Publicado 13/10/2024 14:41
Rio – Muita gente não sabe, mas o Rio de Janeiro tem um Círio de Nazaré para chamar de seu. E já faz tempo! Há exatos 40 anos, o Padre Miguelito trouxe de Belém (PA) a tradicional festa em celebração a Nossa Senhora de Nazaré para a Paróquia São Paulo Apóstolo, em Copacabana. E embora a peregrinação pelo bairro da Zona Sul não tenha a proporção colossal da festa na capital paraense, fé e agradecimentos não faltaram na manhã deste domingo (13).
PublicidadeAo longo do trajeto de aproximadamente 2,5 quilômetros – que incluiu as ruas Leopoldo Miguez, Constante Ramos, Avenida Atlântica, Figueiredo Magalhães, Nossa Senhora de Copacabana e Hilário de Gouveia, até terminar com uma missa na Igreja Nossa Senhora de Copacabana – os cerca de mil fiéis louvaram Nossa Senhora com orações e canções e relembraram as graças que obtiveram da santa – também conhecida como Nossa Senhora Aparecida, a depender da região.
Paraense de Belém morando no Rio de Janeiro há sete anos, Marcos Araújo, de 35 anos, passou por um momento delicado por conta da Covid-19 e credita à Nossa Senhora, de quem é devoto desde a infância, a sua cura: “Em 2021, tive uma graça porque ela me fez sobreviver à Covid-19. Passei 15 dias na UTI, cinco dias entubado. E todo ano pagamos nossa promessa, de oferecer água para doação”, revelou ele, que esteve no Círio em Copacabana pela primeira vez, mas já foi ao de Belém incontáveis vezes.
Marcos esteve no evento ao lado da esposa Brenda Santos, de 37 anos, da mãe Amélia Monteiro, de 66, da sogra Maria Siqueira, 74, e do filho Benício, de apenas 11 meses. E a expectativa é que o pequeno dê sequência à devoção da família paraense: “Viemos apresentar ele para Nossa Senhora. O Benício já está conhecendo a nossa fé, e vamos tentar criar ele dentro dessa nossa crença", comentou Brenda.
Outra família que recebeu a graça de Nossa Senhora foi a das irmãs Bruna e Camila Alvarez, de 36 e 38 anos, respectivamente. Elas são de Brasília – e vivem no Rio há cinco anos –, mas têm uma prima em Belém que também enfrentou um sério problema de saúde: “Essa blusa que estou usando é pela nossa prima Juliana, que teve um câncer há cinco anos. A família toda foi ao Círio, em Belém, usando essa blusa pela cura dela. E hoje ela está curada”, comemorou Bruna, que vai à festa de Belém sempre que possível.
Camila – que compareceu ao Círio de Copacabana ao lado também do pai Antônio, o responsável por difundir a devoção na família, e da mãe Margarida – contou a promessa que é paga todos os anos em Belém pela vida de Juliana: “Meu irmão está com uma vela de um metro e meio lá no Círio pela minha prima. Ele caminha com a vela na frente da berlinda, vai até a basílica e faz uma oração”.
Pela romaria, era comum ver pessoas segurando flores, bandeirolas ou imagens da santa. Enquanto isso, a carioca Ana Luiza Silvestre, de 23 anos, usava as mãos para empurrar o avô, Carlos Mendonça, de 91, que é paraense, em uma cadeira de rodas. A propósito, esta foi a primeira vez que ele precisou superar a dificuldade de locomoção após décadas caminhando no Círio da capital paraense: “Todo o período em que morei em Belém, fui todos os anos ao Círio. E quando morei em Santarém, onde nasci, pegava o navio, ia a Belém para acompanhar, e depois voltava. É uma devoção muito antiga”, recorda.
Já Ana Luiza, além de acompanhar o avô, também tinha uma graça obtida por meio de Nossa Senhora para agradecer: “Meu pai, Fábio, passou por uma situação de vida ou morte. Ficou em coma, há uns 10 anos. Lembro que rezava muito para ela. E hoje meu pai está bem hoje, recuperado”, celebrou.
Estreia da berlinda
Promovido pela Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, o Círio em Belém é realizado, segundo a Arquidiocese, desde 1793. Já a peregrinação da Paróquia São Paulo Apóstolo – que recebeu a festa por integrar a mesma ordem da Basílica no Pará, os Padres Barnabitas – começou em 1984.
Entretanto, somente há 15 anos, a manifestação passou a contar com a corda (de 170 metros aproximadamente), um item tradicional do evento na capital paraense. Já neste ano, o evento recebeu mais um elemento para engrandecer a romaria: a berlinda, uma espécie de carruagem onde se transporta a imagem da santa.
Diretor espiritual do evento, o Padre Fernando Miranda revelou que só foi possível coroar a 40ª edição com a berlinda devido a doações dos próprios fiéis: “Fizemos uma campanha com devotos locais ao longo de 2023 e conseguimos esse sonho que é a implementação da berlinda. E agora ela fica como patrimônio de Nossa Senhora de Nazaré para o Rio de Janeiro”, concluiu.
A tradição
Com mais mais de 200 anos de história em Belém, o Círio de Nazaré paraense é tido como a maior procissão católica do Brasil. A festa – reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – atrai multidões em todas as edições. Neste domingo, por exemplo, aproximadamente dois milhões de pessoas acompanharam a procissão na capital do estado da Região Norte.
Toda essa história, de acordo com a tradição, começou com um humilde lavrador, chamado Plácido José de Souza. Ele encontrou uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margens do igarapé Murutucu, em Belém, no ano de 1700. Após levá-la para casa, o homem, já no dia seguinte, sentiu falta da imagem, que acabou sendo localizada no mesmo ponto de onde ele a havia retirado. Tal situação teria ocorrido duas vezes. Na época, o fenômeno foi interpretado como um sinal divino, o que ajudou a potencializar aumentar a devoção.
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