oMvimentação na entrada do Pavilhão Reitor João Lyra Filho, na UERJ, Campus MaracanãRenan Areias / Agência O Dia
Publicado 21/08/2024 10:54
Rio - A Universidade do Estado do Rio (Uerj) suspendeu, mais uma vez, as atividades no campus Maracanã, na Zona Norte do Rio, nesta quarta-feira (21), por conta de um novo bloqueio feito por alunos em todos os acessos ao Pavilhão João Lyra Filho. Manifestantes utilizaram mobiliários como barreiras para impedir a passagem em ato contra às mudanças para a obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil.

Os acessos foram bloqueados na noite desta terça-feira (20), após a suspensão, pela segunda vez, da sessão do Conselho Universitário. O plenário chegou a ser invadido pelos manifestantes, que tentaram impedir a saída dos conselheiros.
Publicidade
Ao DIA, Douglas Lopes, aluno que participa da ocupação e do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, contou que os estudantes queriam, durante a reunião do Conselho nesta terça-feira (20), a votação da revogação do Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 038/2024, que mudou a renda mínima para alunos conseguiram acessar a Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social (Bavs). Segundo Douglas, a reitoria estaria deslegitimando a comissão de negociação formada por alunos, não se reunindo com o grupo para debater a Aeda e a ocupação.
"Entendemos que os critérios que eles mudaram colocam a maioria dos estudantes de nossa universidade em situação de vulnerabilidade. Pessoas passariam fome e insegurança alimentar. A gente tinha entendido, na nossa visão, que uma forma de revogar essa Aeda era pelo Conselho Universitário. No primeiro conselho que teve, ele foi esticado e prolongado. Durante o conselho de ontem, ficamos pressionando os conselheiros. A gente fez uma pressão estudantil, ficamos lá na plateia, só que em determinados momentos a reitoria se sentiu pressionada e coagida de certa forma, e decidiu por encerrar o conselho. Eles falaram que não votariam sobre a revogação da Aeda", explicou.
Sem a votação acontecer, estudantes bloquearam a saída do auditório para que representantes da reitoria não saíssem sem votar. Neste momento, Douglas contou que houve agressões por parte de seguranças e de conselheiros.
"No nosso entendimento, era o momento de rolar essa votação e o que fosse decidido a gente entenderia, pois foi em um processo democrático. A partir do momento que eles não abrem para o processo de votação, a gente entendeu que foi uma forma de legitimar também o conselho, que é a maior instância da universidade. Essa foi a nossa maior crítica. A gente acabou por ocupar a universidade e fechar os bloqueios novamente. Quando fizemos o bloqueio, tiveram as agressões de seguranças. Um conselheiro bateu em um companheiro nosso. Isso tudo se estendeu para que a gente fizesse a greve de ocupação ontem e que a gente fechasse toda a universidade com cadeados, cadeiras e bloqueios. A gente entende que só irá desocupar quando essa Aeda for revogada", completou.
De acordo com o aluno, houve registro de ocorrência em uma delegacia sobre as agressões. Veja o vídeo da confusão:
Em nota, a Uerj disse que o “gesto inaceitável, por cercear o direito de ir e vir dos participantes, deixou pessoas feridas – um conselheiro e um membro da equipe da Reitoria –, que registraram boletins de ocorrência sobre o fato.”
Também informou que a decisão de suspender novamente as atividades surgiu diante da insegurança presente no local. Além disso, alegou que tenta uma negociação com os manifestantes para que a situação seja resolvida.
As agressões foram registradas na 18ª DP (Praça da Bandeira) por meio da Delegacia On-line. Segundo a Polícia Civil, as diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
No último dia 13, os alunos já tinham realizado um ato no mesmo prédio, em manifestação contra o corte de bolsas. Há três semanas, salas da reitoria estão sendo ocupadas por estudantes.

Uma das principais mudanças do Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 038/2024, que provocaram diversas manifestações de estudantes, incluindo a ocupação da reitoria da Uerj desde o dia 26 de julho, é a revisão da renda mínima necessária para que alunos de ampla concorrência possam acessar a Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social (Bavs), com pagamento de R$ 706 por mês, tendo duração de dois anos. Antes, para obter o benefício, era necessária a declaração de um salário mínimo e meio, agora, é só meio salário.

A medida apresenta cortes significativos nas bolsas para estudantes em vulnerabilidade social e isso gerou um profundo descontentamento, que levou a ocupação da reitoria e de outros campi, como a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) e a Faculdade de Formação de Professores (FFP).
Na noite desta quarta-feira (21), o movimento de estudantes que ocupou a universidade teve uma aula pública no campus Maracanã. O "Aulão da Ocupação" contou com a presença de professores.

Confusão já causou outra suspensão

Por conta da ocupação e bloqueio feitos pelos manifestantes no dia 13, a Uerj precisou suspender as atividades no dia 15 de agosto. Na ocasião, a instituição afirmou que todas as providências estavam sendo tomadas para que as atividades pudessem acontecer com tranquilidade.

As entradas foram fechadas por cadeiras, mesas e bancos. Uma sindicância foi aberta para apurar os fatos e identificar os envolvidos.

Segundo os manifestantes, cerca de 5 mil estudantes vão perder os benefícios após a mudança, e também denunciam atrasos nos pagamentos. Além disso, alegam que as propostas da atual reitoria, antes de ser eleita, era manter os benefícios.

Profissionais da educação, estudantes e representantes de movimentos estudantis também invadiram, na tarde da última quarta-feira (14), a portaria do prédio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), no Centro, durante um ato solicitando revogações de normativas e melhorias salariais.

O que diz a Uerj

De acordo com a Universidade, a reitoria entendeu como inaceitável o "sequestro de um prédio público", que prejudica toda a comunidade acadêmica”.

“Ao contrário dos manifestantes que seguem irredutíveis na postura de não negociar, agindo de maneira anti-democrática, como se viu na tentativa de calar opiniões contraditórias às suas no Conselho Universitário, a equipe designada pela gestão se reuniu ontem com representantes do Diretório Central dos Estudantes e dos Centros Acadêmicos das Unidades e apresentou uma proposta para encerrar a crise, acolhendo parte das reivindicações estudantis.

Nesse sentido, a Reitoria espera que a razão prevaleça e o movimento recue na posição de sequestrar os espaços que não pertencem exclusivamente a ele, mas a toda a comunidade uerjiana, composta por 35 mil alunos, 3 mil docentes e quase 6 mil servidores técnicos administrativos.”

Na última semana, a reitoria informou que segue procurando o diálogo com os estudantes que ocupam suas salas na universidade desde o dia 26 de julho. Segundo a universidade, as dificuldades financeiras impuseram as medidas do Ato Executivo 038/2024, que mudou o regramento de bolsas e auxílios estudantis.

A reitoria entendeu essas medidas como necessárias, no cenário atual, para preservar os pagamentos dos mais vulneráveis – cotistas e estudantes de ampla concorrência com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, conforme o critério do CadÚnico (Governo Federal).
Em entrevista ao 'RJTV', da TV Globo, a reitora Gulnar Azevedo, criticou a posição dos estudantes que bloquearam a universidade após o fim da sessão do Conselho Universitário. Segundo ela, há negociações sendo realizadas há três semanas sobre a Aeda e a ocupação.
"É muito difícil a gente continuar uma sessão onde não está tendo respeito. Ofensas para vários membros da reitoria. É complicado a gente continuar com um clima desse. É lamentável que esses estudantes estão impedidos de ter aula. Hoje, nós tivemos que tirar a possibilidade deles entrarem para a aula por conta da ocupação. É impossível que um número de ocupantes perturbem a ordem, impeçam que estudantes venham estudar, ter aula e também impeçam a negociação. A gente há três semanas vem tentando negociar. Foi feita uma reunião com o Diretório Central dos Estudantes, que é a representação eleita dos estudantes, e vários centros acadêmicos. Foi apresentada uma proposta de transição. Agora, dessa forma que está, está impedindo deles se reorganizarem para avaliar a proposta e a gente ter o retorno dessa negociação", contou.
Gulnar completou que espera que um avanço na negociação para poder normalizar a situação na Uerj. "Que as pessoas entendam que é necessário estar na universidade, participar, inclusive para a gente poder resolver a situação, que faça com que a Uerj volte a ter todas as suas atividades", disse.
Leia mais