PM realizou megaoperação contra maior facção criminosa do estado em comunidades da Zona NorteReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Publicado 27/02/2024 17:28 | Atualizado 27/02/2024 19:25
Rio - O secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, classificou como "extremamente lamentável" o fechamento de 69 escolas da rede nesta terça-feira (27) por conta de operações policiais em favelas. Pelo menos 22.596 alunos ficaram sem aula. Já a rede estadual de Educação precisou fechar quatro escolas, mas não informou o número de estudantes afetados.

"É extremamente lamentável. O equipamento escolar deveria ser o mais preservado. Toda criança tem direito a estudar todos os dias. A gente precisa priorizar a paz escolar. Cada dia sem funcionar é uma tragédia para nós. Estamos preparados para oferecer todo conteúdo e apoio pedagógico aos nossos alunos, mas é inacreditável que a gente tenha que fechar escolas, que deveriam ser lugar sagrado de paz em vez de ficarem rendidas", disse o secretário Renan Ferreirinha.

Mãe de três filhos matriculados na Rede Municipal de Educação do Rio, Camila Santos, 39, aponta que a suspensão das aulas por conta de operações causa diversos prejuízos para a família. Os quatro precisaram ficar em casa nesta terça-feira, por vezes deitados no chão para se proteger, sem internet ou TV, por conta de danos provocados pelos tiros na comunidade. Moradora do Complexo do Alemão, a vendedora relata que o caçula de 8 anos assimilou nesta manhã o que é uma operação policial.

"Hoje eu perdi um dia de trabalho por vários motivos: está tendo operação no morro, não teve aula. Quem vai ficar com essas crianças? Às vezes não tem aula porque não tem água, às vezes porque não tem luz e outras vezes por operação", relatou.

Camila lamenta que os filhos percam conteúdo e disciplinas como educação física e inglês, além da socialização com outras crianças. "Mas eu acho que o maior impacto é a saúde mental. Hoje meu filho de oito anos acordou e perguntou se não iria para escola pela operação. Depois ele viu na televisão que estava tendo uma megaoperação no Complexo da Alemão. É muito triste uma criança tão jovem ter que aprender sobre violência. O impacto não é só não ir à escola. É tudo que vão aprender sobre as relações que eles têm naquele espaço", pontuou a vendedora de roupas.

A professora de Estudos Aplicados ao Ensino da Uerj, Alice Casimiro Lopes, concorda que a violência é o pior aspecto desta realidade que afeta escolas públicas cariocas. "Perder aulas é sempre ruim, mas não é o mais sério no caso. O mais sério é a violência a que as escolas públicas no Rio são submetidas. Os traumas para a comunidade e os alunos e alunas são o maior problema. O risco à vida. Isso evidencia, mais uma vez, que o maior problema da escola pública brasileira não é pedagógico ou curricular. São os problemas sociais invadindo a escola", afirmou.

O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que investe em programas para garantir a segurança da comunidade escolar e que pede às Forças de Segurança para que preservem as escolas e avisem com antecedência sobre operações.

"É um impacto enorme. Não se resume ao fechamento das unidades, mas é sócio-emocional, os alunos podem apresentar déficit de atenção, por exemplo. A gente corre atrás do prejuízo, aumenta a carga horária, mas na Educação, a gente precisa de rotina, disciplina, todo dia tem que ir para a escola. A interrupção é muito ruim, ainda mais com um fator que gera medo e ansiedade, como a violência", ressalta Ferreirinha.

A Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), por sua vez, afirma que mantém diálogo permanente com as polícias militar e civil e vem acompanhando os registros feitos pelas unidades escolares através do Registro de Violência Escolar (RVE), ferramenta disponível na plataforma Conexão Educação, da Secretaria de Estado de Educação.
Operação em comunidades da Zona Norte

A Polícia Militar e a Polícia Civil realizaram uma megaoperação contra a organização criminosa Comando Vermelho em comunidades da Zona Norte desde o início da madrugada desta terça-feira (27). Em imagens que circulam nas redes sociais é possível ver o desespero dos moradores com um intenso tiroteio e barricadas em chamas no Complexo do Alemão e na Penha. Dois policiais militares foram baleados, nove suspeitos morreram, quatro ficaram feridos, cinco homens foram presos e dois adolescentes, apreendidos. Foram apreendidos drogas, fuzis, pistolas, rádios comunicadores e veículos roubado.
Além das operações realizadas pela PM, a Polícia Civil também fez uma ação no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, nesta terça-feira (27), contra traficantes do Comando Vermelho. Ao todo, dois homens foram presos. Os agentes também apreenderam dois fuzis e anotações de contabilidade dos criminosos, além de recuperarem sete carros e três motocicletas.
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