Parentes e amigos no sepultamento de Elaine Esteves, no Cemitério Parque da Paz, em Itaboraí, nesta segunda-feira (12)Manuela Carvalho/O Dia
Publicado 12/08/2024 16:19 | Atualizado 12/08/2024 18:09
Rio - O corpo de Elaine Esteves Pereira, de 39 anos, foi sepultado sob forte emoção e pedidos por justiça, no Cemitério Parque da Paz, em Itaboraí, na Região Metropolitana, na tarde desta segunda-feira (12). A cozinheira morreu baleada por policiais civis, após o veículo em que estava com o marido colidir em uma viatura da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), na Avenida Brasil, na madrugada de domingo (11).
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Cerca de 200 pessoas, entre amigos e familiares, estiveram presentes no enterro da vítima. Entre eles estava o viúvo de Elaine, Carlos André Alves de Almeida, de 48 anos. Era ele quem dirigia o veículo que bateu na viatura policial. Para Carlos André, os policiais tinham a intenção de matar os dois. Ao DIA, ele contou que mesmo com o carro parado os agentes fizeram vários disparos.

"Atiraram para matar! Falei para ela: 'Calma que é a polícia, estamos seguros!' Foi quando eu ouvi vários disparos. Aí ela pediu ajuda e disse: 'Meu amor, me ajuda que eu estou passando mal'. Foi quando eu desci do carro, dei a volta e vi o sangue. Eu não tinha visto ainda, mas ela levou um tiro nas costas", relembra.

A vítima e o marido tinham acabado de sair de uma festa, por volta das 3h do domingo (11), quando um carro parou do lado deles e mandou que os dois parassem. Com medo do que poderia ser, Carlos André e Elaine aceleraram e deram início a uma perseguição.

"Não vi amassado, não vi nada, não senti batida nenhuma. Aí ela falou: 'Melhor não parar não, aqui é perigoso'. Eu acelerei e ele vindo atrás, achei que ele queria só anotar a placa. Assim continuou, até a saída da Avenida Brasil, quando eu perdi o controle do carro e colidi com a traseira do carro da polícia", detalha.

Ainda segundo o viúvo, mesmo após a mulher ter sido baleada, ele não conseguiu prestar socorro, já que os policiais seguraram o seu braço. Ao todo, ele conta que foram quatro disparos na lataria do veículo. A bala que atingiu Elaine entrou pelo porta-malas, passou pelos bancos, atravessou as costas da mulher e parou no vidro do carro.

"Eu não achei a bala. Não teve abordagem nenhuma, o carro bateu, mas não teve gravidade nenhuma. Em segundos começou o tiroteio. Eu estava parado. Não saí porque não deu tempo. Para mim ela estava passando mal, não sabia que os disparos estavam sendo no nosso carro. A única coisa que eles falavam era: 'Cara no chão, vagabundo!', só isso", disse.
A mãe da cozinheira, Rosângela da Silva Esteves, passou mal quando o caixão estava sendo levado e precisou ser amparada. "Ajudem a pegar esse policial, minha filha não merecia isso. Esses policiais têm que pagar, destruíram uma família, um policial despreparado. É pior do que um bandido", desabafou Rosângela.
Wilson Silveira Duarte, pai de Elaine, disse estar incrédulo pelo fato da morte da filha estar sendo investigado pela própria Delegacia de Homicídios. Ele acredita que os agentes envolvidos no crime serão inocentados. "As autoridades que estão ali para nos proteger, não consigo entender como pode! Ela tinha 39 anos, duas filhas, eu queria pedir justiça! Ele deveria abordar o carro, não sair atirando para depois ver o que era. Na minha opinião, eles [policiais] vão tentar montar uma estratégia para acharem um culpado que não seja eles", disse, chorando.
O que diz a Polícia Civil

Segundo a Polícia Civil, agentes da especializada foram surpreendidos por uma colisão por volta das 3h30, na qual um veículo em fuga atingiu uma das viaturas do comboio, na região do Trevo das Margaridas, ao lado de um dos acessos à comunidade de Parada de Lucas. Os policiais, então, dispararam contra o carro para "interromper a investida repentina e violenta do veículo contra o comboio".

A polícia afirma que tentou socorrer a mulher, mas ela morreu no local. "Apurou-se que o veículo que colidiu com a viatura da polícia estava em fuga, tendo em vista que se envolvera, momentos antes, numa outra colisão de trânsito", informou em nota a DHC.

A perícia foi acionada e todos os envolvidos na ocorrência foram conduzidos para à Delegacia de Homicídios da Capital.
O que diz a defesa da família
Bruno Vergilio, advogado da família, disse que o motorista do outro veículo já foi identificado e passou por exames toxicológicos, assim como Carlos André. Ele afirma ainda que o homem chegou a bater três vezes no carro de Elaine e Carlos, na tentativa de fazê-los parar.

"A gente espera que um inquérito seja instaurado para avaliar a conduta do outro motorista. Esse veículo, que também sofreu avarias, passou por perícia e a gente aguarda o laudo. A atitude dele foi muito excessiva, ele bateu no carro do André três vezes, em uma atitude completamente desproporcional", disse 

O advogado acrescentou que terá acesso ao inquérito somente na sexta-feira (16), mas que, até o momento, são dois policiais envolvidos na ação.
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