Publicado 25/09/2024 19:13 | Atualizado 26/09/2024 15:45
Rio – Temperaturas altas, umidade do ar baixa e chuvas escassas. A combinação que fez o estado do Rio de Janeiro encarar uma série de incêndios florestais em setembro pode ter desdobramentos em outubro, deixando para população e autoridades um alerta máximo e permanente.
PublicidadeSegundo o Gabinete de Gestão de Crise do Estado, criado no último dia 12, o Corpo de Bombeiros combateu, em todo o RJ, até esta quarta-feira (25), 1.826 incêndios florestais – número que deve aumentar substancialmente devido à previsão para os próximos dias de forte calor.
O professor Leandro Beser, coordenador do Núcleo de Estudos Geográficos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Negeo/Uerj), explica que a tendência é a continuidade dos incêndios rotineiros, pois setembro e outubro, ainda que não tenham tal histórico, prometem ser os meses de maior incidência em 2024: “Ainda estamos neste processo. E nem passamos por setembro e outubro, os meses mais críticos”.
Tal risco iminente é observado também pelo professor Bruno Mendonça, coordenador da disciplina ‘Prevenção e Controle de Incêndios Florestais’, do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
E ele aponta a falta de chuva como um gatilho preponderante: “Caso essa estiagem se prolongue, os incêndios podem aumentar, sim, pois a inflamabilidade da vegetação aumenta gradativamente. E com isso as chances dos incêndios também aumentam”.
Recorde
Com base em uma medição por satélite do Inpe (Instituto nacional de Pesquisas Espaciais), Beser prevê ainda um recorde no número de incêndios florestais no estado caso as elevadas temperaturas se mantenham.
O docente detalha: “Ainda na primeira quinzena de setembro, foram detectados 1.028 focos ativos. Chegamos perto do recorde de 1.359 de 2007, na série histórica que começou em 1998. Acho que 2024 entrará para a história".
Sobre a diferença entre os números do Inpe – 1.028 focos de janeiro a setembro – e dos Bombeiros – 1.826 incêndios apenas desde o último dia 12 –, ele esclarece que o satélite do instituto capta focos. E um foco pode representar bem mais de um incêndio.
Ações criminosas
Além de estiagem e altas temperaturas, que deixam a vegetação mais seca e vulnerável ao alastramento do fogo, há outros gatilhos, como direção do vento, topografia local e temperatura e umidade. No entanto, a principal causa de incêndios florestais é a ação humana: “Ouso afirmar que a maioria é, sem dúvida, criminosa”, opina Beser.
Mendonça reforça que a maioria dos casos é provocada pela mão do homem, já que combustões espontâneas são raras, sobretudo, nesta época do ano: “São muito difíceis de ocorrer, pois na maioria das vezes são associadas à descarga elétrica de raios, que sempre vem acompanhada das chuvas em nossa região”.
Ele, porém, não descarta a possibilidade: “Existem casos raros de vidros, ou lixos, que podem servir como lente, concentrando a luz solar num ponto e iniciando o incêndio”.
Ainda sobre incêndios criminosos – pelos quais muitos responsáveis já foram identificados no RJ –, Beser descreve uma situação que pode resultar em atos mal-intencionados, ainda que indiretamente: “Queimada é uma técnica econômica e frequentemente incentivada por grandes proprietários a pequenos e médios produtores. Quando ocorrem queimadas ilegais, os pequenos e médios são muitas vezes denunciados, têm dificuldades financeiras para pagar multas e podem acabar vendendo terras para os grandes, o que expande áreas controladas por latifundiários”.
Chuva insuficiente
Independentemente de criminosos e intencionais ou não, esta sequência de incêndios florestais poderia ser mitigada pela chuva. A previsão do tempo, entretanto, indica pancadas com uma precipitação máxima de 10 mm para o fim da tarde de sexta (27) e de 2,5 mm para sábado (28), o que não deve ser suficiente.
Mendonça enfatiza a necessidade de mais água para uma mudança de cenário: “Um índice muito comum de previsão de incêndios que utilizamos indica que apenas acima de 13 mm de chuva diária é que podemos zerar o risco de incêndio”.
Beser finaliza na mesma linha: “Após um período seco como este, o solo fica mais compacto, e a água tem dificuldade de penetrar. Se for fraca, cai e evapora rapidamente. Então não ameniza. O ideal seria uma chuva de moderada a intensa. Mas além da intensidade da chuva, é importante observar também a sua distribuição e duração, porque se for uma chuva curta, a queima continua na subsuperfície”.
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