Sobrevivente Daniel Proença conta como se recupera de ataque a quiosque na BarraReprodução/ TV Globo
Publicado 18/12/2023 09:30 | Atualizado 18/12/2023 09:48
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Rio - O sobrevivente à execução dos três médicos na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na madrugada do dia 5 de outubro, Daniel Proença contou em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, como se recupera do ataque. Ele afirmou que após priorizar sua própria recuperação e autocuidado, vai representar os colegas no cuidado ao próximo.
Daniel vive uma rotina diária de fisioterapia para recuperar os movimentos. Ele estima que tenha sido alvo de 17 tiros e conta que a parte mais dura do incidente foi ver seus amigos serem mortos. O sobrevivente afirma que a força para retomar a vida vem da gratidão por estar vivo.
"Muda-se um pouco a cabeça, o jeito de se ver um pouco as coisas. Entende-se um pouco mais da brevidade da vida. Está sendo todo dia uma reabilitação. A gente sabe que tem dias bons, dias piores. É um processo longo, mas botei na minha cabeça que todo dia tem que ser uma superação, um degrau a mais", contou Daniel.
O médico contou que estava no quiosque com os colegas Perseu Almeida e Diego Ralph, compartilhando confidências sobre a carreira e o futuro. O veterano Marcos de Andrade Corsato juntou-se ao grupo ao passar pelo local.
Daniel lembra que pouco antes de um carro branco parar no quiosque para atacá-los a tiros, outro veículo havia passado soltando fogos em comemoração a uma classificação do Fluminense para a semifinal da Libertadores. Por isso, o sobrevivente achou tratar-se de fogos, quando ouviu os disparos. Ele conta que sentiu as costas quentes, protegeu o rosto e caiu. "Nesse momento, eu comecei a ter noção do real, da gravidade", disse.
Perseu e Marcos Corsato morreram na hora. Diego Ralph chegou a pedir socorro, lembra o amigo, mas morreu no hospital. "Eu cheguei a ver meus amigos executados e sabia que eu perdi os três. O doutor Corsato, quando olhei para o lado, já estava evidente que ele não respondia, já estava na cadeira com os braços esticados. O Perseu, vi ele tentando fugir, infelizmente o executor esticou o braço direto e disparou alguns tiros, ele parou de se mexer, e eles foram embora. O Diego começou a gritar".
O quarto médico, Daniel Proença, foi baleado mas sobreviveu ao ataque. Ele conta que se auto-examinou. "Verifiquei que estava com pulso, e sem formigamentos. Mexi os braços e as pernas e percebi a dor no fêmur. Tentei me acalmar, diminuir minha respiração e frequência cardíaca porque via que estava perdendo muito sangue", relatou.
"Tentei forçar vômito, para ver se tinha alguma perfuração abdominal. Eu via o sangue escorrendo pelo meu corpo. Eu sabia que possivelmente essa seria a principal causa daquele momento da minha luta pela vida. Foi uma violência muito grande", completou Daniel.
O médico foi atingido no pé esquerdo, na perna esquerda, no braço, no ombro esquerdo e no glúteo, além do tiro que passou de raspão em uma mão, atingindo todos os ligamentos. Ele ainda tem projéteis alojados em seu corpo. 
Daniel já passou por cinco cirurgias e faz fisioterapia todos os dias desde o ataque, há quase dois meses e meio. Mais duas intervenções cirúrgicas estão previstas para retirada da bolsa de colostomia e correção ortopédica.
O cirurgião conta que tornou-se mais sensível às dificuldades alheias ao passar a ser paciente. "O novo Daniel é o Daniel que virou paciente mas, agora está ficando mais fácil entender as dificuldades que as pessoas passam, as dores, as inseguranças. Então acho que me deixou mais humanizado", revelou.
O sobrevivente afirmou que já se sentia inseguro no Rio de Janeiro antes do acidente e que não pretende voltar. "Gostaria que tivesse mais segurança, que o dia 5 de outubro não fosse lembrado só como um novo aniversário meu, mas como um dia que algo muito absurdo aconteceu e que nunca mais deva acontecer", reforçou.
A principal linha de investigação da polícia indica que um dos médicos assassinados, o Perseu, foi confundido com um miliciano no quiosque. Os suspeitos de terem realizado a execução também foram mortos 17 horas após o crime de repercussão nacional por um "tribunal do tráfico".
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