Lucas Torres estava com amigos na Praça de Cabuçu, em Nova IguaçuReprodução/ Arquivo pessoal

Rio - A Justiça do Rio adiou o julgamento de quatro homens acusados de matar o adolescente Lucas Torres dos Santos, de 16 anos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no ano de 2019. É a segunda vez que a audiência é adiada nesse semestre. Os réus esperam o júri popular em liberdade.
A sessão seria realizada nesta quinta-feira (14), mas o juiz Adriano Celestino Santos, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, entendeu que o crime se trata de um feito complexo, que contará com o interrogatório dos réus Josué Lopes de Oliveira Júnior, Hugo da Conceição Guedes, Everson Loyola da Conceição e Jhonny da Silva Gomes , além de diversas testemunhas. 
Para o magistrado, o julgamento possivelmente se estenderá por pelo menos dois dias e, por isso, há a necessidade de solicitar com antecedência verba necessária para custeio de pernoite dos jurados.
O júri popular foi marcado para o dia 18 de abril de 2024, às 9h. O juiz ainda solicitou um reforço do 20º BPM (Mesquita) no policiamento da sessão, levando em conta o número de acusados e as peculiaridades do caso.
O adiamento é o segundo realizado sobre o caso. O julgamento estava marcado para o dia 4 de setembro, mas a Justiça atendeu um pedido do advogado de Jhonny Gomes, que havia assumido sua defesa na época e relatou falta de tempo para analisar o caso. O Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e os representantes dos outros réus também solicitaram a mudança na data.
Acusados aguardam em liberdade
Em junho deste ano, Josué, Hugo, Everson e Jhonny foram soltos após uma determinação da Justiça do Rio. O motivo do habeas corpus concedido aos quatro foi a demora para o início do julgamento no Tribunal do Júri.
A prisão preventiva dos réus foi decretada no dia 3 de abril de 2019. Desde então, diversas audiências sofreram adiamentos por pedidos do MPRJ e da defesa dos réus. As mudanças culminaram na soltura dos acusados em junho.
Ao DIA, Vanessa Bernardo Torres, de 36 anos, mãe da vítima, revelou, nesta quarta-feira (13), que sente medo com a liberdade dos homens.
"Desde junho, quando os assassinos tiveram o habeas corpus concedido, vivo um pesadelo. Me tiraram o direito de ir e vir. Eu não sei que Justiça é essa do Brasil. Bandidos tem direito à segunda chance e meu filho Lucas, de apenas 16 anos, não teve porque sua vida foi ceifada por motivo torpe. Me sinto desprotegida porque em momento algum eles se preocupam com que pode acontecer com eles livres. Em 2019, abandonei minha casa própria. Hoje, vivo de aluguel porque sabemos como são os milicianos da Baixada. Como fizeram covardia com meu filho podem muito bem armar algo para mim ou qualquer outra testemunha", disse.
Para a cuidadora de idosos, passar mais um fim de ano sem a presença do filho causa angústia e incerteza se o caso será resolvido. Após cinco anos do assassinato, Vanessa pede que a Justiça seja feita.
"Vou passar mais um fim de ano sem meu filho com essa angústia e a incerteza de que algo vai ser feito. Me sinto abandonada pelo estado. São quase cinco anos nessa luta. O quinto ano que meu Natal não tem sentido. Não tenho minha família porque quatro monstros a destruiu. Hoje, vivo com várias comorbidades, não consigo trabalhar, tenho crises de ansiedade repetidamente, síndrome do pânico, não saio sozinha porque acho que todos os lugares eles podem estar. A última coisa que peço é que as autoridades façam algo por mim, pois tenho um filho de 12 anos. Com eles mais tempo livres, eu temo pelas nossas vidas", completou.
Relembre o caso

Lucas Torres dos Santos, de 16 anos, estava com um casal de amigos em uma festa na Praça de Cabuçu, em Nova Iguaçu, no dia 2 de março de 2019. Segundo a denúncia, Jhonny Gomes, apontado como mandante do crime, partiu em direção ao amigo da vítima, que estava com a ex-namorada do réu.
A investigação apontou que Johnny e os amigos não conseguiram agredir o rapaz e planejaram retornar ao local para pegá-lo. No entanto, encontraram apenas a moça e Lucas, que sofreu uma "gravata" enquanto Josué Júnior o segurou pelo braço esquerdo e o denunciado Hugo Guedes o empurrou na direção das caixas de som do evento.

Os réus ordenaram que Lucas dissesse onde seu amigo estava. O menino afirmou que o jovem já estava em casa e não retornaria à festa. Em seguida, Johnny, Josué, Everson e Hugo ordenaram a Lucas que fizesse com que o amigo retornasse à festa. Diante da negativa, os denunciados decidiram acabar com a vida do jovem.

O grupo colocou a vítima em um Volkswagen Gol preto e partiu para uma casa abandonada. As investigações apontaram que Lucas morreu no local após três golpes. Johnny estava armado com um cabo de madeira, e Josué, com um machado.

Mesmo com a vítima morta, Josué continuou a golpear com um machado e Hugo e Everson, com um pedaço de madeira. Após a morte, os acusados atearam fogo no corpo e deixaram o local.