PM atuando na Cidade Alta, em Cordovil, Zona norte do RioReginaldo Pimenta/Arquivo/Agência O Dia
Publicado 08/07/2024 10:26
Rio - A Polícia Militar realizou uma operação, nesta segunda-feira (8), no Complexo de Israel, na Zona Norte, para reprimir o crime organizado e a disputa territorial, além da retirada de barricadas e combater os roubos de veículos e cargas. No último fim de semana, denúncias apontam que pelo menos três igrejas da região foram obrigadas a fechar as portas após ameaças do chefe do tráfico, Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão.
Publicidade


Segundo a corporação, agentes do 16ºBPM (Olaria), com apoio do Grupamento Especializado de Salvamento e Ações de Resgate (Gesar), atuaram nas comunidades Cinco Bocas, Cidade Alta e Pica-Pau. Enquanto, equipes do Comando de Operações Especiais (COE) estiveram em Parada de Lucas e Vigário Geral. As comunidades formam o Complexo de Israel. A operação terminou sem prisões e apreensões. Apenas barricadas foram retiradas de ruas da região.
Em Parada de Lucas, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e São Justino foi fechada no sábado (6). Assim como as paróquias Santa Edwiges e Santa Cecília, em Brás de Pina, que também suspenderam o funcionamento das missas e atividades. Segundo denúncia de moradores, bandidos armados foram presencialmente às igrejas para obrigar o fechamento. Em comunicado nas redes sociais, os templos informaram a retomada do funcionamento apenas no domingo (7).
Na ocasião, apesar dos relatos de moradores e da confirmação da interrupção dos serviços, o Governo do Estado negou a informação e garantiu a segurança da população. "O blindado da Polícia Militar está baseado na localidade para evitar a retomada da instabilidade na região, garantindo o funcionamento das paróquias e a segurança dos moradores", disse em um trecho da nota.
A região, dominada pela facção Terceiro Comando Puro (TCP), sofre ainda com tentativas de invasão de traficantes do Comando Vermelho (CV), o que gera uma intensa onda de violência nas comunidades.

Religiosidade de Peixão
Segundo investigações, o Complexo de Israel leva esse nome por causa do domínio de Peixão, que é adepto de símbolos de Israel, como a Estrela de Davi. Apontado como líder da facção Terceiro Comando Puro (TCP), o traficante é conhecido por sua intolerância contra praticantes de religiões de matriz africana. Ele costuma expulsar moradores de suas áreas de influência simplesmente por exercer a religião, determinando a invasão e depredação de centros religiosos dedicados à citada devoção.

Contra ele, há 9 mandados de prisão em aberto, a maioria por tráfico de drogas, homicídio e ocultação de cadáver.

A religiosidade de Peixão é tamanha que ele se auto-intitula como Arão, o profeta de Deus, irmão de Moisés. O nome foi assumido também pela sua quadrilha que se autodenomina 'Tropa do Arão'. O próprio "Complexo de Israel", seria uma referência à terra prometida.
Além disso, o traficante também usa símbolos para marcar seus territórios, como a bandeira de Israel e a Estrela de Davi, que geralmente estão colocados em pontos altos das comunidades. Um exemplo está na Cidade Alta, onde foi instalada uma Estrela de Davi que pode ser vista há mais de 2,5km de distância.
O que dizem as autoridades?
Em relação ao fechamento das igrejas, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro informou que as paróquias Santa Edwiges e Santa Cecília, em Brás de Pina, na Zona Norte da capital, estiveram abertas e com a segurança reforçada pela Polícia Militar.
"É importante ressaltar que não houve intimidação ou qualquer tipo de comando de traficantes para fechar as igrejas e que essa informação surgiu de boatos em redes sociais", informou a pasta, em comunicado.

O governo disse ainda que as forças policiais vêm realizando operações na região para retirada de barricadas e para aumentar a segurança da população, rotineiramente, há pelo menos dois meses.
Procurada, a Arquidiocese do Rio ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Leia mais