Publicado 27/10/2023 17:12 | Atualizado 27/10/2023 18:56
Rio - Em sua primeira semana em casa com a filha Maya, de 6 anos, após o incêndio que matou o fisiculturista Hugo Nascimento na madrugada de 29 de julho, Larissa Viana, de 28 anos, começa a restabelecer uma rotina com a pequena, internada por quase três meses no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, após sofrer queimaduras em 70% do corpo.
Larissa considera o marido um herói. Ela acredita que o companheiro tenha levado a filha até a cozinha do apartamento do Condomínio Caminhos da Barra e voltado para salvar a cadela Isa, que também sobreviveu ao incêndio. A pet voltará à família na próxima quinta-feira (2). Quando a "poeira baixar", ela também pretende receber o motoboy Marllon, responsável por retirar a menina do apartamento na madrugada do incêndio.
Em meio à tragédia familiar, a produtora foi alvo de ataques e questionamentos sobre sua conduta durante o acidente. Ela diz que foi a primeira a conseguir sair do apartamento em busca de ajuda, a pedido de seu marido. Vizinhos chegaram a dizer que os dois haviam brigado aquela noite, o que ela desmente, e afirma que o casal, que estava junto há dez anos, pelo contrário, estava em uma fase ótima da relação.
Com menos de um ano morando no apartamento, aos poucos, o pai e mãe de Maya investiam na decoração do lar. Larissa diz que a onda de ataques passou e destaca que recebeu muito apoio e solidariedade.
A produtora, que agora tem na pele o nome de Maya e uma imagem do marido com a criança, recebeu a equipe do DIA na produtora em que trabalha, em Jacarepaguá, e resume a razão de viver: "É ela. A gente vai tentando se manter forte. E o meu motivo é ela mesmo para tudo".
Larissa considera o marido um herói. Ela acredita que o companheiro tenha levado a filha até a cozinha do apartamento do Condomínio Caminhos da Barra e voltado para salvar a cadela Isa, que também sobreviveu ao incêndio. A pet voltará à família na próxima quinta-feira (2). Quando a "poeira baixar", ela também pretende receber o motoboy Marllon, responsável por retirar a menina do apartamento na madrugada do incêndio.
Em meio à tragédia familiar, a produtora foi alvo de ataques e questionamentos sobre sua conduta durante o acidente. Ela diz que foi a primeira a conseguir sair do apartamento em busca de ajuda, a pedido de seu marido. Vizinhos chegaram a dizer que os dois haviam brigado aquela noite, o que ela desmente, e afirma que o casal, que estava junto há dez anos, pelo contrário, estava em uma fase ótima da relação.
Com menos de um ano morando no apartamento, aos poucos, o pai e mãe de Maya investiam na decoração do lar. Larissa diz que a onda de ataques passou e destaca que recebeu muito apoio e solidariedade.
A produtora, que agora tem na pele o nome de Maya e uma imagem do marido com a criança, recebeu a equipe do DIA na produtora em que trabalha, em Jacarepaguá, e resume a razão de viver: "É ela. A gente vai tentando se manter forte. E o meu motivo é ela mesmo para tudo".
Que tipo de ajuda a senhora está recebendo após o incêndio?
"Quando tudo aconteceu, muita gente ajudou. Teve o lado ruim [dos boatos], mas teve um lado muito bom, muita gente se incomodou, muita gente ajudou e depois de um tempo precisei ter o meu processo de ficar mais reservada, na minha. Mas, sempre recebi apoio. Alguns ajudaram com a companhia, minha mãe ficou o tempo todo lá comigo, pessoas que eu não conheço me ajudaram com palavras de conforto e carinho".
Como está sendo seguir a vida, agora que a Maya teve alta?
"Precisei desse tempinho mais na minha para poder cuidar da Maya. Na verdade, eu não expus como foi todo o processo que a gente estava passando. Foi muito doloroso, muito pesado. Eu vivo como se tudo tivesse acontecido ontem.
Agora que a gente voltou para casa, eu acho que vai vir a parte mais difícil. Nunca mais a vida vai ser como antes. Vamos ficar muito perto da realidade, é onde vai vir a falta [do Hugo] na rotina. Eu tenho sentido muito. Mas todos os processos foram muito difíceis e tomou uma proporção muito grande, que eu não imaginava. Eu sofri muito com isso, Maya sofreu muito com isso, minha família sofreu muito com isso. Eu realmente não tive tempo de cuidar de mim porque o meu tempo inteiro foi cuidando da Maya que precisava muito e ainda vai precisar muito, muito mesmo de cuidado".
Como a Maya está lidando com esse processo pós-incêndio?
"A Maya é uma criança muito feliz. Ela é muito alto astral, então é uma caixinha de surpresas e surpreende a gente todos os dias. Ela tem ciência do que aconteceu, até porque ela estava lúcida a todo momento. Na minha casa, a gente sempre teve conversa. Então, ela é uma criança muito compreensiva, fizemos tudo no tempo dela e ela está bem. Melhor até do que a gente imaginou. Até as pessoas do hospital se surpreendiam com o jeito dela. Ela tem muita vontade de ficar boa, gente. A Maya é muito forte. Olho para a minha filha e pergunto, 'Meu deus, como é que ela aguentou?'."
O que mudou na rotina de Maya?
"Não tinha muito tempo que a gente estava ali. Iríamos fazer um ano em agosto. A gente estava adequando uma rotina. Foi muito difícil conseguir uma creche em Jacarepaguá, a gente correu muito atrás.
O meu marido era um cara muito ligado à saúde, muito ligado ao trabalho, então a gente tinha nossa rotina semanal, coisinhas que a gente fazia no final de semana. Mudou muito. A gente tinha essa preocupação de fazer muitas coisas com ela, pra ela lembrar. Todo sábado a gente ia para a feira e tomava café da manhã na padaria. Isso é uma memória muito viva que ela tem. Ela até falou isso lá no hospital.
Eu falei: 'Filha, não se preocupa, a gente vai tomar nosso café da manhã na padaria sábado', mas mudou total, né? A vida dela vai ser outra agora. É outra parte que a gente tem que ser forte. Passar essa fortaleza para ela.
Escola, ela não vai mais esse ano. A Maya quase perdeu o movimento das mãos. Então vai precisar de muita fisioterapia. Os dedinhos dela ainda estão tortinhos. Vai precisar usar aquela meia de compressão. A gente torce muito e vai fazer de tudo para que ano que vem a gente consiga adequar uma rotina, mas por enquanto tem algumas coisas que ela tá bem limitada, sendo bem sincera."
Onde a senhora e Maya estão morando?
"A minha mãe me cedeu um espaço no terreno dela, em Pedra de Guaratiba, onde eu consegui levantar uma casinha. Eu precisava desse suporte da família mais do que nunca. Então estou lá, perto de família, perto da minha mãe."
Como foi para a senhora o período em que Maya ficou internada por quase três meses?
"A rotina do hospital era muito pesada. Era o tempo todo, né? Eu virei quase uma enfermeira, já estava fazendo o procedimento de aspiração para aliviar a garganta dela. Quando foi beirando os dois meses - eu tenho muito apoio de amigos, tem a minha chefe, que é minha grande amiga, minha família - eu comecei a receber muitos conselhos: 'Larissa, vamos tentar voltar aos poucos'. Eu levava o meu computador para o hospital, abria um pouquinho, via um e-mailzinho ou outro. Claro, a cabeça você pode imaginar como estava, mas eu tentava e fui tentando driblar aquilo tudo.
Eu pensava: 'Meu Deus, não vejo a hora de passar essa rotina, da Maya estar em casa, da gente estar bem para eu conseguir de fato ir trabalhar. Hoje eu vejo como fazer coisas simples é importante. Sair para trabalhar, faz muita falta. E a situação que a Maya se encontrava, não tinha prazo para acabar. Cada um falava uma coisa: oito, sete, seis meses de internação. Era uma situação desesperadora. Saí do hospital na quinta passada (19) e agora que estou retomando a minha rotina."
Como foi a dinâmica do salvamento de vocês?
"Como eu fui a primeira a descer, eu não sabia muito bem no início o que de fato tinha acontecido. Quando eu saí do apartamento, porque meu marido pediu para eu sair e pedir ajuda, eu já não conseguia mais retornar lá para dentro. A ideia era buscar ajuda. Depois eu tive acesso ao Marllon, que foi quem tirou a minha filha lá de dentro. Eu sempre vou usar o termo herói para meu marido. Ele é o herói da minha filha, não tem outro título para dar para outra pessoa. É o meu herói também. Eu estava com ele há muito tempo. Era herói de mil coisas.
O Marllon foi a pessoa que tirou a Maya lá de dentro, era uma pessoa que só estava passando pelo condomínio e se prontificou a ajudar. Eu só tive conhecimento disso dias depois. Parece que ele tinha um curso de bombeiro, coisa de Deus mesmo. Acho que naquela noite, de tanto eu clamar a Deus: 'Me ajuda, me ajuda, me ajuda', ele apareceu. Porque não tem explicação. Ele, de fato, foi quem tirou a Maya lá de dentro."
Seu marido, após tirar Maya do quarto, voltou para salvar a cadela da família?
"A gente fica tentando montar o quebra-cabeça. De fato o que aconteceu, eu não tenho como dizer. Em um vídeo, que eu não tenho coragem de assistir, falam que ele aparece na varanda e joga alguma coisa e a nossa cachorra estava ali. Então, essa é a única explicação mais lógica. A Isa [cadela] era dele, ele era apaixonado pela cachorra.
Ela sofreu umas queimaduras no corpo, fraturou um pouquinho a patinha. Parecia que tinha sido arremessada mesmo. Depois eu tive a informação pelo Marllon que ela saiu lá de dentro do apartamento. A gente imagina que ela foi arremessada e conseguiu sair."
Ela sobreviveu?
"Sobreviveu. Vou pegá-la na quinta-feira que vem (dia 2). A gente teve o apoio de um vereador, que ajudou muito. Por isso que eu te falo: apareceram muitas pessoas boas para me ajudar. Ela ficou numa clínica veterinária. Quando eu tive o primeiro contato com ela, não imaginava que tinha se queimado tanto. A situação dela foi grave também. E a clínica abraçou. É um doce de cadelinha. Eu e Maya estamos loucas por esse reencontro. A Maya vai ficar muito, muito feliz."
A senhora manteve contato com Marllon?
"Sempre falo com o Marllon. Ele sempre pergunta da Maya. Eu falo com ele que quando a poeira baixar, vou fazer um churrasco aqui em casa. Vai acontecer esse encontro. Agora, Maya ainda está se familiarizando com tudo. Ela fala que lembra de um moço e vai conhecer esse moço. Ele é um doce de pessoa. Ele me diz para agradecer a Deus e eu agradeço a Deus e a ele."
"A gente fica tentando montar o quebra-cabeça. De fato o que aconteceu, eu não tenho como dizer. Em um vídeo, que eu não tenho coragem de assistir, falam que ele aparece na varanda e joga alguma coisa e a nossa cachorra estava ali. Então, essa é a única explicação mais lógica. A Isa [cadela] era dele, ele era apaixonado pela cachorra.
Ela sofreu umas queimaduras no corpo, fraturou um pouquinho a patinha. Parecia que tinha sido arremessada mesmo. Depois eu tive a informação pelo Marllon que ela saiu lá de dentro do apartamento. A gente imagina que ela foi arremessada e conseguiu sair."
Ela sobreviveu?
"Sobreviveu. Vou pegá-la na quinta-feira que vem (dia 2). A gente teve o apoio de um vereador, que ajudou muito. Por isso que eu te falo: apareceram muitas pessoas boas para me ajudar. Ela ficou numa clínica veterinária. Quando eu tive o primeiro contato com ela, não imaginava que tinha se queimado tanto. A situação dela foi grave também. E a clínica abraçou. É um doce de cadelinha. Eu e Maya estamos loucas por esse reencontro. A Maya vai ficar muito, muito feliz."
A senhora manteve contato com Marllon?
"Sempre falo com o Marllon. Ele sempre pergunta da Maya. Eu falo com ele que quando a poeira baixar, vou fazer um churrasco aqui em casa. Vai acontecer esse encontro. Agora, Maya ainda está se familiarizando com tudo. Ela fala que lembra de um moço e vai conhecer esse moço. Ele é um doce de pessoa. Ele me diz para agradecer a Deus e eu agradeço a Deus e a ele."
O que provocou o incêndio?
"Tem coisa na vida que não vai ter explicação. Eu busco porque eu acho que teria que ter um responsável. É muito sem explicação. Durmo e acordo com a mesma pergunta: Como ele não conseguiu sair dali? Pra mim, o meu marido era como se fosse um super-herói. Nada de mal acontece com esse homem. Ele protege de tudo e todos. Mas, para mim, o ponto que não sai da minha cabeça é que esse curto-circuito não tinha nem que ter acontecido. Eu durmo e acordo com isso na minha cabeça.
Não sei quando eu vou ter paz, mas o laudo diz que foi um curto. Para mim, deveria ter um responsável: o condomínio, a construtora. Alguém e por algum motivo. Essa é uma dúvida que vai permanecer na minha cabeça pelo visto."
A senhora disse em um vídeo, publicado em sua rede social, que Maya já sabia que o pai tinha 'virado uma estrelinha'.
"Eu não conseguia de fato tocar muito nesse assunto com ela porque é uma ferida que dói muito em mim também. Eu precisava me preparar para abordar isso. E aí, o Hospital Souza Aguiar me ajudou muito. A gente conheceu uma psicóloga, a Suelen, que acompanhou o nosso caso. Ela dizia para eu esperar um pouco ela melhorar. Maya era muito grudada no pai dela, então a gente tinha muito medo de que quando ela conseguisse falar (ela ficou um período sem falar), como é que a gente iria abordar isso.
Sempre que ela me perguntava dele, eu não tinha nem o que dizer. Ou começava a chorar, ou desconversava. Teve um dia que ela resolveu falar, mas não foi comigo, foi com a minha mãe. Ela falou que lembrava de algumas coisas dele [durante o incêndio].
A minha mãe conversou com ela. Ela é uma criança muito doce. Eu só consegui ter essa conversa um bom tempo depois. Eu até ganhei um livro da minha chefe que se chama 'O outro Lado'. É um livrinho de criança que fala sobre essa questão de existir uma vida após a morte. A gente vai tentando buscar conforto.
Li esse livrinho para ela e fui... A Suelen me dava material que falava sobre o luto, a questão do luto na infância, como a gente aborda e eu fui estudando aquilo para poder tocar nesse assunto. Mas ela me surpreendeu. Sente muita saudade, vê muitos vídeos dele no Instagram e a gente não priva ela disso porque eu acho que é uma forma dela matar a saudade. A gente assiste junto. É muito doloroso, mas a gente tem conseguido se manter forte, né? Para passar essa fortaleza para ela."
Qual é sua razão de viver, de continuar?
"Ah, é ela. Com certeza. Depois que a gente passa por uma situação dessa, que é uma situação que a gente não imagina, de fato tem um momento que a gente fica buscando motivos para continuar e tem que continuar. A Maya precisa de muitos cuidados agora. As queimaduras foram muito graves. A vida dela não vai mais ser a mesma. Ela precisa que eu e as pessoas à nossa volta consigam passar essa segurança.
Eu como mãe, já penso um pouco lá na frente. Como vai ser na escola? Ela ainda tem marcas, que a gente sabe que, de repente com o tempo, podem melhorar, mas enquanto não melhora, como é que a gente vai lidar com isso?
A gente vai tentando se manter forte. E o meu motivo para tudo é ela. Toda vez que desanimo, eu penso nela. Quando não estou a fim de sair, eu tenho que ir, eu tenho que trabalhar. A vida continua e é assim."
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