Castro definiu como ato de terrorismo o ataque de criminosos do Complexo de IsraelReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 24/10/2024 19:25
Rio - O governador Claudio Castro (PL) definiu o intenso tiroteio que aconteceu durante uma operação da Polícia Militar no Complexo do Israel, na Zona Norte, na manhã desta quinta-feira (24), como um "ato de terrorismo". Três homens morreram e outras três pessoas ficaram feridas. A Avenida Brasil ficou interditada por duas horas.
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Em coletiva de imprensa realizada no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul, na tarde desta quinta, o governador afirmou que as mortes não aconteceram em decorrência de uma troca de tiros envolvendo policiais militares e sim porque criminosos atacaram pessoas inocentes deliberadamente para afastar os agentes.
"Foi uma operação de inteligência, uma operação que a Polícia sabia o que estava fazendo. Infelizmente, tivemos uma reação por parte do tráfico muito desproporcional, inclusive a outras ações que já foram feitas na Cidade Alta nos últimos meses. Nunca tivemos nada similar a isso. O que a gente viu foi um ato de terrorismo. Não dá para classificar de outra forma. É só ver como foi a configuração. A Polícia estava de um lado e a ordem foi atirar nas pessoas que estavam do outro lado. Não foi uma troca de tiros que acertou as pessoas. Esses criminosos atiraram a esmo para acertar pessoas de bem, que estavam indo trabalhar. Essa é a verdade. Inclusive, um dos ônibus alvejado era do outro lado da comunidade", disse.
De acordo com Castro, informações de inteligência indicam que as equipes chegaram próximo de um grande líder do Terceiro Comando Puro (TCP), que domina a região. O chefe da facção na região é Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, que segue foragido. 
"Situações como essa, terão uma resposta duras das nossas polícias. Não ficará impune terrorista que atira nas pessoas. Não foi confronto que teve hoje, foi terrorismo, assassinato e nós não toleraremos isso. Vamos continuar o nosso trabalho contra essas organizações criminosas. Quero me solidarizar às famílias e dizer que estamos trabalhando para que situações como essas não aconteçam mais", destacou.
O governador ainda garantiu que a região do Complexo de Israel com o policiamento reforçado por tempo indeterminado e que a Polícia Militar é orientada a usar toda a força necessária, como viaturas, helicópteros e motos. 
Ajuda do Governo Federal
Durante a coletiva, Castro disse que precisa de ajuda do Governo Federal no combate à entrada de armas e drogas no estado. Segundo o governador, há um plano de segurança em andamento e investimento sendo realizado nas áreas de ciência, infraestrutura e tecnologia das polícias, mas que não dá para fazer todo o trabalho sozinho.
Castro afirmou que as drogas e armas usadas pelo tráfico não são produzidas no estado, mas chegam através de portos, aeroportos e rodovias federais.
"A situação de hoje foi uma situação de terrorismo. Uma situação que demonstra o poderio bélico. Isso tem feito com que essas instituições criminosas aumentem o tom. As Polícias Civil e a Militar estão sozinhas. A crítica é muito mais ao sistema. Essa guerra se tornará mais difícil a cada dia. Essas armas e drogas não são produzidas no Rio. Precisa ter um controle rígido. Nós precisamos que esse controle de fronteira seja feito. Se nós não tivermos a verdadeira integração, dificilmente o resultado que se espera será atingido. Tem que ter uma ação coordenada para que essas armas parem de entrar aqui. Essa integração é fundamental para que a gente faça o verdadeiro combate na segurança pública, não deixar as armas e drogas entrarem e se livrar dessas facções criminosas", disse.
Mortos e feridos
O tiroteio causou a morte de três homens na região. Renato Oliveira, de 48 anos, estava dentro de um ônibus da Transportadora Tinguá, que fazia a linha 493 (Ponto Chic x Central), quando foi atingido por um tiro na cabeça. De acordo com um amigo da vítima, eles vinham de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para trabalhar no Rio, quando o coletivo em que estavam foi atingido por disparos e Renato baleado.
"Não deu tempo de chegar no emprego (...) Nunca passei por isso. A bala veio dentro do ônibus, vieram metralhando. Foi muito tiro, mesmo, só Jesus", lamentou Adonias dos Santos, 39.
Renato foi socorrido em estado grave e encaminhado ao Hospital Federal de Bonsucesso, onde passou por cirurgia. Ele estava sendo assistido pela equipe clínica e cirúrgica, inclusive de neurocirurgia, mas não resistiu.
Já o motorista de aplicativo Paulo Roberto de Souza, 60, chegou sem vida no Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com uma perfuração no crânio. De acordo com Júlio Santos da Costa, amigo da vítima, o homem estava com um passageiro em seu carro quando foi atingido. Paulo deixou filhos, netos e a mulher.
"A bala entrou por trás do carro e pegou infelizmente na cabeça dele. O passageiro socorreu, ajudou e veio até aqui junto com o policial. Infelizmente, ele veio a óbito. Sai cedo para trabalhar e acontece isso. Era uma pessoa honesta e trabalhadora. Tinha uma amizade com ele há muitos anos. O Rio está isso aí, esse tiroteio constante em uma guerra. Agora é procurar de onde veio essa bala e prender os marginais", disse Júlio.
O motorista de caminhão Geneilson Eustaque Ribeiro, 49, também deu entrada no Hospital Municipal Doutor Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, depois de ser baleado na cabeça durante o confronto. A vítima foi entubada e transferida para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, na mesma cidade, mas não resistiu.
De acordo com a prefeitura, ele foi encaminhado diretamente ao centro cirúrgico para procedimento de craniectomia descompressiva, mas devido a gravidade do ferimento, Geneilson morreu. Ele era funcionário da Secretaria Municipal de Educação e estava fazendo entrega de material para escolas do município. Por meio das redes sociais, Renan Ferreirinha, secretário da pasta, lamentou o ocorrido. 
"Geneilson tinha 49 anos, chegou a ser socorrido, passou por cirurgia, mas não resistiu e faleceu. Ele deixa uma esposa, uma filha de 10 anos e um filho de 23. Hoje é um dia muito triste para a educação do Rio, no meio dessa guerra urbana que vivemos no estado. Outro profissional da secretara também foi atingido enquanto estava no ônibus, a caminho da escola para poder trabalhar. Precisou passar por uma cirurgia e nós estamos aqui na torcida para que ele se recupere bem. Mas a pessoa que estava sentada ao seu lado não resistiu, morreu com um tiro na cabeça enquanto dormia", disse Ferreirinha através de um vídeo publicado em seu perfil no Instagram. 
Outras três pessoas ficaram feridas: Alayde dos Santos Mendes, 24, foi baleada na coxa direita e já recebeu alta do Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo. Um homem, atingido no antebraço, também já deixou o Hospital Federal de Bonsucesso. Apenas um outro homem segue internado na unidade com um ferimento na região glútea.
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