Remador negro de 14 anos do Vasco da Gama é apreendido pela polícia em abordagem policialDivulgação
Publicado 17/01/2024 18:36
Rio - A mãe do atleta negro da base do remo do Vasco, de 15 anos, detido por policiais militares dentro do ônibus enquanto voltava do treino, disse que sempre orientou o filho a sentar próximo do motorista e usar uniforme do clube para se proteger de abordagens policiais. O rapaz estava com o cabelo descolorido e tinha como destino final o Morro do Tuiuti, em São Cristóvão, onde mora com a família. Ele e outros adolescentes com cabelo descolorido, que também estavam no coletivo, foram levados pelos PMs na altura da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, suspeitos de furtar celulares.
Segundo a agente comunitária de saúde Carla Costa, mãe do atleta, quando foi abordado ele estava perto do motorista, mas acatou a ordem dos policiais de ir para o fundo do ônibus. "Os policiais entraram e mandaram quem tivesse com cabelo descolorido ou branco que fosse para a parte de trás do ônibus. Ele foi, abriu a mochila, foi revistado. Perguntaram onde estava o celular, então ele explicou que era inocente e em seguida foi retirado do veículo. Ficou horas nessa situação e não pode manter nenhum contato comigo. Só conseguiu me acionar à 0h02", disse a responsável. O adolescente foi liberado e já retornou aos treinos.
Carla disse que o filho conseguiu manter o controle diante da situação, mas ela ficou assustada. "É um menino muito centrado. Depois que a ficha foi caindo, que ele foi entendendo. Mas ele conseguiu manter um controle. Eu fiquei bastante assustada mesmo preparando ele, me preparando. Eu sei que isso acontece muito e que um dia aconteceria. É assustador, né?", desabafou.
Carla conta que o filho foi fotografado por policiais, mas na delegacia não souberam explicar por que ele não pôde entrar em contato com a mãe após ter sido abordado e o porquê da fotografia. "Ficar horas sem conseguir contato com seu filho e depois descobrir que ele tá numa delegacia me deixou horrorizada, mesmo que a gente saiba que isso aconteça a gente não está preparada", acrescentou.
A mãe do adolescente declarou que gostaria que as equipes policiais tivessem mais preparo para lidar com a situação. "Infelizmente, eu sei que ele não foi o primeiro, não vai ser o último e que vai ser parado mais vezes. A gente precisa de policiais preparados, investir na preparação psicológica. Até porque eu entendo que a situação dos furtos está muito difícil", afirmou.
Vasco diz que apreensão foi injusta
O clube Vasco da Gama, que o adolescente representa desde 2021, afirmou que o fato do jovem ter se apresentado como atleta e mostrado documento do clube foi desconsiderado e que a autoridade policial não fez contato com o Vasco da Gama.

O 1⁰ Vice-Presidente Geral do Vasco da Gama, Carlos Roberto Osório, acrescentou que abordagens policiais em ônibus a jovens atletas do remo do Vasco, que treinam na Lagoa e moram na Zona Norte acontecem com alguma regularidade. "Principalmente quando são negros. Nessas ocasiões os jovens se apresentam e comprovam serem atletas do Vasco e são liberados. Casos similares de abordagens também já foram registrados com alunos e jovens atletas do futebol", contou.

O clube informou que os advogados comparecerão à delegacia para tomar conhecimento dos procedimentos adotados e adotar as medidas cabíveis. No registro de ocorrência o adolescente consta como "adolescente infrator" por furto de celular.
O que dizem as polícias 

A PM informou que o comando do 5° BPM (Praça da Harmonia) instaurou um procedimento apuratório para analisar a conduta dos policiais. A corporação ressaltou que não compactua com quaisquer desvios ou qualquer tipo de ato discriminatório cometido por policiais militares.

A Polícia Militar disse que na noite de segunda-feira, policiais militares do 5° BPM (Praça da Harmonia) foram acionados na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, por duas vítimas de furto que afirmaram que os suspeitos estavam no ônibus. Segundo a PM, quatro adolescentes foram abordados. "Com o grupo, os agentes localizaram dois aparelhos de telefone celular", diz em nota.

A nota contradiz, no entanto, uma publicação feita pela própria Polícia Militar na rede social X, o ex-Twitter. Na postagem, a PM afirma que deteve seis jovens no ônibus. "Policiais do #5BPM detiveram seis jovens na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, por terem roubado passageiros de um ônibus que faz a linha 472. Durante a ação, dois aparelhos telefônicos foram recuperados. O caso foi encaminhado à 4ª DP", afirma a publicação da PM.

A Polícia Civil afirmou que o caso foi registrado na 5ª DP (Mem de Sá) e encaminhado para a 4ª DP (Presidente Vargas). Na ocasião, o telefone celular da vítima de furto foi encontrado com os suspeitos no ônibus. No entanto, como a vítima não reconheceu nenhum dos conduzidos, a autoridade policial entendeu que não havia elementos para o flagrante e, consequentemente, não houve prisão ou apreensão dos adolescentes e todos foram liberados.
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