Publicado 19/10/2024 15:16
Rio - A nova gestão do Hospital Federal de Bonsucesso, sob o comando do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), conseguiu neste sábado (19) acessar a unidade após cinco dias de tentativas, em meio a protestos de servidores. A mobilização dos funcionários havia dificultado a entrada da nova administração ao local, mas a situação foi contornada. Em entrevista coletiva, o grupo anunciou que em até 90 dias todos os serviços atualmente fechados na unidade serão reabertos, incluindo a emergência, o centro cirúrgico e mais de 200 leitos hospitalares.
PublicidadeAlém disso, a expectativa é que mais de 2,2 mil funcionários sejam contratados em até 45 dias para recompor a força de trabalho do hospital, o que deve garantir o pleno funcionamento dos serviços. O principal objetivo da nova gestão é reabrir a unidade com capacidade total, restabelecendo o atendimento à população e assegurando que o Hospital Federal de Bonsucesso volte a operar com sua estrutura completa.
O Grupo Hospitalar Conceição também prometeu realizar, nos próximos dias, um levantamento detalhado para identificar os equipamentos, insumos e materiais necessários para a reabertura completa dos serviços do HFB. Atualmente, a unidade opera com cerca de 42% de sua capacidade, contando com menos de 200 leitos e apenas 10 de UTI.
"Esse hospital foi referência por muitos anos. Então, tem uma capacidade enorme, mas hoje está com menos de 50% da capacidade operacional. A gente entende que estamos fazendo de hoje um dia histórico para o hospital dessa importância retornar para o seu verdadeiro dono, que é a população do Rio. A ideia é que a gente retorne com força total. Agora, são mais detalhes da gestão interna do hospital, que vamos ter noção de compreender melhor. Mas com certeza todas as nossas decisões vão estar voltadas para reabrir com a capacidade total", ressaltou a superintendente do hospital, Elaine Machado Lopes.
A superintendente afirmou, ainda, que a intenção da nova gestão é dialogar com os funcionários atuais, que, segundo ela, possuem um valor imenso para a administração. "Temos enorme respeito pelos profissionais que há anos estão aqui construindo este hospital. A ideia é que a gente componha com a tecnologia de gestão do Grupo Hospitalar Conceição. O objetivo é unir todos os esforços para entregar a capacidade 100% instalada para a população", declarou Elaine.
Nilton Pereira Junior, secretário adjunto de atenção especializada do Ministério da Saúde, destacou que a gestão anterior do hospital não conseguiu garantir a qualidade dos atendimentos, mesmo com o aumento do orçamento nos dois últimos anos. Segundo ele, a situação crítica exigiu a intervenção da nova administração para restabelecer o pleno funcionamento da unidade e melhorar os serviços oferecidos.
Nilton Pereira Junior, secretário adjunto de atenção especializada do Ministério da Saúde, destacou que a gestão anterior do hospital não conseguiu garantir a qualidade dos atendimentos, mesmo com o aumento do orçamento nos dois últimos anos. Segundo ele, a situação crítica exigiu a intervenção da nova administração para restabelecer o pleno funcionamento da unidade e melhorar os serviços oferecidos.
"Estamos mudando o modelo de gestão porque a gestão anterior não conseguiu avançar mesmo com os recursos do Ministério da Saúde garantiu. Ampliamos o orçamento no ano passado e esse ano, mas mesmo assim, a gestão não conseguiu garantir a qualidade e segurança do paciente. Ou seja, vamos colocar o hospital todo em funcionamento graças a capacidade de que o Grupo Hospitalar Conceição já mostrou que consegue", disse.
Gilberto Barichello, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição, afirmou que o primeiro objetivo da nova gestão é garantir a continuidade dos atendimentos já existentes e assegurar o abastecimento adequado do hospital, que segundo ele, enfrenta sérios problemas na área de medicação, insumos e materiais. Ele também ressaltou a importância de garantir a prestação de serviços essenciais, como segurança, limpeza e alimentação.
"Estamos com uma equipe aqui fazendo um diagnóstico rápido para identificar problemas que nós sabemos que existem para reabrir esses leitos, temos falta de equipamentos. Estamos fazendo um levantamento para a gente imediatamente fazer a aquisição dessas tecnologias necessárias para abrir todos os serviços. É um compromisso dado para o grupo Conceição pelo presidente Lula e pela ministra Nísia Trindade devolver à sociedade fluminense toda a capacidade técnica e operacional em 90dias", ressaltou.
O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é uma empresa pública vinculada ao Governo Federal, de atuação nacional e que atende integralmente ao Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho será conduzido por uma equipe de profissionais do GHC, que vai atuar em parceria com os gestores do Hospital Bonsucesso. Para que a transição esteja alinhada com as necessidades da população, o Ministério da Saúde vai realizar o processo em etapas, como descentralização da gestão, abastecimento de insumos, infraestrutura e contratação de pessoas.
Em contrapartida, os servidores do HFB, representados pelo Sindsprev/RJ, são contrários à nova gestão do Grupo Hospitalar Conceição. O sindicado não concorda com o que chama de “fatiamento”, que é a descentralização da gestão dos hospitais federais. A sindicalista Maria Isabel Mariano argumenta que os servidores possuem a capacidade técnica, acadêmica e científica necessária para gerir as unidades federais de saúde, e que não é justificável a transferência da administração para uma entidade externa.
"A nossa reivindicação não é nem um pouco absurdo, a gente só quer que o Governo Federal continue repassando a verba que ela está destinando para outras gestões para uma gestão pública compostas por servidores da Casa. Não é falta de dinheiro, o dinheiro continua vindo do mesmo lugar, mas agora esse dinheiro que eles dizem que não ter vai ser entregue nas mãos de outras pessoas para gerir o hospital. O grupo está vindo do Rio Grande do Sul, o que que justifica? Não tem dinheiro para fazer o certo, mas tem para fazer o duvidoso. A gente se sente traído e desiludido e decepcionado, mas anão vamos enfraquecer. Isso não vai nos parar", ressaltou em entrevista ao DIA.
"A nossa reivindicação não é nem um pouco absurdo, a gente só quer que o Governo Federal continue repassando a verba que ela está destinando para outras gestões para uma gestão pública compostas por servidores da Casa. Não é falta de dinheiro, o dinheiro continua vindo do mesmo lugar, mas agora esse dinheiro que eles dizem que não ter vai ser entregue nas mãos de outras pessoas para gerir o hospital. O grupo está vindo do Rio Grande do Sul, o que que justifica? Não tem dinheiro para fazer o certo, mas tem para fazer o duvidoso. A gente se sente traído e desiludido e decepcionado, mas anão vamos enfraquecer. Isso não vai nos parar", ressaltou em entrevista ao DIA.
Maria Isabel também destacou que nunca houve diálogo entre o Ministério da Saúde e a classe sobre essa mudança. Ela explicou que o Ministério apenas comunicou a decisão da nova gestão, enquanto o sindicato buscou diálogo por meio de audiências públicas e diversos encontros, sem sucesso. Apesar disso, ela enfatizou que os servidores são totalmente favoráveis a melhorias na unidade, mas acreditam que essas mudanças podem ser implementadas sob a gestão anterior. Parte dos servidores acredita que a situação no hospital se agravou nos últimos meses. De acordo com essas críticas, esse agravamento seria parte de uma estratégia do Governo Federal para justificar a mudança no modelo de gestão.
"O diálogo não aconteceu em nenhum momento porque diálogo presume que o outro possa negociar e o que houve desde o primeiro momento foi um monólogo, o Ministério da Saúde impôs que ia ser dessa forma e apenas comunicou. A nossa denúncia vem sendo pouco evidenciada porque parece que somos um grupo de servidores birrentos e que não queremos que haja melhorias, jamais foi isso. Somos altamente capacidades, apesar do Ministério da Saúde nunca investir na nossa formação acadêmica, nós investimos e temos total condição de gerir as unidades federais", disse.
"O diálogo não aconteceu em nenhum momento porque diálogo presume que o outro possa negociar e o que houve desde o primeiro momento foi um monólogo, o Ministério da Saúde impôs que ia ser dessa forma e apenas comunicou. A nossa denúncia vem sendo pouco evidenciada porque parece que somos um grupo de servidores birrentos e que não queremos que haja melhorias, jamais foi isso. Somos altamente capacidades, apesar do Ministério da Saúde nunca investir na nossa formação acadêmica, nós investimos e temos total condição de gerir as unidades federais", disse.
Tumulto
Após a desocupação do Hospital Federal de Bonsucesso, houve um tumulto envolvendo servidores que foram impedidos de entrar na unidade. Cerca de 15 funcionários invadiram o hospital e realizaram um protesto no pátio.
Para conter o grupo, policiais do Batalhão de Choque usaram spray de pimenta e escudos, empurrando os manifestantes para fora do local. Durante o confronto, a diretora do sindicato, Cristiane Gerardo, resistiu à retirada e acabou detida. Outra manifestante passou mal devido ao uso do spray de pimenta e precisou ser atendida e levada de cadeira de rodas. Segundo a PM, Cris foi detida por desacato e levada à 21ª DP (Bonsucesso).
Os servidores denunciam que a ação dos policiais foi marcada por truculência e agressividade. Mais de 10 viaturas do Batalhão de Choque estavam no local para reforçar a ação. "Os policias estavam impedindo os funcionários de entrar na unidade, mas conseguimos ir até o pátio, de forma pacífica. Depois formaram um batalhão com escudos para impedir a gente de avançar mais e quando viram que não íamos sair, avançaram sobre nós e nos empurraram para fora à base de spray de pimenta e cacetete, teve gente passando mal por conta da truculência, isso não pode ficar assim", disse a manifestante Cida Vaz, servidora do Hospital Federal da Lagoa.
"Estamos estarrecidos porque é de uma brutalidade sem precedentes. Como ratos, eles entraram na madrugada pegando todos de surpresa com um contingente militar e federal absurdo, que a gente não vê acontecer nem para bandidos. Nós somos servidores, concursados há muito tempo, sempre demos todo nosso empenho para essa casa e sermos tratados como bandidos é triste", ressaltou Maria Isabel.
A unidade deveria ter sido entregue ao Grupo Hospitalar Conceição na terça-feira (15) quando a descentralização na administração do hospital foi oficializada por meio de uma portaria publicada no Diário Oficial da União. No entanto, servidores, que já realizavam a ocupação desde o dia 2 de outubro, passaram a realizar um piquete impedindo a entrada dos novos gestores na unidade. Pacientes e funcionários circulavam normalmente.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que as equipes do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) ingressaram nas dependências do Hospital Federal de Bonsucesso de forma pacífica e sem nenhuma violência por volta de 6h.
Procurada pelo DIA, a Polícia Militar informou que agentes do Batalhão de Choque atuaram em apoio ao 22º BPM (Maré) e a Polícia Federal para a realização da desocupação do Hospital Federal de Bonsucesso. "A ação teve como objetivo restabelecer a ordem e garantir a segurança no local, assegurando a tranquilidade aos pacientes e funcionários, bem como a continuidade dos serviços hospitalares essenciais", comunicou a corporação. A polícia disse, ainda, que após a tentativa de invasão, as instalações foram vistoriadas e a situação encontra-se normalizada.
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