Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Nunes de Almeida, o Ryan, estão entre os mortosReprodução

Rio - Entre os mortos pelo tribunal do tráfico do Comando Vermelho (CV), após a execução de três médicos na Barra da Tijuca, estão criminosos que tinham envolvimento direto com a guerra entre a milícia e traficantes na Zona Oeste do Rio. Considerado uma das principais frentes nesta disputa por territórios, Philip Motta Pereira, o Lesk, foi encontrado morto na noite de quinta-feira (5), no porta-malas de um carro na Gardênia Azul, também na Zona Oeste.
Lesk era miliciano e trocou de lado, passando a integrar o CV e sendo abrigado por criminosos do Complexo da Penha, na Zona Norte. De acordo com as investigações, o criminoso foi responsável por chefiar a invasão de traficantes na comunidade da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, e tinha a ambição de tomar o bairro de Rio das Pedras. Para isso, ele passou a traçar planos para executar Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos. O miliciano, filho do também miliciano Dalmir Pereira Barbosa, é apontado como líder da quadrilha que domina Rio das Pedras, Muzema e adjacências.
No entanto, ao armar uma emboscada para Taillon, Lesk teria comandado a execução de três médicos por engano na madrugada de quinta-feira (5). A semelhança física entre o ortopedista Perseu Ribeiro Almeida, de 33 anos, e Taillon levou os criminosos a executar os médicos por engano. 
Lesk era considerado um dos bandidos mais procurados pela polícia no estado do Rio de Janeiro. O criminoso teve a prisão preventiva decretada em 2019 pelo crime de associação para o tráfico, mas estava foragido.
Ryan, braço direito de Lesk, também morreu
A Polícia Civil identificou também que Ryan Nunes de Almeida, o Ryan, está entre os mortos. Considerado braço direito de Lesk na guerra entre milícia e CV, ele é suspeito de integrar o grupo liderado pelo ex-miliciano, chamado de 'Equipe Sombra'.
O criminoso foi preso em dezembro de 2020 por tráfico de drogas, posse irregular de arma e corrupção de menores. Ele conseguiu fugir um ano depois da prisão.
Também estão entre os mortos pelo 'tribunal do tráfico' os suspeitos Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva dos Reis.
Além de Lesk e Ryan, a Civil suspeita do envolvimento de outros dois traficantes na execução dos médicos. São eles: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Bruno Pinto Matias, vulgo Preto Fosco. 
'Verdadeira máfia' diz Castro sobre violência do Rio
Em coletiva de imprensa no Palácio Guanabara, na Zona Sul do Rio, nesta sexta-feira (6), Castro afirmou que as investigações continuam contra o crime organizado, que chamou de máfia. "O problema não é do estado do Rio, é do Brasil. Nós só conseguiremos ter sucesso se for um combate de todos. Nós não estamos mais falando de uma briga de milicianos, traficante. Estamos falando de uma verdadeira máfia, que verdadeiramente tem entrada nas instituições, nos poderes, no comércio, nos serviços e inclusive no sistema financeiro nacional, que cada dia mais possuem suas próprias estruturas, inclusive, seus próprios tribunais", disse o governador.
Castro afirmou que a máfia se expande por todo o território nacional e que no Rio de Janeiro foram apreendidas neste ano mais de 4 mil armas, sendo 472 fuzis. O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, acrescentou que foram apreendidos sete mil celulares em presídios do Rio neste ano.
O governador do Rio ressaltou o fato de os criminosos terem cometido o crime em um local com câmeras. "Não se trata de 'gente boazinha' da comunidade. São criminosos sanguinários, que têm que ser combatidos com a mão forte do estado. As investigações continuam e serão ampliadas. Iremos até o fim para combater essa máfia que atua no Rio e no Brasil inteiro e tem causado medo à população", acrescentou.
O secretário da Polícia Civil, José Renato Torres, afirmou que dos quatro corpos encontrados na noite de quinta-feira, três já foram identificados no IML. "Um deles, identificado, era objeto da investigação", informou Torres. Após o governador afirmar que a motivação política estava descartada, o secretário da Polícia Civil ressaltou que o inquérito está em aberto e que não pode ser concluído em tão pouco tempo. "O inquérito está aberto. Todas as provas que estão sendo juntadas levam para a primeira linha de investigação, mas não descartamos qualquer outra. O inquérito tem só 48 horas. Um crime grave não vai ser solucionado nesse espaço de tempo curtinho", pontuou o secretário da Polícia Civil.

Torres disse que vai investigar e punir os criminosos que assassinaram os executores. "Nós vamos tratar com o mesmo rigor que tratamos o crime do quiosque, quem mandou matar esses indivíduos que eram objeto de investigação da Polícia Civil. Porque quem tem a legítima força é o estado, através de suas forças policiais. Nós vamos submetê-los ao rigor da lei. Se houve esse pseudotribunal. De que maneira foi feita essa reunião, para mim, pouco importa. A minha orientação para a Delegacia de Homicídios é que identifiquem cada um dos participantes e que sejam submetidos ao rigor da lei", completou o secretário de Polícia Civil do Rio.
Cláudio Castro, por sua vez, afirmou que os suspeitos do caso seriam presos se não tivessem sido mortos e que o estado vai apurar se havia mais criminosos envolvidos no caso. "Até eles se indignaram com a ação dos seus próprios e fizeram essa punição interna. Isso não altera absolutamente nada. O ímpeto que estávamos, vamos continuar as investigações. Até porque agora temos que achar quem fez esse segundo assassinato. Tem mais elementos de investigação. A Polícia Federal vai nos ajudar nesse processo", afirmou o governador.