Publicado 10/09/2024 22:45
Rio - O aposentado João Bosco de Oliveira, uma das testemunhas de acusação ouvidas nesta terça-feira (10) no segundo dia da audiência de instrução e julgamento sobre a morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, contou que recebeu R$ 500 para retirar o carro usado no crime de uma locadora. A vítima foi morta a tiros em fevereiro deste ano na frente do prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Centro.
PublicidadeA testemunha disse que jogava entulho na beira da Estrada do Catonho, em Jardim Sulacap, na Zona Oeste, quando foi abordada por uma pessoa que lhe ofereceu R$ 500 para assinar um documento e retirar o veículo alugado.
"Só entreguei a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e assinei o contrato. Fiz apenas uma vez. Depois que saímos da locadora, cada um seguiu para o seu lado”, explicou.
"Só entreguei a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e assinei o contrato. Fiz apenas uma vez. Depois que saímos da locadora, cada um seguiu para o seu lado”, explicou.
João ainda afirmou que não conhecia nenhum dos três acusados de envolvimento no homicídio: Cezar Daniel Mondego de Souza, Eduardo Sobreira de Moraes e Leandro Machado da Silva. Os réus assistiram a audiência do plenário do júri.
Na sessão desta terça-feira (10), realizada pelo 3º Tribunal do Júri do Rio, foram ouvidas seis testemunhas de acusação, incluindo o aposentado, e uma de defesa. O primeiro a prestar depoimento foi Marcelo Flavio de Paula Silva, sócio-gerente da locadora de automóveis em que foi alugado o veículo modelo Volkswagen Gol, de cor branca, usado no crime.
Segundo Marcelo, o carro foi alugado por João de Oliveira, mas quem fazia contato com a empresa referente a este e outros três automóveis alugados era o policial militar Leandro Machado, um dos réus do processo. O sócio da locadora ainda afirmou que não se lembrava do que havia declarado em sede policial.
O gerente do espaço disse que, na época da locação, tinham dito a ele que os veículos seriam usados para uma empresa de segurança que seria aberta. Marcelo também afirmou que já alugou carros para Vinícius Drummond, filho do contraventor Luizinho Drummond, e que anotações feitas em cadastros encontrados na locadora com termos como "zoológico" e "pessoal de Caxias", que seriam do grupo de Drummond, teriam sido feitas por funcionários que, posteriormente, foram demitidos da empresa. Ainda de acordo com Marcelo, esta foi a primeira vez que teve um veículo da empresa envolvido em um crime.
Em seguida, Flávio Alves de Lima, também sócio do estabelecimento, prestou depoimento. Ele contou que a frota era formada por carros dele e os de Marcelo, que era responsável pela parte comercial do negócio. O homem ainda afirmou que não conhecia nenhum dos réus e que só soube depois do crime que o carro, que pertenceria a Marcelo, havia sido alugado por João Bosco. Disse ainda desconhecer os termos utilizados nas fichas de entrega dos veículos.
O ex-funcionário Fábio Marques Santiago, que fazia a manutenção dos veículos e o preenchimento do "checklist" para entrega dos automóveis, disse que os termos utilizados nas fichas eram passados pelos motoristas que retiravam os carros. Revelou que conhecia Cezar Mondego, pois moravam no mesmo bairro. E que já havia visto o acusado Eduardo Sobreira na locadora com Mondego.
O ex-funcionário Fábio Marques Santiago, que fazia a manutenção dos veículos e o preenchimento do "checklist" para entrega dos automóveis, disse que os termos utilizados nas fichas eram passados pelos motoristas que retiravam os carros. Revelou que conhecia Cezar Mondego, pois moravam no mesmo bairro. E que já havia visto o acusado Eduardo Sobreira na locadora com Mondego.
Encerrando os depoimentos das testemunhas de acusação, foram ouvidos Yago Silvestre da Silva Pereira, que trabalha em uma loja de telefones celulares na Uruguaiana, no Centro do Rio, e Ana Patrícia da Rocha Estolano, ex-mulher de Eduardo Sobreira. Yago contou que apagou todos os dados de um aparelho a pedido de Cezar Mondego. Já Ana, que falou na condição de informante, disse que a polícia lhe pediu seu telefone para verificar algumas conversas mantidas com o ex-marido.
Única testemunha defesa ouvida durante o segundo dia de audiência, Antonio José da Silva Malhano, afirmou conhecer o policial Leandro Machado. E que no dia do crime, entre 19h30 e 21h30, o acusado estaria numa reunião maçônica em Duque de Caxias.
Única testemunha defesa ouvida durante o segundo dia de audiência, Antonio José da Silva Malhano, afirmou conhecer o policial Leandro Machado. E que no dia do crime, entre 19h30 e 21h30, o acusado estaria numa reunião maçônica em Duque de Caxias.
A audiência prossegue nesta quarta-feira (11), a partir das 13h, com a inquirição de mais seis testemunhas de defesa. No total, são previstos os depoimentos de 23 testemunhas, entre acusação e defesa, e o interrogatório dos três réus.
Primeiro dia de depoimento
Nesta segunda-feira (9), foram ouvidas nove testemunhas, sendo duas por videoconferência, além de uma informante. O delegado Rômulo Assis Caldas, responsável pela investigação na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), detalhou o crime, explicando que Rodrigo estava sendo monitorado dias antes da execução.
Durante a audiência, Pedro Henrique Tow Crespo Baptista, sobrinho da vítima, que estava com Rodrigo no momento do crime, também foi ouvido. Ele descreveu os momentos de tensão que viveu: "O que fizeram com ele foi um esculacho. Descemos para fazer um lanche. Quando retornávamos, tomei um tiro de raspão no ombro. Achei que era uma explosão e me joguei no chão. Quando eu me levantei, ele já estava morto. O executor saiu pro carro de trás. Demorei uns 40 segundos para levantar".
O sobrinho também falou que Rodrigo estava estudando o tema de regulamentação de jogos online, que queria ser o primeiro advogado com essa especialidade e ficar milionário. O interesse do advogado foi confirmado por outros depoentes, como os amigos Fernanda de Carvalho Serra e Douglas Geiss Cavello, que também destacaram o desejo de Rodrigo em se especializar na área de apostas.
Sócios da vítima no escritório, os advogados João Rachid da Motta e Antonio Vandeler de Lima Junior contaram que, somente depois do crime, souberam que Rodrigo Crespo havia adquirido alguns domínios de jogos. Até então, segundo eles, o sócio havia participado, no final do ano passado, de uma audiência pública em São Paulo sobre o assunto e, logo depois, escreveu um artigo sobre a lei que regula o mercado de apostas no Brasil.
Relembre o caso
O assassinato do advogado Rodrigo Marinho Crespo aconteceu à luz do dia, na mesma calçada da sede da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) do Rio de Janeiro, no Centro, no dia 26 de fevereiro.
O PM Leandro Machado da Silva, Cezar Daniel Mondego de Souza, ex-funcionário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e Eduardo Sobreira de Morais, réus por envolvimento no crime, estão presos desde março.
Na ação, bandidos chegaram em carro branco. Vestindo uma touca ninja, um deles sai do veículo atirando. O advogado, de 42 anos, foi atingido por 12 disparos — dois quando estava de pé e outros dez após cair. Ele morreu no local.
Segundo o inquérito, Leandro Machado já tinha passagens por homicídio e por integrar uma milícia na Baixada Fluminense, e foi responsável pela execução, enquanto Eduardo monitorou a rotina da vítima.
O mesmo serviço foi atribuído a Cezar. Os dois dirigiam carros iguais, um Gol Branco, que aparece nas imagens de câmeras de segurança.
Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) desde novembro de 2011, Rodrigo Crespo fazia parte da Comissão de Direito Processual Civil na entidade. Também era sócio fundador do Marinho & Lima Advogados, tinha experiência em Direito Civil Empresarial com ênfase em Contratos e Direito Processual Civil. Ele se formou em 2005 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e tinha pós-graduação em Direito Civil Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Conforme consta no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), Rodrigo estava à frente das defesas de processos por posse, aquisição de bens materiais, indenização por bens materiais e confissão de dívidas. O advogado também atuou contra Glaidson Acácio dos Santos, o 'Faraó dos Bitcoins', em um processo que correu entre 2022 e 2023 na 3ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Zona Oeste. O inquérito foi arquivado porque o homem que processou Glaidson deixou de se manifestar à Justiça após não conseguir a gratuidade no processo.
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