Publicado 11/07/2024 12:43
Rio - O carpinteiro Vitor Soares do Nascimento, de 28 anos, não sofreu lesão neurológica grave e já está falando e movimentando os quatro membros, de acordo com a avaliação médica. O jovem trabalhava em uma obra, em Mangaratiba, na Costa Verde, nesta quarta-feira (10), quando um pedaço de madeira caiu do telhado e o atingiu. Equipes do hospital acreditam que a vítima não usava capacete ou outro equipamento de proteção no momento do acidente.
PublicidadeEm uma entrevista coletiva, nesta quinta-feira (11), a equipe médica que está cuidando de Vitor no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, relatou que ele inicialmente foi atendido em um hospital de Mangaratiba e a agilidade no socorro colaborou para que o jovem sobrevivesse. Ele foi encaminhado à unidade por conta da gravidade do acidente, por um helicóptero do Grupo de Socorro e Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros.
O jovem chegou ao local na tarde de ontem, com trauma frontal direito e estava sonolento, respondendo à poucas interações. "Eu fui visitá-lo pessoalmente no leito de CTI, é um paciente que já está fora de tubo, é um paciente que interage, então você conversa com ele, ainda está um pouco sonolento, mas ele é responsivo, sabe falar a data do aniversário dele, por exemplo, sabe mobilizar os quatro membros. Então, a gente identifica, com isso, que é um paciente que não teve lesão neurológica grave", afirmou o diretor-geral do HMAPN, Thiago Rezende.
O carpinteiro passou por uma tomografia de crânio, que evidenciou fratura fronto facial, com fragmentos ósseo, e contusão cerebral profunda. Segundo o coordenador da neurocirurgia, Vinícius Zogbi, a estaca tinha 40 cm e perfurou 6cm do lóbulo frontal direito de Vitor. O objeto não pôde ser retirado no atendimento na primeira unidade de saúde e só foi removido durante a cirurgia em Caxias, depois que os médicos realizaram uma craniotomia. No procedimento, também foi feita drenagem de hematoma cerebral e redução de afundamento em região frontal de crânio.
"Quando acontece um trauma em que há algum material perfurocortante que está fixado no corpo do paciente, o ideal é que não tente retirar, que ele fique e seja encaminhado ao hospital com esse material. Tanto é que, quando começa a cirurgia, a gente não retira em sala, a gente faz uma craniotomia, a gente abre em volta do crânio e, a partir do momento que a gente tem toda a visualização de onde está encostado, é que a gente consegue fazer a remoção do material", explicou Zogbi, que realizou o procedimento de cerca de quatro horas.
Ainda de acordo com o coordenador, o pedaço de madeira não atingiu estruturas importantes do cérebro e o jovem teve pouca perda de massa encefálica. A contusão cerebral foi completamente drenada e feita lavagem da cavidade, por se tratar de material contaminado. Logo após a cirugia, ele foi extubado e deu sinais de interação, além de ter mobilizado os quatro membros. Vitor ficou com um hematoma no olho direito, mas o globo ocular e o nervo ótico não foram afetados.
Entretanto, o neurocirurgião afirmou que ainda não é possível dizer se haverá sequelas e que outras complicações, como infecções, podem ocorrer. "É uma imagem muito impactante, muito grosseira, então, a gente vê uma estaca muito grande e a parte que entrou no crânio, apesar de não ser a estaca inteira, foram 6cm no lóbulo frontal direito. Primeiro que ele deu sorte de não pegar em algumas estruturas importantes do cérebro e isso melhora bastante o prognóstico dele", disse o neurocirurgião.
Nesta quinta-feira, o carpinteiro passou por tomografia de controle, que apresentou bons resultados. A avaliação vai se repetir ao longo dos próximos dias em que ele permanecer internado. A vítima está internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI)e recebeu a visita da mãe na manhã de hoje. O quadro do jovem permanece potencialmente grave, mas estável e ainda não há previsão para alta médica. Entre seis a oito mesesapós a recuperação, Vitor vai precisar passar por uma nova cirurgia para reconstruir o crânio e implantar uma prótese, jáque o osso foi fraturado em vários pedaços.
"Ainda nessa fase inicial, ele está em cuidados intensivos junto com o pessoal da terapia intensiva, da enfermagem, fisioterapia, ainda tem um risco de infecção e tratamento dos danos secundários gerados pelo trauma (...) Num segundo momento, vai ser necessário fazer a reconstrução do crânio dele, para fins funcionais para a proteção da caixa craniana e isso leva um tempo, não tem a necessidade de ser feita nesse momento, até por conta do risco de infecção", esclareceu o coordenador de cirurgia, Maurício Zogbi.
Caso semelhante
Em 15 agosto de 2012, o operário Eduardo Leite, na época com 24 anos, teve o crânio perfurado por um vergalhão enquanto trabalhava em uma obra em Botafogo, na Zona Sul do Rio. A barra de ferro de dois metros e meio de comprimento caiu de uma altura de 15 metros de um prédio e perfurou a cabeça do homem.
O objeto entrou pelo alto da cabeça e saiu entre os olhos da vítima. Eduardo perdeu 11% de massa encefálica no lado direito de uma região vital do cérebro, que funciona como uma espécie de central de controle, responsável pela tomada de decisões, pelos impulsos, memória, raciocínio e emoções.
O operário ficou internado 15 dias no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, onde passou por uma cirurgia de cinco horas, até receber alta e segue vivo até os dias atuais. Mais de uma década depois, seu caso ainda é estudado por cientistas.
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