Miliciano (à esquerda) e o médico Perseu tinham semelhanças físicasReprodução

Rio - A Polícia Civil encontrou, na noite desta quinta-feira (5), quatro corpos de traficantes suspeitos de participarem da morte dos médicos que ocorreu em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, durante a madrugada do mesmo dia. Os corpos estavam dentro de dois carros nos arredores da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, na mesma região.
Os corpos foram identificados como sendo de Philip Motta Pereira, o Lesk, Ryan Nunes de Almeida, o Ryan, Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva dos Reis. Além dos quatro mortos, a Civil suspeita do envolvimento de outros dois traficantes na execução dos médicos. São eles: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Bruno Pinto Matias, vulgo Preto Fosco, ambos foragidos.
Investigações apontam que os suspeitos podem ter sido mortos pelo ''tribunal" do tráfico do Complexo da Penha, na Zona Norte. Isso porque a facção Comando Vermelho (CV), da qual faziam parte, estaria contrariada com a repercussão do caso, já que inocentes morreram. Informações preliminares afirmam ainda que antes da execução dos traficantes houve uma reunião na Vila Cruzeiro, na Penha, com alta cúpula da organização criminosa e os suspeitos de participarem do crime.

Dos mortos, três estavam dentro de um carro na Rua Abrahão Jabour, nas proximidades do Riocentro; e outro no segundo veículo, na Avenida Tenente-Coronel Muniz de Aragão, na Gardênia Azul. Os carros foram rebocados para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) onde passaram por perícia.

Lesk, que era miliciano e trocou de lado, passando a integrar o Comando Vermelho sendo abrigado por criminosos do Complexo da Penha. Lesk teria sido ainda o responsável por chefiar a invasão de traficantes e tomada do controle da comunidade da Gardênia Azul, em Jacarepaguá. Ryan é suspeito de integrar o grupo liderado por Lesk, chamado de "Equipe Sombra".
Médico pode ter sido confundido com miliciano

Os médicos Diego Bonfim, 35 anos, Marcos de Andrade Corsato, 62, Perseu Ribeiro Almeida, 33, e Daniel Sonnewend Proença, 32, o único sobrevivente, foram atacados a tiros por criminosos armados enquanto estavam em um quiosque na orla da Praia da Barra, na altura do Hotel Windsor. Eles eram de São Paulo e estavam na cidade para o 6º Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo.

A principal linha de investigação é que o Perseu Ribeiro Almeida tenha sido confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos, que mora próximo ao local onde ocorreu o crime.


Taillon é apontado como líder da milícia que atua na região de Rio das Pedras, Muzema, Gardênia Azul e adjacências. Ele está em regime semiaberto desde março e tem como residência fixa um apartamento na Avenida Lúcio Costa, a menos de 1 km do quiosque onde as vítimas foram executadas.

O miliciano travou uma disputa territorial com traficantes do Comando Vermelho (CV) no início deste ano, liderados por Philip Motta, o Lesk. Em janeiro, a maior facção do Rio de Janeiro invadiu comunidades na Gardênia Azul, Muzema, Itanhangá e Rio das Pedras. A disputa entre os criminosos rivais também acontece na Cidade de Deus, Tirol, Complexo da Covanca e Praça Seca. Na Zona Norte, o conflito ainda ocorre nos Morros do Fubá e Campinho.

Já Perseu era membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e especialista em cirurgia do pé e tornozelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IOT-HCFMUSP). Segundo o cunhado da vítima, Hugo Dantas, era a primeira vez de Perseu no Rio de Janeiro e ele se mostrou bastante animado com a viagem e o congresso.

Carro na cidade de Deus

Segundo a Polícia Civil, inicialmente o carro dos criminosos que executaram os médicos na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, seguiu para a comunidade da Cidade de Deus. O trajeto durou cerca de 40 minutos e foi mapeado pelos policiais que investigam o caso.

Os agentes rastrearam imagens de câmeras de segurança e concluíram que o veículo saiu do local da execução em direção ao quebra-mar da Barra da Tijuca. Em seguida, os criminosos foram para a Cidade de Deus, totalizando cerca de 17Km.

Traficantes da facção Comando Vermelho atuam na comunidade e a usam como base na disputa territorial com milicianos da região.