Na foto, a comerciante Eva, que denunciou ter sofrido racismo na unidade do mercado Extra, do Largo do MachadoReprodução/Redes Sociais

Rio - A defesa da comerciante Eva Moema Nascimento Oliveira, de 41 anos, que denuncia racismo após ser acusada de furto no supermercado Extra do Largo do Machado, na Zona Sul, entrou com um requerimento pedindo a retificação do registro de ocorrência após o caso ser registrado apenas como 'fato atípico'. As investigações estão com a 9ª DP (Catete).

De acordo com o advogado Rogério Gomes, uma testemunha também deve ser ouvida na delegacia para relatar o caso. "Estamos ingressando com um requerimento, pedido de aditamento pro delegado retificar o registro de ocorrência como acusação de furto, e estamos arrolando uma testemunha", explicou.

Gomes pretende voltar à delegacia ainda nesta terça-feira (9) para checar se já foram solicitadas imagens de câmeras de segurança e o depoimento dos funcionários do estabelecimento. "Vamos tomar todas as medidas cabíveis objetivando a reparação por danos morais", disse.

Entenda o caso

Eva contou ao DIA que entrou no mercado para ver se encontrava camarão e após encontrar o produto, resolveu comprá-lo quando passasse novamente pela unidade para que o alimento não descongelasse. "Quando eu estava do lado de fora, veio um segurança e dois homens correndo atrás de mim na rua. Me perguntaram: 'senhora, não esqueceu de pagar nada não?'. Eu falei que não e pediram para abrir minha bolsa porque viram eu furtar um leite. Eu falei que eles não iam abrir minha bolsa e liguei para o meu advogado", contou.

A comerciante ainda revelou que nenhum supervisor ou gerente foi acionado para suporte e que os funcionários envolvidos no episódio teriam tentado convencê-la a não registrar o caso, oferecendo produtos que ela quisesse levar para casa.

Na delegacia, Eva contou também que um inspetor foi resistente em registrar o caso. "Eu só consegui fazer o boletim de ocorrência quando o meu advogado chegou. Ele perguntou: 'cadê as outras partes envolvidas?'. Ninguém tinha encaminhado ninguém. Isso ia se declarar um flagrante de racismo e falsa acusação de roubo. Meu advogado conseguiu registrar o B.O, mas o inspetor colocou como fato átipico", completou.

Eva tem uma loja de quentinhas e também trabalha há mais de 13 anos vendendo acarajé no Renascença Clube.
O que diz o mercado

Procurado, o Mercado Extra informou que "a rede repudia veementemente quaisquer atitudes discriminatórias e tem o respeito e a inclusão como valores e compromissos inegociáveis, em alinhamento ao que determina seu Código de Ética e sua Política de Diversidade, Inclusão e Direitos Humanos".

Ainda em nota, a rede esclareceu que abriu um processo interno para apurar o caso. "Sobre o relatado, a rede informa que não está em conformidade com as políticas e valores da companhia e que iniciou um processo de apuração interna assim que tomou conhecimento. A rede se mantém à disposição da cliente e das autoridades para o apoio e esclarecimentos que forem necessários", completou a nota.