feira da semana passada (29) o governador do Rio e o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, se reuniram para discutir as ações das forças estaduais e federais que vão atuar no Complexo da Maré, na Zona Norte. De acordo com as autoridades, os principais pilares investidos na ação serão tecnologia, investigação e inteligência. A ação foi adiada após questionamentos do Ministério Público Federal do Rio. Ricardo Cappelli afirmou que o planejamento será executado, após reunião com o órgão.
Polícia encontra corpos

A Polícia Civil encontrou, na noite desta quinta-feira (5), quatro corpos apontados como os de traficantes que participaram da morte dos médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, durante a madrugada do mesmo dia. Os corpos estavam dentro de dois carros nos arredores da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, na mesma região.

A polícia aponta que os suspeitos podem ter sido mortos pelo ''tribunal" do tráfico no Complexo da Penha, na Zona Norte. Isso porque a facção Comando Vermelho (CV), da qual faziam parte, estaria contrariada com a repercussão do caso, já que inocentes morreram. Informações preliminares afirmam ainda que antes da execução dos traficantes houve uma reunião na Vila Cruzeiro, na Penha, com alta cúpula da organização criminosa e os suspeitos de participarem do crime.

Três corpos estavam dentro de um carro na Rua Abrahão Jabour, nas proximidades do Riocentro; e outro no segundo veículo, na Avenida Tenente-Coronel Muniz de Aragão, na Gardênia Azul. Os carros foram rebocados para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para perícia.
Todos os mortos já foram identificados. São eles: Philip Motta Pereira, o Lesk, Ryan Nunes de Almeida, o Ryan, Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva dos Reis. Lesk, que estava no veículo localizado na Gardênia, era miliciano e trocou de lado, passando a integrar o Comando Vermelho sendo abrigado por criminosos do Complexo da Penha. O ex-miliciano teria sido ainda o responsável por chefiar a invasão de traficantes e tomada do controle da comunidade da Gardênia Azul, em Jacarepaguá. Já Ryan é apontado como integrante do grupo liderado por Lesk, chamado de "Equipe Sombra".
Além dos quatro mortos, a Civil suspeita do envolvimento de outros dois traficantes na execução dos médicos. São eles: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Bruno Pinto Matias, vulgo Preto Fosco, ambos foragidos.

Os principais suspeitos de participar da execução de médicos na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, vinham sendo monitorados pela força-tarefa Polícia Civil havia meses. Os corpos de dois deles — Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Nunes de Almeida, o Ryan — foram localizados em dois carros, na noite de quinta-feira (5).

Três médicos foram mortos a tiros e um quarto ficou ferido em um quiosque na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, na madrugada de ontem. O sobrevivente está estável e lúcido. As vítimas atuavam em São Paulo e estavam de passagem pela cidade devido a um congresso internacional de ortopedia.

Imagens de câmera de segurança da região mostraram quando suspeitos desceram de um carro branco e atiraram diversas vezes contra os profissionais de saúde. Os ortopedistas estavam sentados no quiosque em frente ao Hotel Windsor, onde estavam hospedados, quando, no início da madrugada, por volta de 1h, um carro branco parou, e ao menos três homens vestidos de preto e armados desembarcaram e atiraram contra eles.

Um dos criminosos chegou a voltar para atirar mais em uma das vítimas que tentava se refugiar atrás do quiosque.

Mais de 30 tiros foram disparados no ataque. Durante a perícia realizada no local, a Polícia Civil recolheu 33 estojos de munição calibre 9mm. Polícia realizou ainda uma perícia nos quartos das vítimas, onde nada relevante foi encontrado. Apenas celulares foram apreendidos.

Médico pode ter sido confundido com miliciano

A principal linha de investigação da polícia é que Perseu Ribeiro Almeida tenha sido confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos, que mora próximo ao local onde ocorreu o crime.

Taillon é apontado como líder da milícia que atua na região de Rio das Pedras, Muzema, Gardênia Azul e adjacências. Ele está em regime semiaberto desde março e tem como residência fixa um apartamento na Avenida Lúcio Costa, a menos de 1 km do quiosque onde as vítimas foram executadas.

O miliciano travou uma disputa territorial com traficantes do Comando Vermelho (CV) no início deste ano, liderados por Philip Motta, o Lesk. Em janeiro, a maior facção do Rio de Janeiro invadiu comunidades na Gardênia Azul, Muzema, Itanhangá e Rio das Pedras. A disputa entre os criminosos rivais também acontece na Cidade de Deus, Tirol, Complexo da Covanca e Praça Seca. Na Zona Norte, o conflito ainda ocorre nos Morros do Fubá e Campinho.

Carro na Cidade de Deus

Segundo a Polícia Civil, inicialmente o carro dos criminosos que executaram os médicos na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, seguiu para a comunidade da Cidade de Deus. O trajeto durou cerca de 40 minutos e foi mapeado pelos policiais que investigam o caso.

Os agentes rastrearam imagens de câmeras de segurança e concluíram que o veículo saiu do local da execução em direção ao quebra-mar da Barra da Tijuca. Em seguida, os criminosos foram para a Cidade de Deus, totalizando cerca de 17Km.

Traficantes da facção Comando Vermelho atuam na comunidade e a usam como base na disputa territorial com milicianos da região.

Enterro das vítimas

Os corpos de Marcos Corsato, Diego Bomfim e Perseu Almeida foram liberados no IML na quinta-feira (5), por amigos e parentes, e seguiram para as cidades de Presidente Prudente e Sorocaba, ambas no estado de São Paulo, e para Salvador, na Bahia, respectivamente.
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