Irmãs Renata Bispo dos Santos (E) e Dimaria Bispo dos Santos (D) ficaram feridas no rompimento da tubulaçãoPedro Ivo/Agência O Dia
Publicado 03/03/2024 13:56 | Atualizado 03/03/2024 14:40
Rio - As irmãs Divaneide Bispo dos Santos Nascimento, Dimaria Bispo dos Santos e Renata Bispo dos Santos perderam todos móveis e eletrodomésticos de suas casas, além de pertences pessoais, após o rompimento de uma adutora, na madrugada deste domingo (3), em Coelho Neto, na Zona Norte do Rio. Elas moram em casas diferentes, mas no mesmo quintal, onde a tubulação estourou. As duas últimas chegaram a ficar feridas e precisaram ser levadas para um hospital. 
Segundo Dimaria, de 48 anos, o rompimento aconteceu enquanto dormia, por volta das 3h15, na cozinha e na área de serviço de sua casa. Ela conta que acordou assustada com o barulho, mas não teve tempo de reagir, porque foi arrastada pela água em direção à sala. A mulher relatou que os móveis também foram levados e ela acabou sendo atingida na cabeça por um microondas. Muito abalada, a vítima disse que chegou a pensar que o imóvel estava desabando. 
"Eu estava dormindo e escutei um barulho muito brusco e, quando eu sentei na cama, já veio aquela correnteza muito forte me arrastando. A água foi destruindo tudo, a gente estava dormindo, foi muito estranho, foi horrível. A sensação era de que a casa estava desmoronando, foi um barulho muito forte. A impressão é de que era um desmoronamento. Perdi tudo, televisão, telefone, móveis, roupas. Estou só com uma peça de roupa que me emprestaram", contou Dimaria, que precisou ser resgatada pelo filho. 
De acordo com Andrey Tomaz Bispo, de 19 anos, pouco antes das 3h, ele estava com amigos em uma quadra, quando teve um pressentimento ruim e decidiu voltar para casa. O jovem conta que estava no sofá quando ouviu um barulho e quando olhou em direção à cozinha, viu a água indo em direção à sala e gritou para que a irmã saísse do quintal e fosse para a rua. Logo em seguida, ele percebeu que a mãe estava sendo arrastada e a levou em direção à porta, mas não conseguiu abrir e a água já estava na altura do pescoço dela. O rapaz narrou os momentos de tensão que viveu para salvar a mãe. 
"Não sei de onde eu arrumei força para abrir aquela porta ali, mas eu consegui abrir uma brecha dela, coloquei a perna, deu uma imprensadinha na minha perna, mas não aconteceu nada. Eu consegui subir na porta e começar a pisar para amassar, fui pisando e a porta foi amassando, consegui abrir uma brecha melhor para sair, mas ela não conseguiu, porque o pé dela estava preso no sofá. Eu desci da porta, tirei a perna dela, fiz um escudo para a água bater em mim e não bater mais nada nela, consegui tirar ela e, quando consegui sair, a água já veio levando tudo, com a porta e tudo, aquele estrondo, o muro caindo. Nós perdemos literalmente tudo, mas nossa vida está intacta". 
O jovem  ficou com alguns machucados leves e ainda conseguiu ajudar no resgate de outros familiares. A cabeleireira Divineide, 44, relatou que além das irmãs, a filha dela, de 17 anos, também sofreu um corte no pé. As três foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte, e já foram liberadas. Dimaria teve uma luxação e precisou engessar a perna e Renata teve um ferimento no joelho. 
Ainda segundo as irmãs, a tubulação na casa pertence à Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) e não recebia manutenção há mais de quatro anos. Há cerca de seis meses, elas começaram a perceber um vazamento no quintal e tentaram acionar a Águas do Rio, mas não conseguiram. Em uma ocasião, as vítimas abordaram um carro da concessionária que passava pela região e funcionários chegaram a verificar o problema, mas o reparo nunca foi feito. 
"É um sentimento de descaso, porque eles (Águas do Rio) viram que no quintal tinha uma tubulação da Cedae enorme, falaram que iam voltar para ver e nada. Aconteceu o que aconteceu, poderia ter sido evitado, mas não foi, por conta do descaso. A gente nunca vai imaginar que vai acontecer com a gente, é uma sensação horrível, a imagem fica na nossa cabeça, a gente acaba ficando traumatizado. A gente agora vai carregar esse medo. Deus livrou a gente, a gente está vivo, que é o importante, mas foi descaso", lamentou Divaneide. 
A Águas do Rio informou que, no início da manhã de hoje, um vazamento foi identificado em uma tubulação de grande porte na Praça Professora Virgínia Cidade, na altura do metrô de Coelho Neto. Equipes operacionais realizam o reparo emergencial e o fornecimento de água precisou ser interrompido em Coelho Neto, Acari, Colégio, Cordovil, Engenho da Rainha, Irajá, Inhaúma, Parada de Lucas, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos e Vista Alegre.
Profissionais da área de Responsabilidade Social da concessionária estão no local para prestar apoio aos moradores. A empresa disse ainda que vai fazer o levantamento de "eventuais danos materiais nas residências, que estão situadas em área não edificável, sobre a tubulação de água operada pela concessionária".
*Colaborou Pedro Ivo
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