Publicado 27/04/2024 17:10 | Atualizado 27/04/2024 17:18
Rio - O estudante Allan Pinto Ignácio, que teve a matrícula rejeitada entre os cotistas da Universidade Federal Fluminense (UFF) por enviar vídeo de declaração racial sem áudio, foi convidado pela coordenadoria do pré-vestibular social onde estudou para palestrar sobre humanidade para ex-colegas e novos alunos do curso. A palestra ocorreu neste sábado (27). O jovem, negro de pele retinta, conseguiu ingressar na UFF por meio de uma liminar judicial.
Ao Dia, Allan revelou que não tinha o costume de falar em público na escola. Apesar da timidez, ele tratou o microfone como um amigo de longa data e falou sobre suas experiências por quase uma hora. Após a palestra, o jovem disse que o problema com a UFF o inspirou.
"Primeira vez que eu consegui falar, sou tímido. Tudo o que aconteceu recentemente fez eu ter que falar mais", disse o rapaz.
O pré-vestibular onde Allan estudou é um projeto de extensão da universidade. São os próprios alunos da graduação de jornalismo que dão aulas, monitoria e orientação pedagógica, por exemplo. A universitária Liz Bonfim, que deu aula de literatura para o Allan, rasgou elogios ao aluno.
"Ele falou sobre a história de vida dele. Sobre resiliência, principalmente. Que ele acreditava em algo novo e persistiu, mesmo trabalhando durante o dia. E como professora dele mesmo, posso dizer que fiquei muito feliz e orgulhosa. Nas aulas ele sempre foi muito atencioso", afirmou.
Além de Allan, outros dois ex-alunos do pré-vestibular palestraram neste sábado. De acordo com Liz, a ideia é incentivar os estudantes que ainda não passaram no vestibular a não desistirem. "Como ele quer ser exemplo e inspiração, a gente achou ótimo ele poder falar pros ex-colegas", concluiu.
Matrícula rejeitada
Após ser aprovado para cursar jornalismo dentro do plano de cotas, Allan Pinto Ignácio, que é negro de pele retinta, teve sua matrícula rejeitada por enviar vídeo de declaração racial sem áudio.
Segundo a advogada Géssica Castro, responsável pelo caso de Allan, foi necessário entrar com uma liminar judicial para fazer com que a UFF voltasse atrás na decisão.
A ação foi aprovada pelo juiz Leo Francisco Giffoni, da 5ª Vara Federal de São Gonçalo, que afirmou que a recusa da universidade foi "excessivamente rigorosa e desprovida de razoabilidade, em especial quando o erro técnico pode ter sido causado pela própria plataforma da ré".
O estudante foi aprovado em terceiro lugar pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) na seleção de candidatos pretos, pardos e indígenas de baixa renda que estudaram em escolas públicas. Como o processo de verificação de cotas é online, Allan, que não tem acesso frequente à internet, precisou gravar um vídeo se declarando preto para anexá-lo na plataforma de inscrição da faculdade.
Mesmo com as imagens destacando os traços do jovem, a Comissão de Heteroidentificação da UFF, que verifica a cor e raça dos cotistas, o desqualificou, por, "ao realizar o upload do vídeo, não falar seu nome completo e não se declarar com a frase: 'Eu me autodeclaro preto', conforme consta no formulário eletrônico para envio de documentação da UFF".
Allan só conseguiu ingressar no curso com o semestre letivo já tendo iniciado. Ele foi à aula pela primeira e única vez na quinta-feira (25).
PublicidadeAo Dia, Allan revelou que não tinha o costume de falar em público na escola. Apesar da timidez, ele tratou o microfone como um amigo de longa data e falou sobre suas experiências por quase uma hora. Após a palestra, o jovem disse que o problema com a UFF o inspirou.
"Primeira vez que eu consegui falar, sou tímido. Tudo o que aconteceu recentemente fez eu ter que falar mais", disse o rapaz.
O pré-vestibular onde Allan estudou é um projeto de extensão da universidade. São os próprios alunos da graduação de jornalismo que dão aulas, monitoria e orientação pedagógica, por exemplo. A universitária Liz Bonfim, que deu aula de literatura para o Allan, rasgou elogios ao aluno.
"Ele falou sobre a história de vida dele. Sobre resiliência, principalmente. Que ele acreditava em algo novo e persistiu, mesmo trabalhando durante o dia. E como professora dele mesmo, posso dizer que fiquei muito feliz e orgulhosa. Nas aulas ele sempre foi muito atencioso", afirmou.
Além de Allan, outros dois ex-alunos do pré-vestibular palestraram neste sábado. De acordo com Liz, a ideia é incentivar os estudantes que ainda não passaram no vestibular a não desistirem. "Como ele quer ser exemplo e inspiração, a gente achou ótimo ele poder falar pros ex-colegas", concluiu.
Matrícula rejeitada
Após ser aprovado para cursar jornalismo dentro do plano de cotas, Allan Pinto Ignácio, que é negro de pele retinta, teve sua matrícula rejeitada por enviar vídeo de declaração racial sem áudio.
Segundo a advogada Géssica Castro, responsável pelo caso de Allan, foi necessário entrar com uma liminar judicial para fazer com que a UFF voltasse atrás na decisão.
A ação foi aprovada pelo juiz Leo Francisco Giffoni, da 5ª Vara Federal de São Gonçalo, que afirmou que a recusa da universidade foi "excessivamente rigorosa e desprovida de razoabilidade, em especial quando o erro técnico pode ter sido causado pela própria plataforma da ré".
O estudante foi aprovado em terceiro lugar pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) na seleção de candidatos pretos, pardos e indígenas de baixa renda que estudaram em escolas públicas. Como o processo de verificação de cotas é online, Allan, que não tem acesso frequente à internet, precisou gravar um vídeo se declarando preto para anexá-lo na plataforma de inscrição da faculdade.
Mesmo com as imagens destacando os traços do jovem, a Comissão de Heteroidentificação da UFF, que verifica a cor e raça dos cotistas, o desqualificou, por, "ao realizar o upload do vídeo, não falar seu nome completo e não se declarar com a frase: 'Eu me autodeclaro preto', conforme consta no formulário eletrônico para envio de documentação da UFF".
Allan só conseguiu ingressar no curso com o semestre letivo já tendo iniciado. Ele foi à aula pela primeira e única vez na quinta-feira (25).
UFF se manifesta
Procurada, a Universidade Federal Fluminense disse que Allan está matriculado no curso. Leia a nota na íntegra:
"A Universidade Federal Fluminense informa que o estudante Allan Pinto Ignácio está regularmente matriculado no curso de jornalismo. Inicialmente, ele não foi aprovado na primeira etapa de avaliação devido ao fato de não cumprir um item do edital, que se trata da autodeclaração em vídeo. É importante ressaltar que o processo seletivo é um concurso público, e portanto, possui um edital que define todas as normas, e a exigência de autodeclaração é prevista como obrigatória, como disposto no subitem 8.3.8 previsto no Edital do Processo Seletivo Sisu. Na etapa de autodeclaração, o candidato deve se declarar negro, pardo, indígena ou quilombola.
Ressaltamos ainda que, conforme consta no edital, todos os estudantes têm o direito de apresentar recurso no prazo definido no edital. Contudo, o estudante não apresentou o recurso dentro do prazo estipulado para o pedido de reconsideração. Frente ao mandado judicial recebido em 18 de abril de 2024, a Universidade imediatamente matriculou o estudante.
Ressalta-se, por fim, que a UFF adota o sistema de cotas raciais desde 2003, justamente por reconhecer a importância desta política para o ingresso de grupos historicamente sub-representados no ensino superior. Soma-se a isso todo o esforço institucional em oferecer meios e recursos para a manutenção dos estudantes na universidade, assegurando que as oportunidades de ensino sejam distribuídas de forma igualitária e justa."
Ressalta-se, por fim, que a UFF adota o sistema de cotas raciais desde 2003, justamente por reconhecer a importância desta política para o ingresso de grupos historicamente sub-representados no ensino superior. Soma-se a isso todo o esforço institucional em oferecer meios e recursos para a manutenção dos estudantes na universidade, assegurando que as oportunidades de ensino sejam distribuídas de forma igualitária e justa."
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