Polícia Federal cumpriu mandados na casa de Washington ReisReprodução/TV Globo
Publicado 04/07/2024 11:10
Rio - A Polícia Federal realiza, nesta quinta-feira (4), a segunda fase da operação contra fraudes no sistema de vacinação, que teriam beneficiado o ex-presidente Jair Bolsonaro e familiares. Os agentes cumprem mandados de busca e apreensão contra o ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário estadual de Transportes, Washington Reis, e a secretária de saúde do município da Baixada, Célia Serrano, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A primeira fase da ação, em maio de 2023, prendeu seis suspeitos de envolvimento no esquema. 
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Os mandados foram expedidos a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e cumpridos na casa de Washington Reis, em Xerém, e na cidade do Rio. De acordo com a PF, a segunda fase da Operação Venire investiga a existência de uma organização criminosa responsável por inserir dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema de informação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), do Ministério da Saúde.
Os alvos são agentes públicos ligados à cidade de Caxias, que seriam responsáveis por viabilizar a inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas. No ano passado, o então secretário municipal de Governo, João Carlos de Sousa Brecha, foi preso pelo crime. Além dele, a chefe da central de vacinação, Cláudia Helena da Costa Rodrigues, foi apontada como responsável pela retirada dos dados do ex-presidente Jair Bolsonaro, da filha dele, Laura Bolsonaro, e de pelo menos outras três pessoas dos registros. 
Além de Brecha, a operação realizada em maio de 2023 ainda prendeu o tenente-coronel do Exército, Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o sargento Luis Marcos dos Reis, que era da equipe de Mauro Cid; o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros; o ex-sargento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio, Max Guilherme; e o militar do Exército Sérgio Cordeiro, que atuavam na segurança do presidente.
Por meio de nota, o Governo do Estado declarou que a operação "tem como alvo único e exclusivo a obtenção de cartões de vacinação relacionados ao município de Duque de Caxias em 2022" e que "não existe nada referente ao Governo do Rio na investigação e nem fatos que comprometam a conduta do secretário". 
Procurada, a Prefeitura de Caxias informou que a segunda fase da ação "não teve como alvo nenhum órgão vinculado à municipalidade". A nota diz ainda que a prefeitura não se manifestará sobre os mandados dirigidos à pessoas físicas, "considerando o sigilo que recobre os atos nesta manhã realizados", completou.
Em uma publicação nas redes sociais, o vice-governador do Rio, Thiago Pampolha, publicou uma nota em apoio ao secretário, que é também presidente estadual do MDB. "Reconhecemos a importância das investigações e sua ampla e total transparência, e esperamos que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos e apurados de forma justa e imparcial", escreveu. 
Washington Reis também comentou a operação. "Hoje recebi agentes da Polícia Federal em minha residência, em Xerém, Duque de Caxias. Como figura pública com mais de 32 anos de atuação política, estou ciente dos desafios enfrentados pelo nosso país em meio a uma polarização política intensa. O ano de eleições traz consigo muitas tensões e, infelizmente, também covardias", disse. 
Reis ainda lembrou das medidas que adotou no município de Caxias durante a pandemia de covid-19, quando ainda era prefeito, e destacou sua atuação como secretário de Transporte. "Estou comprometido com a população fluminense e com o desenvolvimento do nosso estado", afirmou. 
Entenda o caso
De acordo com a Polícia Federal, a falsificação teria ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 e os beneficiados emitiram certificados de vacinação durante as restrições sanitárias atribuídas pelo Brasil e Estados Unidos. As inserções de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde tiveram como consequência "a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a covid-19 dos beneficiários", apontou a instituição, à época. 
Na ocasião, a PF informou que, a partir das fraudes, "tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa". Em 27 de dezembro de 2022, Cláudia Helena teria feito a retirada dos dados da vacinação de Bolsonaro, três dias antes do ex-presidente viajar aos Estados Unidos, em 30 de dezembro.
Além de Bolsonaro e da filha Laura, a chefe de vacinação também teria retirado informações sobre a vacinação do tenente-coronel Mauro Cid e de dois familiares do ex-ajudante de ordem da Presidência. As ações ocorreram dentro do inquérito policial que apura a atuação das chamadas "milícias digitais", em tramitação no STF. 
 

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