Lucas Torres estava com amigos na Praça de Cabuçu, em Nova Iguaçu, quando foi morto Reprodução
Publicado 17/04/2024 15:04 | Atualizado 18/04/2024 09:14
Rio - Acontece nesta quinta-feira (18) o julgamento dos quatro homens acusados de matar o adolescente Lucas Torres dos Santos, de 16 anos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em 2019. Josué Lopes de Oliveira Júnior, Hugo da Conceição Guedes, Everson Loyola da Conceição e Jhonny da Silva Gomes vão passar por júri popular.

Os réus, que aguardam o júri em liberdade, já tiveram o julgamento adiado por duas vezes somente no ano passado. A sessão deveria ter sido realizada no último dia 14 de dezembro, mas o juiz Adriano Celestino Santos, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, entendeu que o crime se trata de um feito complexo, que contará com o interrogatório dos réus e de diversas testemunhas.

Para o magistrado, o julgamento possivelmente se estenderá por pelo menos dois dias e, por isso, houve a necessidade de solicitar com antecedência verba necessária para custeio de pernoite dos jurados.

Ao DIA, Vanessa Bernardo Torres, de 37 anos, mãe da vítima, contou que foi informada de que os acusados, após serem soltos, voltaram para suas facções.

"Jhonny voltou a atuar na milícia, Josué está na comunidade do Dique, em Caxias, já o Everson está foragido. Com a liberdade deles só atrapalha o julgamento. Como é revoltante assassinos tendo segunda chance de fazer o que bem querem, inclusive voltar para o crime", expôs.

Um deles, o Jhonny, apontado como mandante do crime, teria sido morto por seus comparsas no início deste ano. Em publicações nas redes sociais, testemunhas dizem que ele foi assassinado e teve seu corpo jogado no Rio Guandu.

Por conta da divulgação da morte do mandante, o réu Hugo Guedes anexou prints ao processo e pediu à Justiça para sair do Rio de Janeiro, alegando que também estava sendo ameaçado de morte. O pedido foi aceito, segundo Vanessa.

Em seu relato, ela lamenta a perda do filho adolescente e reclama da falta de segurança na Baixada Fluminense.

"Meu filho só tinha 16 anos, não teve chance de viver sua juventude, se formar. Eu não tive chance de ver ele seguir sua vida e realizar seus sonhos. Nós aqui da Baixada estamos abandonados, a milícia está dominando e matando os jovens sem motivos", disse.

Mãe alega falta de assistência

Além disso, Vanessa também alega que o Ministério Público do Rio de Janeiro foi falho em dar assistência sobre o caso do filho, que morreu há 5 anos e não teve o caso solucionado.

"Eles tiram a culpa deles [do MP], sendo que o próprio, por falta de atenção no caso e até mesmo falta de atenção as informações que passo, fazem atrasar o processo. Não restam dúvidas quanto aos culpados, a Delegacia de Homicídios fez um trabalho excepcional, até mesmo no local teve aquele trabalho de reconstituição do crime", assumiu.

A cuidadora de idosos diz não saber quem será o promotor responsável pelo julgamento nesta quinta, pois mesmo com insistência, não foi avisada e tentou descobrir por meio da internet.

"Eu insisto, mas sem muito sucesso. A assessoria do caso não me dá certeza de qual promotor irá atuar no caso. A realidade é que não dão muita assistência. Hoje estou desde cedo de olho no processo para ver se há alguma alteração", contou.

E ainda desabafou: "Tudo que mais quero é ver a justiça sendo feita, sair daquele fórum um pouco aliviada e conseguir seguir com meu coração em paz. Nada vai trazer meu filho de volta, a única coisa que quero é que a justiça seja feita. Mas essa justiça brasileira sempre deixa a desejar, são 5 anos de luta."
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O MPRJ se manifestou sobre as acusações e informou que, de acordo com o promotor de Justiça Bruno Bezerra, "a informação não procede. Inclusive, segundo o promotor, a mãe da vítima já foi atendida pessoalmente e sabe que ele fará a audiência. MPRJ informa que o último adiamento foi pedido por conta da defesa. Por fim, o promotor ressalta que o MPRJ está providenciando escolta para a mãe da vítima e duas testemunhas." 

Acusados aguardam em liberdade

Em junho deste ano, Josué, Hugo, Everson e Jhonny foram soltos após uma determinação da Justiça do Rio. O motivo do habeas corpus concedido aos quatro foi a demora para o início do julgamento no Tribunal do Júri.

A prisão preventiva dos réus foi decretada no dia 3 de abril de 2019. Desde então, diversas audiências sofreram adiamentos por pedidos do MPRJ e da defesa dos réus. As mudanças culminaram na soltura dos acusados em junho.

Relembre o caso

Lucas Torres dos Santos, de 16 anos, estava com um casal de amigos em uma festa na Praça de Cabuçu, em Nova Iguaçu, no dia 2 de março de 2019. Segundo a denúncia, Jhonny Gomes, apontado como mandante do crime, partiu em direção ao amigo da vítima, que estava com a ex-namorada do réu.

A investigação apontou que Johnny e os amigos não conseguiram agredir o rapaz e planejaram retornar ao local para pegá-lo. No entanto, encontraram apenas a moça e Lucas, que sofreu uma "gravata" enquanto Josué Júnior o segurou pelo braço esquerdo e o denunciado Hugo Guedes o empurrou na direção das caixas de som do evento.

Os réus ordenaram que Lucas dissesse onde seu amigo estava. O menino afirmou que o jovem já estava em casa e não retornaria à festa. Em seguida, Johnny, Josué, Everson e Hugo ordenaram a Lucas que fizesse com que o amigo retornasse à festa. Diante da negativa, os denunciados decidiram acabar com a vida do jovem.

O grupo colocou a vítima em um Volkswagen Gol preto e partiu para uma casa abandonada. As investigações apontaram que Lucas morreu no local após três golpes. Johnny estava armado com um cabo de madeira, e Josué, com um machado.

Mesmo com a vítima morta, Josué continuou a golpear com um machado e Hugo e Everson, com um pedaço de madeira. Após a morte, os acusados atearam fogo no corpo e deixaram o local.
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