Sociólogo Betinho é imortalizado em estátua na praia de BotafogoRenan Areias / Agência O Dia
Publicado 21/03/2024 17:05 | Atualizado 21/03/2024 18:12
A estátua em homenagem ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi inaugurada na manhã desta quinta-feira (21), na Praia de Botafogo, na altura da Rua São Clemente, Zona Sul. O ativista dos direitos humanos - e também um dos principais nomes do país na luta contra a fome - foi retratado segurando um beija-flor, em referência à 'fábula do beija-flor', que fala de solidariedade e representa seu legado.
Sempre que era questionado se as ações dele e de outros brasileiros não eram pequenas diante de um problema tão grave como a fome no Brasil, que afetava cerca de 32 milhões de pessoas na década de 90, Betinho contava que o beija-flor usava o bico para tentar apagar um incêndio na floresta. A ave sabe que, sozinha, não resolveria o incêndio, mas dá o exemplo de que se cada animal da floresta fizer a sua parte, o fogo vai cessar.
O bairro carioca escolhido para abrigar a escultura foi o local onde Betinho viveu até o fim da vida. Embora fosse natural de Bocaiúva, em Minas Gerais, ele escolheu morar na cidade maravilhosa após regressar do exílio imposto na ditadura. Lá, também fundou o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia).
O sociólogo, que morreu em 1997, também é o fundador da Ação da Cidadania, considerada uma das maiores campanhas de combate à fome da história da América Latina. O movimento, lançado em 1993, inovou ao convocar o país inteiro a assumir um papel ativo no combate à pobreza extrema. Desde então, a ONG ajudou mais de 26 milhões de pessoas e distribuiu 55 mil quilos de alimentos.
Quem foi Betinho
Betinho fundou o Ibase em 1980 e, na década de 1990, tornou-se símbolo de cidadania no Brasil ao liderar a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida popularmente como a campanha contra a fome. O sociólogo mobilizou a sociedade brasileira para enfrentar a pobreza e as desigualdades. Hemofílico, morreu de Aids em 9 de agosto de 1997, deixando um exemplo de solidariedade e de luta pela transformação social.
A mobilização contra a fome não foi a única frente em que Betinho se envolveu desde que voltara do exílio. Ainda nos anos 80, ele foi articulador da Campanha Nacional pela Reforma Agrária. Junto com outras entidades, o Ibase organizou em 1990 o evento “Terra e Democracia”, que levou 200 mil pessoas ao Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Em 1986, depois de saber que era portador do vírus HIV, Betinho ajudou a fundar a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia). Em 1992, fez parte do Movimento pela Ética na Política, que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
A militância de Betinho começou na adolescência, na Ação Católica, em Belo Horizonte. Na UFMG, foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), uma organização formada por um grupo católico pró-socialismo. Formou-se em Sociologia em 1962 e engajou-se na luta pelas reformas de base do governo João Goulart.
Betinho resistiu ao golpe de 1964 e à ditadura que se instalou no Brasil. Quando a repressão intensificou-se, partiu para o exílio em 1971. Morou no Chile, no Canadá e no México.
No fim dos anos 70, a volta de Betinho, o irmão do Henfil, virou marca da campanha pela anistia por causa da música “O bêbado e a equilibrista”, de Aldir Blanc e João Bosco. Betinho retornou ao Brasil em 79 e criou o Ibase dois anos depois, junto com os companheiros de exílio Carlos Afonso e Marcos Arruda.
O arquivo de Betinho está disponível para consulta no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio.
Em 2012, a história de Betinho foi reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como parte importante da memória mundial. O arquivo Herbert de Souza, do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi indicado para o Registro Nacional do Programa Memória do Mundo da Unesco.
A decisão foi tomada pelo Comitê Nacional do Brasil, órgão ligado ao programa da Unesco e a cerimônia de diplomação aconteceu no dia 4 de dezembro. No mesmo ano, o Ibase lançou o livro "O Brasil de Betinho", escrito por Dulce Pandolfi, Augusto Gazir e Lucas Corrêa.
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