Calçada ficou com marca de sangue após Jefferson Costa, de 22 anos, ser baleado por PM na MaréPedro Ivo / Agência O Dia
Publicado 09/02/2024 17:22
Rio - A Justiça do Rio converteu, durante audiência de custódia realizada nesta sexta-feira (9), a prisão em flagrante do policial militar Carlos Eduardo Gomes dos Reis para preventiva. O agente foi preso após matar Jefferson de Araújo Costa, de 22 anos, com um tiro à queima-roupa durante um protesto no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio.
O juiz Diego Fernandes Silva Santos entendeu que há indícios de um homicídio qualificado, que se trata de um crime hediondo com pena superior a quatro anos de reclusão. Atualmente, Carlos Eduardo responde por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e omissão de socorro. 
"O caso concreto denota fatos delituosos, em tese, hediondos, cometidos com violência grave contra a pessoa, contra a vida, cuja gravidade em concreto justifica a necessidade de segregação cautelar, ante o modo de execução, circunstâncias e consequências da conduta delituosa imputada. Tenho assim que a gravidade concreta do crime e periculosidade do agente justificam a necessidade da decretação do encarceramento cautelar noticiado, como garantia da ordem pública", escreveu.
Para o magistrado, a soltura do PM traz medo e insegurança para testemunhas do homicídio, causando prejuízo à instrução criminal.
"A correta instrução criminal, de igual modo, deve ser assegurada com a custódia cautelar do suspeito. In casu, a sua soltura incutirá medo e insegurança nas testemunhas por se verem constrangidas a partilhar o mesmo ambiente social com o suspeito. Esse fato, por si só, trará irreparáveis prejuízos para instrução processual e posterior aplicação da pena, uma vez que a narração fidedigna dos acontecimentos não será garantida, pois a verdade das informações sempre cederá em benefício da integridade física de um depoente amedrontado", completou.
O PM foi preso na noite desta quinta-feira (8) após prestar prestar depoimento na à 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). Sua arma e sua câmera operacional portátil, que estava na sua farda no momento em que atirou no jovem, foram recolhidas e disponibilizadas para a investigação. O agente foi encaminhado, ainda na noite de quinta, para a Unidade Prisional da Corporação, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
A PM destacou que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM), por meio de sua Corregedoria Geral, para esclarecer as circunstâncias do fato. O agente chegou a prestar depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), mas o caso ficou a cargo da Justiça Militar.
Relembre o caso
Jefferson morreu depois de ser baleado na barriga durante um protesto nas margens da Avenida Brasil, no Complexo da Maré, contra operação realizada na região nesta quinta-feira (8). Imagens que circulam nas redes sociais mostram a abordagem do PM, que usa o fuzil para bater no jovem. Logo em seguida escuta-se o disparo. A gravação mostra a vítima sangrando e desmaiando na calçada. O par de chinelos e o boné de Jefferson foram deixados no local onde ele foi baleado, ao lado de uma poça de sangue.
De acordo com a PM, agentes do 22º BPM (Maré) foram acionados para intervir em uma manifestação que ameaçava fechar a Avenida Brasil. A corporação informou que, durante a ação, o fuzil de um dos policiais disparou e acabou atingindo um manifestante.
Jefferson foi socorrido e encaminhado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte, mas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), já chegou sem vida na unidade.
Nesta sexta-feira (9), familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para liberação do corpo da vítima. Kaylaine de Araújo Costa, irmã do jovem, contou que a família segue sofrendo com a perda.
"Foi tudo na minha frente e na frente da minha mãe. Foi desesperador. Até agora não estou acreditando. (...) O meu irmão era uma pessoa boa, trabalhadora, trabalhava como entregador, ajudante de pedreiro, ajudava toda a família também. Sempre ajudava a minha avó a carregar as compras, com as bolsas pesadas. Agora ela está lá, sofrendo, chorando muito, em pânico", comentou.
O secretário de Estado de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, comentou que a atuação do PM foi completamente equivocada e que imagens do crime seguem sendo analisadas pela Corregedoria. "Não é ensinado isso nos nossos bancos escolares, nos nossos centros de treinamento. A abordagem daquela forma, numa manifestação, não é feita daquela forma. Completamente equivocada a abordagem do policial”, admitiu o secretário.
Ainda não há informações sobre o sepultamento de Jefferson.
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