Reitoria foi ocupada por estudantes em protestoReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 30/07/2024 16:19 | Atualizado 31/07/2024 09:40
Rio - A reunião entre a reitoria da Uerj e representantes de alunos, que realizam uma ocupação no local, terminou sem acordo nesta terça-feira (30), no campus do Maracanã, Zona Norte. O encontro começou às 11h e terminou 13h20, segundo a universidade. Os manifestantes estão instalados desde a última sexta-feira (26) na reitoria da instituição em protesto contra o ato administrativo que representou o corte de 1.400 bolsas assistenciais, além de auxílios para os estudantes.
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Durante a negociação, a gestão da universidade argumentou pela desocupação e apontou a necessidade de uma "apuração cuidadosa" sobre danos ao patrimônio da instituição. A Uerj afirmou que aguarda novas discussões no movimento dos estudantes para marcar outra reunião nos próximos dias. Os estudantes, por sua vez, dizem que não houve acordo e que vão se reunir novamente para entender quais serão os próximos passos da manifestação. 
"Durante toda a reunião, pautamos com firmeza a revogação da Aeda, apresentando o porque desse ato executivo ser um ataque à permanência dos estudantes e colocamos como proposta a revogação imediata do AEDA 0038/24. A Reitoria teve uma postura absurda de chamar a ocupação de invasão comparando com os bolsonaristas de 8 de janeiro", criticou o grupo.

A organização da ocupação marcou assembleia estudantil para a próxima quinta-feira (1) às 17h, com local a definir, para definir os rumos do movimento."Nossa luta continua e, por isso, convidamos todos a participarem desse processo histórico que demonstra a força de mobilização do movimento estudantil! Nessa assembleia, iremos discutir e votar propostas que definirão os próximos passos da nossa luta e é crucial que todos os estudantes participem para que criemos um ambiente democrático na nossa luta", disse em comunicado.
Ainda segundo o grupo, houve uma proposta de nova reunião após a assembleia estudantil. "Sem ouvir uma contraproposta da reitoria e sabendo que a comissão está submetida as decisões coletivas dadas nas assembleias, propomos que houvesse uma segunda reunião sexta pela manhã, tendo em vista nossa assembleia geral na quinta às 18h", informou.
A universidade pede a imediata desocupação da reitoria "de modo a não prejudicar mais ainda o planejamento para o reinício das aulas". A instituição ressalta, em nota divulgada nesta terça-feira (30), que com a crise no estado e o regime de recuperação fiscal, a universidade tem tido dificuldade de obter os recursos necessários ao seu funcionamento.

Uma medida administrativa da reitora Gulnar Azevedo publicada no dia 24 de julho motivou o protesto dos estudantes, o Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 38/2024. O normativo revoga decisões desde 2021 instituídas durante a pandemia de covid-19 em prol da permanência estudantil na Uerj. A mudança entra em vigor a partir de 1 de agosto, incidindo nos auxílios e bolsas recebidos no mês de setembro.

O Aeda 38/2024 muda os critérios para elegibilidade de bolsas e auxílios de assistência estudantil. A renda mínima para que os estudantes ingressos por ampla concorrência possam acessar a Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social (Bavs) passou a ser de meio salário mínimo em vez de um salário mínimo e meio, como anteriormente. O valor do benefício é de R$ 706 por mês por dois anos. 

"As bolsas de apoio à vulnerabilidade foram criadas de maneira emergencial no período da pandemia e, no contexto atual de insuficiência orçamentária, precisam ser revistas de modo a não afetar os mais vulnerabilizados”, destaca em nota da Uerj. Confira a nota completa no fim deste texto.

Na noite de segunda-feira (29), os alunos realizaram uma manifestação na entrada do campus do Maracanã pedindo a revogação do ato. A Uerj instituiu no último sábado uma comissão de mediação para lidar com a ocupação.
Com o novo ato, cerca de 1.400 pessoas vão perder a bolsa de assistência. A universidade seguirá oferecendo cerca de 10 mil Bavs e quase 4 mil bolsas acadêmicas, num universo de 28 mil estudantes.
A gestão da unidade afirmou que os estudantes agiram com violência durante as reivindicações, destruindo móveis, pichando a unidade e intimidando os servidores. Vidros da reitoria foram pichados com palavras de ordem como "Uerj na luta", "Retroceder nunca" e "Revoga Aeda 38", adesivos pedindo a volta dos auxílios e o recuo da decisão foram colados nas paredes. 
Alterações nos auxílios

Além da bolsa estudantil, a nova medida também restringe a concessão de auxílio alimentação aos estudantes cujos cursos tenham sede em campi que ainda não possuam Restaurante Universitário.

Já o auxílio transporte para os estudantes ingressos por ampla concorrência se restringirá aos alunos com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, antes contemplava os que tivessem renda familiar per capita de até 1,5 salário. Ambos têm o valor de R$ 300.

O auxílio para material didático que era de R$ 1,2 mil foi cortado à metade pelo ato administrativo.

Os estudantes reivindicam, além da revogação desse ato, a recomposição orçamentária da Uerj no valor de R$ 100 milhões para os pagamentos das bolsas e dos auxílios no segundo semestre.

Paralisação dos servidores
Os servidores da Uerj vão realizar uma paralisação de 24 horas na quarta-feira (31). O grupo ressalta que está sem auxílio saúde e educação desde março. A categoria também reivindica recomposição salarial, que segundo a classe não é paga pelo governo desde 2023.
Nota de posicionamento da Uerj

A Uerj segue procurando o diálogo com o movimento de estudantes que ocupou as salas da Reitoria. Nesse momento, está acontecendo a reunião com os representantes do movimento. A gestão pede a imediata desocupação, de modo a não prejudicar mais ainda o planejamento para o reinício das aulas.

Os novos critérios para concessão do auxílio entram em vigor em agosto e só incidem em setembro. As bolsas serão pagas em agosto segundo as regras anteriores.

A Uerj ratifica que este novo regramento não atinge os mais vulneráveis – cotistas e estudantes de ampla concorrência que são elegíveis aos programas sociais pelo Cadastro Único. A Universidade segue oferecendo aproximadamente 10 mil bolsas de assistência, além de quase 4 mil bolsas acadêmicas, num universo de 28 mil estudantes.

Com a crise no Estado e o regime de recuperação fiscal, a Universidade tem tido dificuldade de obter os recursos necessários ao seu funcionamento. As bolsas de apoio à vulnerabilidade foram criadas de maneira emergencial no período da pandemia e que, no contexto atual de insuficiência orçamentária, precisam ser revistas de modo a não afetar os mais vulnerabilizados.
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