Zona Oeste viveu dia de terror e 35 ônibus foram queimados Marcos Porto / Agência O Dia
Publicado 24/10/2023 13:21
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Rio - Em meio às disputas territoriais entre grupos criminosos, que se intensificaram após a morte do miliciano "Ecko", em 2021, a violência armada teve um crescimento exponencial na Zona Oeste, reduto da milícia. Baseado no período entre janeiro de 2022 e outubro deste ano, um estudo revelou que houve aumento de 127% nas mortes nesta região. Já os tiroteios, cresceram 55,16%. O levantamento foi realizado pelo Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (GENI-UFF).
Para a jornalista e diretora fundadora do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Oliveira, a expansão da violência acontece desde 2021, após a morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, que era tio do "Faustão", morto durante uma operação da Polícia Civil, nesta segunda-feira (23). Ao DIA, Cecília, que também é cofundadora do Intercept Brasil, detalhou esta "árvore genealógica" da milícia.
"Desde 2021, com a morte do Ecko, o Rio está sendo disputado palmo a palmo. 'Zinho', que era irmão de Ecko, herdou naturalmente o controle e, agora, disputa o espólio da milícia com 'Tandera', seu ex-comparsa. O sobrinho de Ecko, Matheus da Silva Resende, conhecido como Faustão, foi morto. Faustão era herdeiro da maior milícia do Rio. Zinho, seu tio, é o miliciano mais procurado da cidade. Matheus era considerado o segundo na hierarquia, especialmente na região de Paciência, na Zona Oeste, berço da família", explicou Cecília.
A jornalista também disse que, em meio a essas disputas, o "Comando Vermelho (CV) viu uma oportunidade e entrou no páreo". Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o Abelha, é conhecido como "presidente do CV". Desde que saiu da cadeia, em 2021, Abelha está foragido e, desde então, foi responsável por diversos conflitos na Zona Oeste.  
Nesta segunda-feira, o Rio de Janeiro viveu um dia de terror com diversos ataques criminosos na Zona Oeste, que ocorreram como represália à morte de "Faustão". Foram destruídos 35 ônibus, sendo 20 da frota municipal, cinco articulados do BRT, e outros 10 de turismo e fretamento. Em apenas um dia, a cidade teve o maior número de ônibus queimados de sua história, segundo o Rio Ônibus.  
O levantamento do GENI-UFF e do Instituto Fogo Cruzado também se baseou em um recorte histórico entre 2006 e 2021. Segundo o estudo, em 16 anos, as áreas dominadas pelas milícias cresceram 387%. Agora, 10% de toda área territorial do Grande Rio está sob domínio das milícias.
No relatório, o mapeamento mostra que o poderio deste grupo é maior que o de todas as facções juntas, quando analisada a extensão territorial. "São 686,75 quilômetros quadrados, equivalente a 57,5% do território da capital, nas mãos da milícia. Comando Vermelho, Terceiro Comando, e ADA têm, respectivamente, 11,4%; 3,7% e 0,3% desse domínio. Pouco mais de um quarto do território (25,2%) ainda está em disputa", diz o documento.
Daniel Hirata é professor de sociologia e coordenador do GENI-UFF. Em entrevista ao DIA, Hirata explicou por quais motivos a Zona Oeste se tornou o antro das milícias. "Houve um padrão de crescimento urbano, sobretudo na preparação da cidade olímpica com os megaeventos na Zona Oeste, onde historicamente as milícias já estavam presente. Com esta expansão, os negócios da milícia foram lucrativos, pois existiu loteamento de áreas, construções imobiliárias, além da compra e venda de imóveis. Posteriormente, os grupos começaram a comandar uma série de serviços, como água, internet e gás de cozinha. Então, nessas duas últimas duas décadas e meia houve uma grande expansão das milícias", pontuou Daniel.
Os dados também mostram que as milícias controlam 74,2% das áreas ocupadas por grupos armados na capital. E 3 em cada 4 áreas controladas por criminosos no município está sob o domínio deste grupo paramilitar criminoso. Sobre os dados de mortes e tiroteios na Zona Oeste, é possível ver que mesmo sem o ano de 2023 ter acabado, o número de mortes mais do que dobrou em relação ao início de 2022. 
Com mais de 30 anos de experiência, o especialista na segurança pública do Rio, Vinícius Cavalcante, comentou sobre os ataques criminosos. "O que aconteceu nesta segunda-feira já era previsto. Foi terrorismo puro. As milícias são um 'câncer' que crescem a partir das forças de segurança. Tanto a milícia como o tráfico ocupam espaços e uma hora, consequentemente, haverá conivência de interesses. O que esses grupos fazem é difundir o terror: fazem com que as famílias daquelas regiões tenham medo e se submetam ao poder do crime. Agora, temos que adotar práticas anti-terroristas", disse Vinícius.
Em uma reunião com a cúpula da Segurança Pública do Rio nesta terça-feira (24), o governador Cláudio Castro afirmou que a polícia está muito perto de prender Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Castro disse ainda que o terror levado à Zona Oeste mostra o desespero do grupo paramilitar com a atuação das forças de segurança. "Estamos no caminho certo e essa reação mostra o desespero. Vamos continuar o trabalho. Ontem chegamos muito perto de prender o Zinho. Vamos seguir esse caminho, porque essa é a nossa prioridade".
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
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