Advogado Rogério Gomes, que representa a comerciante Eva Moema NascimentoCléber Mendes / Agência O Dia
Publicado 09/01/2024 15:20 | Atualizado 09/01/2024 15:38
Rio - O advogado Rogério Gomes, responsável pela defesa da comerciante Eva Moema Nascimento de Oliveira, de 41 anos, esteve na 9ª DP (Catete), nesta terça-feira (9), para solicitar a mudança do registro do caso de "fato atípico" para "falso furto ou acusação de furto". A vítima denuncia que foi abordada por seguranças do supermercado Extra, no Largo do Machado, que teriam sugerido que ela tivesse esquecido de pagar um produto. Segundo o advogado, a defesa já indicou uma testemunha que presenciou todo o ocorrido.
"Temos o ambulante, senhor José Ernesto, que testemunhou todos os fatos. Ele trabalha em frente ao número 11 do Largo do Machado, em uma banca de ovos e viu todos os fatos. Inclusive o momento em que os funcionários do Extra foram atrás dela, pedindo que ela retornasse para o interior da loja, um flagrante constrangimento", comentou o advogado, que também irá requerer as imagens de segurança do estabelecimento.
"Temos, lamentavelmente, uma questão histórica pelo Estado brasileiro, que, de forma pessoal, gosto muito de classificar como apartheid implícito, que em tese todas as pessoas negras são suspeitas. Outrora, o próprio Estado classificava os negros, nós negros como suspeito padrão", pontuou Rogério.
Segundo o advogado, a comerciante está abalada com a situação e espera que os funcionários sejam responsabilizados. Após a situação, eles ainda teriam oferecido uma bandeja de camarão para tentar amenizar a situação.
"Ela está extremamente abalada. O que torna tudo ainda mais grave é que depois que os funcionários perceberam a extrema bobagem que fizeram, tentaram oferecer uma bandeja de camarão para ela. Ela está triste, porque é uma moradora desse bairro também", lembrou.
"A resposta deles é sempre o comum, dizendo que foi um mal entendido, não foi isso, não é bem aquilo. Tudo muito triste e lamentável. Esperamos que a Justiça esteja pronta, desde já, para aplicar de forma pedagógica a reparação por esses danos sofridos", concluiu Rogério.
Em nota, o Mercado Extra informou que "repudia veementemente quaisquer atitudes discriminatórias e tem o respeito e a inclusão como valores e compromissos inegociáveis, em alinhamento ao que determina seu Código de Ética e sua Política de Diversidade, Inclusão e Direitos Humanos".
Por fim, a rede ressaltou que abriu um processo interno para apurar o caso. "Sobre o relatado, a rede informa que não está em conformidade com as políticas e valores da companhia e que iniciou um processo de apuração interna assim que tomou conhecimento. A rede se mantém à disposição da cliente e das autoridades para o apoio e esclarecimentos que forem necessários", completou a nota.
Entenda o caso
Eva contou ao DIA que entrou no mercado para ver se encontrava camarão e, após encontrar o produto, resolveu comprá-lo quando passasse novamente pela unidade para que o alimento não descongelasse.
"Quando eu estava do lado de fora, veio um segurança e dois homens correndo atrás de mim na rua. Me perguntaram: 'senhora, não esqueceu de pagar nada não?'. Eu falei que não e pediram para abrir minha bolsa porque viram eu furtar um leite. Eu falei que eles não iam abrir minha bolsa e liguei para o meu advogado", contou.
A comerciante ainda revelou que nenhum supervisor ou gerente foi acionado para suporte. Na delegacia, Eva contou também que um inspetor foi resistente em registrar o caso. "Eu só consegui fazer o boletim de ocorrência quando o meu advogado chegou. Ele perguntou: 'cadê as outras partes envolvidas?'. Ninguém tinha encaminhado ninguém. Isso ia se declarar um flagrante de racismo e falsa acusação de roubo. Meu advogado conseguiu registrar o B.O, mas o inspetor colocou como fato atípico", completou.

Eva tem uma loja de quentinhas e também trabalha há mais de 13 anos vendendo acarajé no Renascença Clube.
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