Jovem de 22 anos vai conseguir ingressar na universidade por liminarReprodução / Instagram
A ação foi aprovada pelo juiz Leo Francisco Giffoni, da 5ª Vara Federal de São Gonçalo, que afirmou que a recusa da universidade foi "excessivamente rigorosa e desprovida de razoabilidade, em especial quando o erro técnico pode ter sido causado pela própria plataforma da ré".
O estudante foi aprovado em terceiro lugar pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) na seleção de candidatos pretos, pardos e indígenas de baixa renda que estudaram em escolas públicas. Como o processo de verificação de cotas é online, Allan, que, conforme explicou a advogada, não tem acesso frequente à internet, precisou gravar um vídeo se declarando preto para anexá-lo na plataforma de inscrição da faculdade.
Mesmo com as imagens destacando os traços do jovem, a Comissão de Heteroidentificação da UFF, que verifica a cor e raça dos cotistas, o desqualificou, por, "ao realizar o upload do vídeo, não falar seu nome completo e não se declarar com a frase: 'Eu me autodeclaro preto', conforme consta no formulário eletrônico para envio de documentações da UFF".
Allan expressou como se sentiu no momento em que faculdade recusou a matrícula. "Foi muito frustrante, fiquei duas semanas tentando lidar com o que aconteceu. Um ano me custaria muito."
"Isso dificulta o acesso das pessoas que mais precisam, que não têm acesso à internet e instrução. Quando ele soube do resultado, faltavam poucas horas para o prazo de contestar acabar. Ele ficou desesperado, nos procurou como último recurso", analisa.
Ressalta-se, por fim, que a UFF adota o sistema de cotas raciais desde 2003, justamente por reconhecer a importância desta política para o ingresso de grupos historicamente sub-representados no ensino superior. Soma-se a isso todo o esforço institucional em oferecer meios e recursos para a manutenção dos estudantes na universidade, assegurando que as oportunidades de ensino sejam distribuídas de forma igualitária e justa."
Alívio
Por ter sido matriculado pela liminar, aprovada no dia 15 de abril, Allan conseguiu ingressar no curso, mesmo com o semestre letivo já tendo iniciado. Ele foi à aula pela primeira vez nesta quinta-feira (25), mas ainda está confuso com o calendário.
Morador do bairro de Neves, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, o jovem lembrou, ainda, da sua rotina de estudos, enquanto fazia pré-vestibular social em Niterói. "Foi um período bem difícil, tive que lidar com várias coisas. Mesmo sem dinheiro, fui muito teimoso e lutei para ir ao pré-vestibular. Algumas vezes cheguei até a precisar ir andando. Quando passei, foi um alívio para mim e para minha família", conta. O trajeto da casa de Allan até o curso é de 5 quilômetros de distância, o que equivale a mais de uma hora caminhando.
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