Publicado 17/04/2024 19:47
Rio - O laudo de exame de necropsia do idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, que teve a morte constatada dentro de uma agência bancária em Bangu, na Zona Oeste do Rio, realizado nesta quarta-feira (17) pelo Instituto Médico Legal (IML) de Campo Grande, apontou que não é possível determinar se o homem veio a óbito antes ou depois de chegar no banco.
Segundo o documento, a morte teria acontecido entre 11h30 de terça-feira (16), dia em que foi na agência, e 1h desta quarta-feira (17), ou seja, de 10h a 24h de o idoso ser submetido ao exame de necropsia. Com isso, o laudo é inconclusivo sobre o momento exato da morte de Paulo. Imagens de câmeras de segurança mostram Erika de Souza Vieira Nunes retirando o homem de um veículo de aplicativo por volta das 13h de terça-feira (16) para levá-lo ao banco.
"O perito não tem elementos seguros para afirmar do ponto de vista técnico e científico se o sr. Paulo Roberto Braga faleceu no trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária. Apesar das técnicas mais modernas, não pode o perito consciente de suas responsabilidades estabelecer com precisão determinada hora como aquela que ocorreu a morte. No máximo, deve fazer uma aproximação tão segura quanto possível, que inclua o real momento da morte. Desta forma, a necropsia se iniciando as 11h30 do dia 17/04/2024, o perito pode afirmar que o óbito ocorreu entre 10,5h a 24 horas em relação ao momento da necropsia, sendo assim entre 11h30h do dia 16/04/2024 e 01h00 do dia 17/04/2023", informa o laudo do IML.
A causa da morte de Paulo, de acordo com o laudo, foi broncoaspiração do conteúdo estomacal e falência cardíaca. O texto também destacou que a rigidez cadavérica se desenvolve de forma progressiva, começando pela nuca e descendo para outros membros. Os peritos colheram o sangue do idoso para saber se houve algum tipo de envenenamento.
De acordo com o documento, o idoso se tratava de um homem previamente doente com necessidade de cuidados especiais. Paulo ficou internado por uma semana na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Bangu com quadro de infecção pulmonar, recebendo alta na segunda-feira (15), um dia antes de morrer.
Testemunha diz que idoso saiu vivo de casa
Um homem que trabalha como mototaxista em um ponto na rua de Erika prestou depoimento nesta quarta-feira (17), na 34ª DP (Bangu), e disse que o idoso estava vivo no momento em que saiu de casa e seguiu com a mulher até o banco.
De acordo com a testemunha, ele ajudou a colocar Paulo dentro do veículo que levou o homem e Erika até o estacionamento de um shopping próximo à agência. Segundo o homem, a mulher o abordou por volta das 12h20 de terça-feira (16) pedindo ajuda para colocar o idoso no carro.
O mototaxista contou aos policiais que entrou na casa da família e encontrou Paulo deitado na cama. Ele pegou o idoso pelos braços, com a ajuda de Erika, e o levou até o veículo. Conforme diz o depoimento, o idoso ainda respirava e tinha forças nas mãos. A testemunha ressaltou que Paulo até segurou na porta do carro quando entrou.
Segundo o delegado Fábio Luiz, titular da 34ª DP, a falta de conclusão sobre o horário da morte de Paulo não altera a investigação, pois as informações do laudo batem com que o médico que o atendeu informou.
Relembre o caso
Paulo foi conduzido por Erika, que se apresentou como sua sobrinha, nesta terça-feira (16), até um banco em Bangu, na Zona Oeste, para retirada de R$ 17 mil de um empréstimo que o idoso havia solicitado no fim de março.
No momento do atendimento, funcionários estranharam o comportamento do idoso, que não respondia e nem se mexia. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamada e atestou a morte de idoso.
Veja o vídeo:
Uma câmera de segurança do estacionamento do shopping próximo ao banco mostra o idoso sendo retirado de um veículo por Erika e por um homem antes de aparecer morto na agência. Na gravação, Paulo aparece sentado no banco de carona do carro. A mulher recebe ajuda do motorista para retirar o idoso do veículo e colocá-lo na cadeira de rodas que a mulher conseguiu no estabelecimento. O corpo do homem fica imóvel durante o vídeo. Assista:
Uma outra câmera de segurança flagrou o momento seguinte da retirada do homem do carro. Na gravação, o idoso aparece com a cabeça tombada para o lado algumas vezes, como se já não tivesse mais controle do corpo. Veja:
Segundo Erika, o homem estava vivo no momento em que entrou no banco. Contrariando o que a mulher alegou, o delegado Fábio Luiz informou que Paulo teria morrido há cerca de duas horas porque livores cadavéricos, que são acúmulos de sangue decorrentes da interrupção da circulação, indicam que Paulo não teria morrido sentado, como estava na cadeira, mas possivelmente deitado.
"Ela fala que foi um caso de registro mal feito e afirma que o idoso estava vivo, e que foi ele que quis ir pegar o dinheiro do seguro que já tinha sido realizado no dia 25 do mês passado. Mas, no vídeo dá para ver claramente que ele já estava morto, então essa alegação dela, só nesse vídeo, já dá pra ver que não procede. Tudo indica que ela cuidava dele e era responsável por isso, informalmente alguns outros familiares vieram e falaram isso. Ela chegou a dizer que ele tinha problemas de saúde e que ficou internado dias atrás. Tudo vai ser investigado", explicou o delegado.
Em depoimento, Erika contou que o idoso tinha solicitado o empréstimo para comprar uma televisão nova e reformar a casa. Na sua oitiva, a mulher alegou que Paulo chegou vivo ao banco e que parou de responder no momento do atendimento no guichê. Enquanto prestava depoimento, ela não demonstrou tristeza sobre o assunto, mas sim uma preocupação por estar presa.
A mulher foi presa em flagrante pelos crimes de tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver, sendo que este segundo, que corresponde ao desrespeito aos mortos, tem uma pena de um a três anos de prisão, além de multa. Erika foi encaminhada para um presídio nesta quarta-feira (17), onde aguarda a realização de sua audiência de custódia.
Ainda não há informações sobre o sepultamento do idoso. Familiares estiveram nesta quarta no IML de Campo Grande e liberaram o corpo. O cadáver segue no instituto até a família marcar o enterro.
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