Sepultamento da camareira Soraia Mendonça; Com camisas do Vasco, os filhos se abraçavam Ana Fernanda/O DIA
Publicado 02/07/2024 13:28
Rio- O sepultamento da camareira Soraia Mendonça Castanheiro, 51 anos, que morreu após ser atropelada enquanto trabalhava em um motel de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, foi marcado por revolta e desejo de justiça. Durante a manhã desta terça-feira (2), no Cemitério São Miguel, no mesmo município, o velório reuniu cerca de 100 pessoas. Para os familiares, a vítima era considerada uma pessoa trabalhadora, alegre, apaixonada pelo Vasco e além de tudo, uma ótima mãe e avó.
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Na despedida, os filhos da camareira, Cauã e Matheus Mendonça Castanheiro, de 18 e 29 anos, que são flamenguistas, vestiam camisas do Vasco em homenagem à mãe. Soraia deixa ainda um neto de 6 anos e uma neta, que deve nascer nos próximos meses. 

Ao DIA, Matheus afirmou que o motorista, identificado como Vilson Martins Gomes, tem que pagar pelo que fez. "Ele nem parou, passou por cima da minha mãe. Infelizmente, esse vândalo estava na zoação, não estava puro, saiu cambaleando. Ele só parou depois que o carro acionou o airbag, depois que não tinha como ele acelerar mais o carro, se não ele não tinha parado. E minha mãe tá indo aí, deixando eu e meu irmão e dois netos, um que vai nascer e outro que tá em casa sentindo a falta dela. Ela era uma pessoa muito boa, trabalhadora, estava no ambiente de trabalho dela", disse emocionado.

Para a cunhada, Camila Tavares, enquanto toda uma família chora, o condutor segue impune. "Em nenhum momento ele prestou socorro. Enquanto a família chora por uma Justiça, cadê a perícia? Cadê o socorro pelos policiais? Que só estavam preocupados com o suspeito que estava lá dentro? Se ele não estava alcoolizado, que medicação ele tomou? Cadê o exame toxicológico? Cadê a Justiça do nosso país? Todo dia um acidente e quem chora são os familiares", lamentou.

A família diz que o condutor é um empresário, morador de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. A informação, no entanto, ainda não foi confirmada pela Polícia Civil, que investiga o caso.

Amiga presenciou o acidente

Momentos antes do sepultamento, a secretária do motel e amiga da vítima, Hinara Magalhães, 39 anos, descreveu o momento em que o motorista invadiu o local. "Ele bateu no portão, que saiu fumaça, o carro só parou depois que bateu na parede. Estão falando que ele prestou socorro, mas quem prestou socorro fomos nós. O motel fica do lado de um posto de saúde, para nossa sorte tinha uma ambulância que socorreu ela", disse.

Hinara reforçou que o homem, um idoso de 71 anos, entrou em alta velocidade e que uma pessoa que estava no carona fugiu. "Não deu tempo de dá nem boa tarde, ele estraçalhou o portão e depois já desceu com a mão na cabeça, se ele estivesse passando mal, como que ele não desceu pela rampa? Como conseguiu fazer a curva? Ele estava dirigindo de chinelo e meia, com sinais de embriaguez, alegou que teve um mal súbito, mas as enfermeiras do posto foram lá ver e ele estava bem", disse.

Ainda segundo a amiga, o motorista permaneceu no local pois foi detido por funcionários do motel dentro de um apartamento. Ela relatou também que tem revivido a cena em sua cabeça por várias vezes.

"Eu sou hipertensa e estou dopada, porque ela era minha amiga já há uns 4 ou 5 anos, eu ia na casa dela, conhecia a família dela, aquela cena da minha amiga caída no chão, com a mão, o dedo, os dentes quebrados. Ela faria aniversário no próximo dia 27", lamentou.

Por fim, Hinara retratou Soraia como uma pessoa alegre. "Ela era muito divertida, gostava de tomar umas cervejinhas, ir à praia , fazer uma marquinha, estava se preparando para o aniversário dela. Ela trazia alegria para o trabalho. Queremos Justiça", disse.

Advogado estuda mudar tipificação do crime

O caso foi registrado como lesão corporal culposa, quando não há intenção de matar. O advogado da família, Petronilho Carneiro, estuda a mudança para tipificação do crime.

"Vamos verificar todos os procedimentos a serem adotados pela polícia. De modo a fundamentar uma justiça criminal, civil e também trabalhista, porque a empresa falhou no ambiente da segurança do trabalho. A defesa entende, a princípio, se tratar de um homicídio culposo sobre veículo automotor, contudo sendo verificado que, de algum modo, o agente do crime assumiu o risco do resultado morte, ele deve responder por homicídio doloso, com dolo eventual", disse.

Segundo a Polícia Civil, o caso foi registrado na 75ª DP (Rio do Ouro). "O autor, que permaneceu no local e prestou socorro, foi ouvido e realizou exame de alcoolemia, cujo resultado foi negativo. A perícia foi feita e a investigação está em andamento", disse em nota.
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