Publicado 17/03/2024 12:01
Rio - Familiares de José Jacksandro Almeida Queiroz, de 18 anos, criticaram a ação policial que provocou a morte do jovem, durante uma perseguição na Praia do Flamengo, na Zona Sul. A vítima pilotava uma motocicleta sem habilitação e não teria respeitado uma ordem de parada. Na garupa do veículo, estava a namorada M.L.F, de 17 anos, que morreu no local. Para os parentes, que estiveram neste domingo (16) no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), no Centro, houve excesso dos agentes na abordagem.
De acordo com a Polícia Militar, a ação aconteceu na madrugada de sábado (16), quando uma equipe do 2º BPM (Botafogo) tentou abordar a moto em que o casal estava, mas o condutor fugiu. Um cerco foi realizado e o veículo das vítimas colidiu contra o meio-fio. Neste momento, uma pessoa que passava pela região acabou atingida pela motocicleta e uma viatura bateu em um poste. O acidente provocou a morte de M.L no local, enquanto Jackson chegou a ser socorrido para o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, na Zona Sul, mas não resistiu aos ferimentos.
Além dele, os policiais militares Jhonny Michael Monteiro, 36, e Jonair Junior, 45, foram socorridos para a mesma unidade de saúde, e a vítima do atropelamento para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, de onde já receberam alta médica. Tio de Jacksandro, Edjanio Alves relatou que a família ainda não teve acesso às câmeras de segurança da região e que ainda não foi chamada à delegacia. Segundo o taxista, uma testemunha relatou que a viatura estava com o farol desligado e quando acendeu a sirene, o jovem acelerou. Ele acredita que o sobrinho possa ter se assustado, porque dirigia sem habilitação.
"A gente queria ter acesso às câmeras para saber qual foi o ocorrido, porque a gente só ficou sabendo da boca de uma pessoa que estava lá passando, que falou que ele se assustou com o policial e correu, como ele não tinha habilitação, e na hora teve uma perseguição (...) O que a gente ficou sabendo do relato é que o carro da polícia vinha com farol desligado, quando ligou a sirene e o farol, ele se assustou. Ele estava com meu outro sobrinho, que estava com a outra namorada. Na hora da abordagem, meu sobrinho parou e ele se assustou e acelerou a moto, foi na hora que começou a perseguição", disse o tio.
A testemunha também relatou à família que o carro da PM bateu no veículo que o casal estava, momento em que a adolescente teria sido lançada para o alto e ao cair, foi atingida pela viatura, enquanto o jovem teria sido arremessado para longe. Com o impacto, M.L teria perdido uma das pernas. A Polícia Militar informou que "será instaurado um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do ocorrido". Procurada neste domingo pelo DIA, a corporação não se pronunciou sobre as alegações dos familiares e não divulgou outras informações sobre o caso.
"Eu acho que se fossem policiais preparados, eles tinham feito uma abordagem decente, como tinha que ser", criticou Edjanio. "Eu acho que para ser policial, você tem que estar preparado. Infelizmente, os policiais despreparados numa madrugada, acha que é ladrão. Quem é para eles pegarem realmente, não vão atrás. São dois adolescentes, principalmente um que ele viu que era mulher, para que fazer isso?", questionou a mãe da vítima, Edilma Almeida.
José Jacksandro trabalhava como entregador de aplicativo para pagar pela motocicleta que havia sido comprada pelo irmão para ele há dois meses. Segundo a mãe, o veículo era a paixão do filho, mas ela temia que ele se acidentasse, por pilotar em alta no velocidade. Ela contou que o automóvel tinha terços, como forma de proteção, e no dia do acidente, chegou a pedir para o sobrinho e a nora não deixarem que ele corresse. "Eu falei: 'a sua moto tem seguro, a sua vida não tem seguro, meu filho'", lembrou Edilma.
A família relatou ainda que a vítima sonhava em entrar para Exército para se tornar atirador de elite e chegou a comentar que queria ser como os snipers que atuaram no sequestro a um ônibus na Rodoviária do Rio, na última terça-feira (12). De acordo com o tio, José Jacksandro se apresentaria para alistamento na corporação nos próximos meses. "A paixão que ele tinha era a moto dele. É uma pessoa muito do bem, muito presente na família, um menino muito reservado. Ele estava prestes a se apresentar no Exército, no dia 21 de maio. É uma pessoa do bem e eu quero justiça", desabafou o taxista.
Parentes afirmaram que o jovem era querido pelos amigos e muito apegado a família. Recentemente, ele ganhou um filhote de cachorro da mãe, para o ajudar com a depressão que enfrentava desde que seu outro cão havia morrido. A vítima morava na comunidade da Vila do João, no Complexo da Maré, na Zona Norte, bem como a namorada. Usando uma camisa em homenagem ao filho, Edilma declarou que ele não tinha envolvimento com o crime organizado. Muito abalada, ela precisou ser amparada pelos familiares.
"Meu filho não era um garoto de rua, de estar com o mal porque mora em comunidade. Muitas pessoas acham que porque mora em comunidade, é um maconheiro, é um traficante, é um 'vagabundo' e não é. O meu filho tinha acabado de fazer 18 anos, foi um filho planejado, a gente veio de Pernambuco para cá, sempre trabalhei para dar o que eu podia. Agora eu não tenho mais ele. A gente nunca bota filho no mundo para sair dessa forma, a gente tem que ir primeiro do que o filho. Meu mundo acabou, eu não tenho vontade para nada".
O corpo de Jacksandro será sepultado hoje, às 15h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária. Edilma disse que se ofereceu para pagar pelo sepultamento da namorada do filho, já que a família da adolescente não teria como arcar com as despesas, mas que os parentes dela não mantiveram mais contato. Ainda não há informações sobre o horário e local do enterro de M.L. Segundo a Polícia Civil, o caso foi registrado na 9ª DP (Catete) e diligências estão em andamento para apurar todos os fatos.
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