Familiares e amigos do empresário Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, baleado em abordagem da PMReginaldo Pimenta
Publicado 20/08/2024 12:50
Rio - Familiares e amigos de Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, se reuniram na manhã desta terça-feira (20), no Pronto Socorro Central (PSC) de São Gonçalo, na Região Metropolitana, após a morte do jovem. Ele foi baleado durante uma abordagem da PM, na madrugada de segunda-feira (19), no bairro Porto do Rosa, enquanto ia para um pagode e estava internado em estado gravíssimo.
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"Eu só não quero que fiquem difamando a imagem do meu irmão, ele era muito trabalhador. Trabalhava desde os 14 anos. Não tem porque eles [os policiais] falaram que houve troca de tiros, os tiros vieram de trás. O vidro estava fechado, não tinha nenhuma marca. Eu quero que eles paguem pelo que fizeram”, desabafou Beatriz Rodrigues, irmã de Rhuan, em um claro pedido por justiça.

Segundo ela, familiares precisaram pagar por um reboque particular para levar o veículo atingido pelos disparos para a perícia e, por se negar a entregar a chave aos policiais militares, foi ameaçada de prisão.

"Eles queriam levar o carro embora o tempo inteiro, e falando que talvez me levassem presa porque eu estava segurando as chaves. A gente pagou um reboque particular para poder levar o carro para ser lacrado para perícia, porque eles não tiveram coragem de mandar um reboque para cá. Vieram sete viaturas na madrugada que ele deu entrada e ninguém veio falar um ‘ai’ com a gente, nenhum deles", expôs.
Ainda a porta do hospital, a mãe do rapaz precisou ser amparada em uma cadeira de rodas e consolada por familiares e amigos, todos muito abalados.  

Ao DIA, Karine Lopes, de 26 anos, amiga e testemunha do ocorrido, disse que os policiais estavam em uma parte escura da BR-101. Ela estava em uma moto logo atrás do carro da vítima e presenciou toda a abordagem realizada pela PM.
"A gente estava indo em direção ao pagode e tem aquelas subidas da BR e a paralela para descer para o Porto do Rosa. Lá tem um trevo, onde tem uma bandalha que só passam pedestres e motos. Eu passei por ali e ele veio atrás, então comecei a gritar que não passava carro e ele voltou para fazer um retorno na BR. Depois que fez o retorno, eu ouvi os policiais. A gente não tinha visto que tinham policiais em uma parte da BR, eles estavam em uma parte totalmente escura, não ligaram o giroflex nem nada", explicou.

Ao perceberem o carro em que Rhuan estava, os agentes deram uma ordem de parada, que foi cumprida pelo jovem. Mas, logo depois de ter parado, a amiga contou que ouviu os disparos de fuzil.

"Eu ouvi eles gritando: 'para, para, para'. Quando falaram, eu já estava atrás, saí da moto e fui andando em direção ao carro. Quando o Rhuan parou, eles fizeram os disparos. Foi só tiro de fuzil, foram vários tiros. Eu comecei a gritar, minha irmã começou a gritar, e correndo".

Além disso, Karine contou que somente um dos policiais se ofereceu para socorrer a vítima, após perceber que o jovem havia sido baleado.

"Quando olhei, o primo dele já estava enquadrado no mato e o Rhuan deitado no chão. Quando vi, achei que ele tinha se machucado quando saiu do carro. Vi ele encolhido. Depois que vi o tiro na barriga, vi sangue na blusa e levantei. Eu comecei a gritar: 'Vocês fizeram besteira. Ele não é bandido, é trabalhador'. Somente um policial, das duas viaturas, que foi ajudar e pediu para colocar ele no carro para ser socorrido. Não teve tiro, não teve nada. A gente estava na esquina da mãe dele. Se fosse troca de tiros, eu seria baleada, porque corri no meio".

Rhuan foi atingido por dois tiros, um no fígado e outro no intestino, porém não chegou a realizar as duas cirurgias necessárias pois precisava apresentar sinais de melhora para passar pela segunda intervenção cirúrgica.

"Foram dois tiros, a princípio, a gente achava que tinha sido só um, porque foi só uma saída. Mas foram dois tiros, perfurou o intestino e o fígado. Conseguiram operar o intestino, mas ele estava muito instável para poder fazer a segunda operação. Estavam esperando ele melhorar, ontem ele teve uma melhora, ficou todo mundo feliz que a pressão dele tinha começado a estabilizar. Aí hoje veio a notícia", contou a amiga.

Quem também comentou o caso foi tia do rapaz, Flávia Garcia. Muito emocionada, ela defendeu a imagem do sobrinho. "O Rhuan era uma pessoa maravilhosa. A única coisa que eu posso dizer é que ele não era o que o Estado está pintando. Meu sobrinho não era traficante, meu sobrinho não fazia nada de errado, ele trabalhava de segunda a segunda, o que fizeram com ele foi uma covardia. Agora a gente perdeu, entendeu? E a gente só quer Justiça, a família agora só quer Justiça", disse.

Flávia tratou a situação como uma grande covardia. "Não pode ficar impune. O policial pediu desculpas na delegacia, falando que entendia o sofrimento da mãe, mas que isso acontecia, que faz parte do trabalho. Mas não é assim", lamentou.
Segundo a tia, a rapaz era muito amado. "O Rhuan era uma pessoa que tirava do corpo para ajudar a qualquer um. Ele só estava querendo sair pra se divertir. Nada justifica o que foi feito, eu não aceito, eu não perdoo. Não houve uma troca de tiros ali. Isso é mentira. Eu não estava lá, mas tem testemunhas. Não vou permitir é que manchem a imagem do meu sobrinho", explicou.
O jovem era gerente em uma loja de roupas e sócio em um depósito de bebidas. O enterro de Rhuan será realizado nesta quarta-feira (21), no Cemitério Parque da Paz, no Pacheco, também em São Gonçalo, às 15h. Já o velório terá início às 9h.

O que dizem as corporações?

Procurada, a Polícia Militar informou que o comando do 7º BPM (São Gonçalo) instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias.

"O comando da unidade vai colaborar com o inquérito instaurado da Polícia Civil. As armas usadas na ação foram apreendidas pela delegacia responsável pela investigação. A Corregedoria da corporação acompanha o caso", comunica a nota.
A Polícia Civil alegou que as investigações estão em andamento na 72ª DP (São Gonçalo). Os policiais militares envolvidos na ação foram ouvidos e suas armas foram recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
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