Publicado 11/07/2024 18:07 | Atualizado 11/07/2024 18:11
Rio - Os dois policiais militares acusados de realizar uma abordagem racista a adolescentes estrangeiros negros, filhos de diplomatas, em Ipanema, na Zona Sul, prestaram depoimento, na tarde desta quinta-feira (11), na Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), no Leblon.
PublicidadeOs agentes são lotados na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Vidigal. Um deles chegou acompanhado de um oficial e o outro foi à delegacia sozinho. Por volta das 17h15, os policiais deixaram a especializada na mesma viatura sem falar com a imprensa. Advogados que os representam também estiveram na delegacia.
Os PMs já haviam sido ouvidos na Corregedoria-Geral da PM na segunda-feira (8), onde são alvos de um procedimento pelas condutas. Dois policiais da corporação estiveram no local para acompanhar as oitivas.
Veja a abordagem:
A Deat, com apoio da Delegacia de de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), investiga se houve racismo durante a abordagem. Rhaiana Rondon, mãe de um dos meninos, foi quem divulgou a situação nas redes sociais, na última quinta-feira (4). Para ela, os PMs cometeram o crime.
"Após 'perceberem' o erro, liberaram os meninos, mas antes alertaram as crianças que não andassem na rua, pois seriam abordadas novamente. As imagens, os testemunhos e o relato são claros. Não há dúvida: a abordagem foi racial e criminosa. Há anos frequentamos o Rio e nunca presenciei nada parecido no quadradinho privilegiado de Ipanema com meus filhos. É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem! Antes da viagem, fiz inúmeras recomendações, alertas e conselhos de mãe preocupada: 'Não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos'. Pensei em diversas situações, mas jamais que a polícia seria a maior das ameaças", escreveu.
Dois adolescentes, filhos de diplomatas do Gabão e de Burkina Faso, também prestaram depoimento nesta quinta-feira (11). Eles foram ouvidos via internet e disseram a revista aconteceu de forma truculenta.
Relembre o caso
A investigação começou depois da divulgação das imagens de uma câmera de segurança de um prédio na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, que mostram a abordagem realizada na última quarta-feira (3). No registro, é possível ver os dois PMs saindo do carro com armas em punho apontadas para os adolescentes.
Rhaiana Rondon disse que seu filho estava juntamente com três amigos, todos negros, de 13 e 14 anos, no momento em que o grupo foi abordado pelos policiais de forma truculenta. Eles foram ao local deixar um outro adolescente em seu prédio.
Logo quando os agentes chegaram eles iniciaram a abordagem e mandaram os jovens encostarem as mãos na parede. Os filhos dos diplomatas só foram liberados após o filho de Rhaiana dizer que os demais eram estrangeiros e que estavam no Rio a turismo.
"Uma viagem de férias, planejada há meses por quatro amigos. Com destino ao Rio, quatro adolescentes de 13 e 14 anos, acompanhados dos avós de um deles, experienciaram a pior forma de violência. Voltando para casa em Ipanema, foram deixar uma amigo na porta de casa quando foram abruptamente abordados por policiais militares armados e, sem perguntar nada, encostaram os meninos no muro do condomínio. Três, dos quatro adolescentes, são negros. Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados e obrigados a tirar os casacos", disse a mulher.
O Itamaraty pediu desculpas formais aos pais dos adolescentes estrangeiros na última sexta-feira (5). O Ministério das Relações Exteriores ainda anunciou que ia acionar o Estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem.
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