Publicado 23/10/2024 20:39 | Atualizado 23/10/2024 22:48
Rio - O motorista que atropelou e matou o pedreiro Carlos Eduardo Oliveira da Silva, de 32 anos, em Niterói, não tem carteira de habilitação e confessou em depoimento à Polícia Civil que dirige há pelo menos quatro anos de forma ilegal. Jhonatan Santos Fonseca, de 22 anos, conduzia um Corolla branco e transitava em alta velocidade na Estrada Francisco da Cruz Nunes, às 3h45 do dia 13 de outubro, como mostram as câmeras de segurança da região.
PublicidadeDevido à velocidade do carro, que pode ter ultrapassado os 120 km/h, o pedreiro foi arremessado a uma altura de 4 metros e morreu na hora. Jhonatan fugiu do local e, segundo o próprio depoimento dele, seguiu para o bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo, onde mora Cesar Augusto Souza, identificado como o dono do carro envolvido no acidente e amigo dele.
Ao amanhecer, Jhonatan e Cesar foram a uma oficina realizar reparos no carro, que teve a parte da frente destruída. Algumas peças, inclusive, foram trocadas antes do veículo passar por perícia na Polícia Civil. Ao ser interrogado, Jhonatan disse aos policiais que trabalha com compra e venda de carros e nunca se interessou em tirar a carteira de habilitação. Também afirmou que não consumiu bebida alcoólica na noite do atropelamento. Fato esse que não poderá ser comprovado, já que o motorista não passou pelo exame de alcoolemia nas 24 horas que antecederam o fato.
Mesmo após confessar ser o condutor e que estava dirigindo sem habilitação, Jhonatan saiu pela porta da frente da delegacia e vai aguardar o andamento do processo em liberdade. Aos familiares, o inspetor da 79ª DP (Jurujuba) alegou que no momento em que o motorista se apresentou à distrital ele já não podia ser preso em flagrante. Jhonatan se apresentou à polícia somente três dias depois do crime. Nenhum pedido de prisão também foi solicitado pela delegacia até o momento.
Em entrevista à reportagem de O DIA, o irmão de Carlos Eduardo, Thiago Oliveira, de 29 anos, contou que foi à delegacia e questionou os investigadores sobre o fato de Jhonatan seguir em liberdade. "A gente pediu uma explicação para isso estar acontecendo. Primeiro eu perguntei se eles iam investigar da onde o motorista partiu, se estava em algum bar bebendo ou algo do tipo, mas me informaram que as investigações partem do local onde meu irmão foi atropelado. Depois eu perguntei sobre as câmeras de segurança, mas as imagens que eles estão analisando são as imagens que nós da família entregamos", disse.
Veja as imagens do momento do atropelamento:
Thiago também abriu um procedimento na Prefeitura de Niterói para obter acesso às câmeras do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), mas ainda não teve retorno.
Pedreiro comemorava a carteira assinada
Familiares de Carlos Eduardo estiveram na 79ª DP no fim da tarde desta quarta-feira (23). Eles levaram cartazes e vestiram camisas com o rosto da vítima em protesto pela morte. Revoltados com a falta de celeridade das investigações, eles pedem por justiça.
Na madrugada em que foi morto, Carlos Eduardo, chamado carinhosamente pela família de Dudu, estava comemorando, pois sua carteira de trabalho havia sido assinada 24 horas antes da tragédia. Ele ia iniciar um trabalho como pedreiro e estava feliz com a oportunidade de ter um salário fixo e poder ajudar a família. Ele deixou três filhas de 11, 7 e 1 ano de idade.
"No sábado ele foi comemorar com os amigos e alguns parentes em um bar. Ele estava muito feliz com a conquista. O Eduardo sempre foi um menino gentil, trabalhador, respeitoso e alegre. Acabaram com a vida dele e a pessoa responsável por isso está solta. A gente não quer nada além de justiça", se indignou a tia do pedreiro, Lenimar Pereira, de 42 anos.
Taiane Souza, de 26 anos, é prima da vítima e denunciou que no local onde ele foi atropelado é comum acontecer 'rachas'. "No vídeo das câmeras de segurança dá para ver que um carro passa em alta velocidade e logo em seguida passa o carro que atropelou o Dudu. É nítido, é só analisar as câmeras. Não descartamos nada, nem que este carro estava envolvido nesse racha. Pode perguntar para os moradores de lá, é comum ter isso durante a madrugada. São adolescentes e jovens que bebem e pegam no carro", disse.
Também chamou a atenção dos familiares de Carlos Eduardo a frieza do motorista em conseguir voltar para casa depois do crime. "Como que uma pessoa consegue deitar no travesseiro sabendo que matou uma pessoa? Ele em nenhum momento voltou para socorrer meu primo. Quando ele fala que ficou com medo de ser linchado, é uma grande mentira. Não tinha ninguém na rua e isso fica nítido nas imagens", completa Taiane.
A Polícia Civil diz que a investigação sobre a morte de Carlos Eduardo Oliveira da Silva está em andamento na 79ª DP (Jurujuba) e é acompanhada pelo Ministério Público do Rio.
O que diz o motorista
A defesa de Jhonatan, representada pelo advogado Douglas Assis, disse que o cliente se apresentou de forma espontânea na delegacia, na tarde desta quarta-feira (16), informando a placa do veículo envolvido no acidente. "Ele demonstrou estar consternado com o acontecimento, prestou todo o esclarecimento possível e se comprometeu a comparecer sempre que for preciso para solucionar qualquer dúvida", disse a defesa do motorista.
Ao ser questionado na delegacia sobre o motivo de não ter parado para prestar socorro, Jhonatan disse que ao parar o carro logo à frente escutou gritos de pessoas dizendo: "Pega ele, pega ele". "Por isso ele se retirou do local, para resguardar a sua vida", disse a defesa do motorista.
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