Publicado 27/05/2024 12:17
Rio - Uma briga por vaga de garagem motivou a discussão entre Douglas da Costa, de 38 anos, e o vizinho, em Santíssimo, na Zona Oeste. O motorista de aplicativo e estudante de enfermagem foi baleado nas costas, após se desentender com o homem, e acabou morrendo, neste domingo (26). Familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML) do bairro, na manhã desta segunda-feira (27), para liberar o corpo da vítima e pediram por justiça.
PublicidadeA companheira de Douglas, Jéssica Ismael Coutinho, conta que ele e o vizinho já haviam discutido antes, porque o motorista havia parado seu veículo em frente à garagem do homem, mas prometeu que não voltaria a acontecer. No dia do crime, o carro do estudante estava emprestado para um colega, que acabou estacionando no local, por volta das 12h, por acreditar que a vítima já saíria para trabalhar. Pouco tempo depois, a mulher recebeu um telefonema pedindo para que tirassem o automóvel.
Jéssica relatou que quando o colega desceu para tirar o carro, encontrou Mazinho esvaziando os pneus e chamou Douglas, que foi tirar satisfações com o vizinho. Durante a briga, o vizinho teria dito que se o estudante "fosse homem", estacionaria no local outra vez. A mulher acompanhava a discussão do portão de casa e viu o momento em que o marido dava ré e o veículo foi atingido de raspão por um tiro. Assustado, o motorista saiu e se escondeu atrás do automóvel, mas acabou atingido nas costas por um disparo. O atirador ainda teria oferecido socorro à vítima.
"O Mazinho olhou para mim e falou assim: 'se você quiser, eu te ajudo a socorrer ele, botar ele dentro do carro'. Eu falei: 'eu não quero que você encoste no meu marido, só quero que você seja preso, seu assassino'", contou a mulher. O estudante chegou a ser levado para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, e recebeu os primeiros atendimentos, mas morreu a caminho da cirurgia. Mazinho conseguiu fugir e ainda não foi localizado. A mulher diz que teme voltar para casa.
"Eu estou insegura, estou com medo do que pode acontecer comigo, porque foi um vizinho que mora no meu bairro, um vizinho que não é 'polícia', não é nada e tem uma arma. Eu não sei o que pode acontecer comigo, com meu filho, com minha família. Eu tenho que entrar, tenho que sair, tenho duas crianças e estou sozinha, estou sem o Douglas, que era minha segurança, que era quem estava comigo o tempo todo, que era quem me protegia", desabafou Jéssica, que afirmou ainda ter passado as últimas horas à base de medicamentos.
"Eu ainda estou sem acreditar, está muito difícil. Eu tomei remédio para conseguir estar aqui, para conseguir dormir, para conseguir entrar na minha casa, para não ter medo de entrar no meu bairro (...) Eu estou sem chão, sem saber o que fazer, sem saber o que falar, como seguir em frente, sem saber como vai ser com meu filho que só tem 1 ano e sete meses, ainda é um bebê, como vai ser daqui para frente. Era o Douglas para tudo". Segundo a companheira da vítima, o vizinho tinha um histórico agressivo e uma anotação criminal.
"Ele sempre está arrumando briga, ele já tem passagem pela polícia, não me falaram na delegacia pelo quê. O que uma pessoa que já tem passagem pela polícia e é agressiva está fazendo o que aqui fora? Vai tirar a vida de mais quantas pessoas, mais quantas pessoas vão precisar morrer para ele ir preso? Quando é que ele vai preso? Será que um dia ele vai preso, será que um dia ele vai pagar pelo que ele está fazendo? Ele não tinha que estar aqui fora, ele tinha que estar pagando, em um lugar que ela aprendesse a ser um ser humano, porque a pessoa que fez isso com meu marido não pode ser chamado de ser humano", lamentou.
Douglas já havia trabalhado como motorista de ambulância e a paixão pela área da saúde o fez iniciar o curso técnico de enfermagem. Ele era estagiário no Hospital Municipal Albert Schweitzer e havia feito a última prova no sábado (25). "Ele estava tão feliz que tinha conseguido realizar o sonho dele", disse Jéssica. "(O Douglas) era a melhor pessoa do mundo, ele era uma pessoa brincalhona, ele era alegre, um ótimo pai, um ótimo marido", descreveu a companheira, que contou ainda que o marido era querido por todos.
"Ninguém falou que ele era uma pessoa ruim, porque ele não era. Se você precisasse dele aqui, agora, ele parava o que estava fazendo para te ajudar, como ele já cansou de fazer. Todas as pessoas tem muitas coisas boas para falar dele". A sobrinha Nathalia da Costa contou que ele já havia impedido uma pessoa que tentava tirar a própria vida. "Ele salvou uma vida e a gente queria fazer o que ele fez e não pode. A justiça precisa ser feita, esse homem precisa pagar pelo que fez, ele não pode ficar impune assim", pediu a jovem.
De acordo com a Polícia Civil, inicialmente o caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande) e depois transferido para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). As investigações estão em andamento para esclarecer todos os fatos. Até a manhã desta segunda-feira, o veículo da vítima ainda estava no local do crime e era possível ver as marcas de tiros no carro e nas paredes. Douglas deixa a mulher e um filho de 1 ano e sete meses. A vítima será sepultada nesta terça-feira (28) no Cemitério do Murundu, em Realengo.
"Eu quero justiça, que ele seja preso e fique (na prisão), porque o que eu mais vejo é a pessoa chegar na delegacia, só prestar um depoimento e sair. Se ele não for preso, eu não sei nem o que pode ser de mim. Eu quero justiça, quero que ele pague pelo que fez com meu marido, que aprenda a ser uma nova pessoa, porque ele não é um ser humano. Para mim, uma pessoa que faz isso não é um ser humano", disse Jéssica.
*Colaborou Renan Areias
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